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13/09/2019 às 14h55min - Atualizada em 13/09/2019 às 14h55min

Homofobia no ambiente de trabalho afeta diretamente no rendimento dos profissionais

Medidas devem ser tomadas para garantir inclusão no ambiente de trabalho e punição de infratores

João Marques - Edição: Giovane Mangueira
Imagem: Reprodução internet
Profissionais de diversas áreas têm relatado serem vítimas de homofobia dentro do local de trabalho. Alguns veem no que é dito como suposta brincadeira, o preconceito. Como consequência, homens e mulheres do público LGBT contam sofrer preconceito para ingressar e se manter no mercado de trabalho por conta de sua orientação sexual. Além dos casos de agressões físicas e verbais, há várias consequências psicológicas, segundo especialistas.

Marcos* tem 22 anos e há três, trabalha em uma clínica veterinária em São Bernardo do Campo, município de São Paulo. Não só no atual ambiente onde passa grande parte do seu dia atualmente mas também no emprego anterior, conta que sempre sofreu intimidações e exclusão dos demais funcionários por conta de sua orientação sexual. Com isso, seus dias são marcados por total insegurança. “Eu sinto isso todos os dias. Além de piadas com a famosa homofobia velada, percebo que por ser o único gay no local, as pessoas me olham com desdém, me tratam de forma diferente além de vários comentários sarcásticos em tom de piada”, desabafa.

Ele conta também sentir dos que deveriam ser colegas de trabalho, preconceito ao diminuí-lo sempre, tratando como inferior por ser gay. Sem contar os olhares negativos contra ele. “O sentimento é de exclusão total. Parece que meu trabalho nunca é bom o suficiente e que por ser gay os olhares se voltam pra mim sempre de forma negativa” revela.

Mas ele não é o primeiro que sente excluído do ambiente de trabalho, sofrer agressões verbais e às vezes físicas ou dificuldade em entrar e permanecer no mercado de trabalho. Há vários casos que não são registrados e muitos  são considerados como “brincadeiras” e não entra nas estatísticas.

Tauan Mendonça, que é headhunter e atua na procura de profissionais ou executivos talentosos para as corporações, conta sobre os benefícios das empresas que valorizam as diferenças. Segundo ele, grupos diversos, com origens e experiências multuas geram resultados muito mais eficientes e produtivos. “Funcionários que trabalham em empresas que possuem, por exemplo, grupos de suporte, e não são discriminados, se sentem inseridos na cultura da empresa e trabalham de uma forma muito mais eficiente. Além disso, a sociedade e o negócio criam um olhar da companhia com muito mais aprovação. O próprio consumidor passa a consumir muito mais os produtos e a marca”, explica. 

O psicólogo comportamental Emerson Viana, ressalta que as principais complicações com os casos de homofobia vão desde o desanimo, desatenção no trabalho, desmotivação, até coisas mais complicadas, como agressões a pessoas em geral, raiva, ansiedade, angustia, sentimentos de exclusão, insônia e até  depressão. “Algumas pessoas ainda conseguem “suportar” essas situações devido à necessidade financeira, mas não conseguem quebrar esses processos psicológicos e acabam procurando ajuda psicológica. Com essas atitudes, grandes profissionais acabam desenvolvendo dificuldades na produção de seu trabalho e podem até parecer estranho para os leigos, mas preconceito no trabalho tem levado excelentes profissionais a cometerem erros primários devido à falta de concentração, ansiedade e mal estar causados pelo preconceito sofrido na empresa”, descreve.

Douglas Calvo, advogado com mais de 17 anos de atuação na área trabalhista em São Paulo, conta que uma das áreas das empresas que têm grande importância na luta pela igualdade, é a área dos recursos humanos. “Para um ambiente de trabalho saudável, e livre de preconceitos é imprescindível que a empresa possua em seus valores, a cultura da diversidade”, explica.

O advogado recomenda as empresas para criarem um canal de ouvidoria de forma anônima para os empregados que se sentirem lesados ou desrespeitados, através de e-mail, número de telefone ou até mesmo nomeando alguém de com cargo superior da equipe de RH, como um gerente. E após a denúncia seja adotada atitudes necessárias que vai de aplicação de medidas disciplinares ao colega ofensor, ou até mesmo demissão por justa causa em caso de conduta reiterada ou dependendo da gravidade do fato.

Caso o empregador não adote nenhuma providencia, a vítima pode ingressar com uma reclamação trabalhista, requerendo a rescisão indireta do contrato de trabalho, comprovando a omissão do empregador e, ainda, pleitear indenização por danos morais em face do empregador, e a apuração do crime de preconceito contra o colega que o ofendeu. “Cabe observar que o empregador que for condenado a pagar indenização ao empregado por conta de um outro empregado, poderá vir em ação de regresso contra o agente causador do dano, visando ressarcir-se do valor dispendido”, explica o Douglas.

Com tantos casos que acontecem a todo o momento é preciso separar o que parece ser brincadeira mas acaba sendo preconceito. A homofobia dentro e fora do ambiente de trabalho é uma realidade que precisa ser discutida e combatida por todos da sociedade.

* Nome fictício pois o entrevistado preferiu não ser identificado por questões de segurança dentro da empresa onde trabalha.

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