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26/09/2019 às 10h45min - Atualizada em 26/09/2019 às 10h45min

A periferia é cool, a periferia também é GEEK

Uma resenha sobre a série de reportagens 'Perifa Geek', da Rede Globo - SP

Fernanda Simplicio - Editado por Bárbara Miranda
Fonte: G1/ Rede Globo
O mundo das histórias em quadrinhos apresenta muito mais do que super-heróis ou histórias interessantes, muitas vezes, ele também traz universos elitizados, com personagens super ricos, como o Bruce Wayne (nosso fabuloso Batman), jornalistas bem-sucedidos, como o Clark Kent (Super-Man) ou mesmo ser um gênio, bilionário, playboy e filantrópico, Tony Stark (Homem de Ferro).
 
E assim, com esses números financeiros altamente inflados, é visível o reflexo da criação do seu público. A Cultura Geek, apesar de inspirar a se tornar corajoso, forte e imponente, acaba também refletindo na distribuição financeira do seu público, fazendo com que o acesso a essa cultura também se torne mais viável para quem tem mais poder aquisitivo. E na periferia? Como é que “rola” essas informações de super-heróis? Como atingem e como refletem no seu cotidiano?
 
A periferia é uma grande consumidora deste universo, não apenas por seus anseios, mas pelo simbolismo e representação que ele pode agregar (para além do mundo financeiro). Pensando nisso, a Rede Globo apresentou no seu programa televisivo diário SPTV (programa jornalístico diário de São Paulo), uma série de reportagens especiais para dialogar com a população paulista um pouco mais sobre essa cultura que abrange tantos simpatizantes.
 
A série Perifa Geek foi composta por três episódios distribuídos em três dias da semana, entre 11 a 13 de setembro, elaborados por Guilbert Reino, que mostrou um pouco da atuação dessa cultura nas áreas periféricas da capital paulistana. O primeiro episódio trouxe um olhar diferenciado sobre duas composições do cotidiano da periferia, o Rap e o Universo Geek. Na reportagem, são apresentados o editor de vídeo Gil ‘Load’ Santos, do bairro de Guaianazes (extremo leste da cidade de São Paulo) e o ilustrador Wagner ‘Loud’ Ramari, do bairro de Pirituba, Zona Oeste de São Paulo. O que esses dois tem em comum? Eles tocam juntos o projeto “Rap em Quadrinhos”, responsável por transformar grandes ícones do rap brasileiro e mundial em personagens de histórias em quadrinhos, principalmente super-heróis.
 
Mano Brown se torna o Pantera Negra, Emicida no Homem-Aranha e o Criolo como Punho de Ferro. As histórias contadas nestas HQs retratam o cotidiano das favelas paulistanas, como os isso reflete na identificação das pessoas destas localidades no papel, sendo retratadas conforme são. A sensibilidade desta reportagem evidencia que a periferia busca sua voz e representação, que ela não quer como referências apenas a galerinha elitizada de Gothan City, ela busca viver o seu cotidiano também no seu “mundo de fantasia”.
 
O segundo episódio trouxe um pouco sobre como essas inspirações geram oportunidades para as pessoas, principalmente para os jovens, que são a maioria neste público-alvo e buscam sempre uma especialização dessa área, seja por conteúdo ou até mesmo para desenvolver um produto. É o caso da galera que frequenta uma escola de desenho no bairro Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo. Eles aprendem a profissão de desenhista a baixo-custo, com redução de 80% do valor da mensalidade para um curso dessa modalidade na região, a fim de propagar ainda mais a arte para a periferia. Além dele, existe um casal super descolado criou um estúdio gamer na sala de casa, na Zona Norte, no qual eles desenvolvem jogos de videogames e computadores com a realidade das periferias paulistanas, trazendo elementos visuais e contextuais.
 
Na última reportagem da série, foi mostrado como o ex-operador de caixa, Wellington Silva passou a ser o sócia do Pantera Negra, com fantasias desenhadas por ele mesmo e costuradas por uma costureira do seu bairro, na Zona Sul de São Paulo. Fora que o último episódio falou um pouco sobre o evento mais impactante para as periferias nos últimos tempos, o ‘PerifaCon’.
 
 O PerifaCon é um evento que reúne os públicos geeks de todas as periferias da cidade de São Paulo em uma espécie de convenção, que traz autores de HQs, palestras, oficinas e muita cultura nerd junta, dentro da periferia. A primeira edição do evento aconteceu esse ano, na Casa de Cultura situada no Capão Redondo. Ele é, sem sombra de dúvidas, um evento que traz o debate sobre a cultura nerd/geek para essa população que não está no topo da elite. Essa “galera” também consome esse tipo de informação, e além de consumir, ela também é geradora de conteúdo. A periferia, como representada na série de reportagens, é um canal de entrada e fluxo financeiro gigante para essas histórias. E para esses consumidores, essas histórias são o passaporte para transformar seu mundo, seja ele de fantasia ou mesmo o mundo real, refletindo na própria realidade os comportamentos e aprendizados dos seus personagens prediletos.
 
A segunda edição do PerifaCon já tem data marcada, nos dias 11 e 12 de abril de 2020, no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo.
 
Em todo esse contexto, é válido lembrar que a periferia é cool, a periferia também é geek em diversos aspectos, principalmente na geração de conteúdos e de fãs, que são os verdadeiros responsáveis para tudo isso existir.
 

REFERÊNCIAS
 
REINO, Giulbert; MIGUEL, Camila. ‘Perifa Geek’ – Ilustradores de SP transformam rappers brasileiros em super-heróis de quadrinhos. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/09/11/perifa-geek-ilustradores-de-sp-transformam-rappers-brasileiros-em-super-herois-de-quadrinhos.ghtml>. Acesso em: 25 de set. 2019.
 
REINO, Giulbert. ‘Perifa Geek’ – Nerds da periferia de São Paulo fazem da cultura pop uma profissão. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/09/12/perifa-geek-nerds-da-periferia-de-sao-paulo-fazem-da-cultura-pop-uma-profissao.ghtml>. Acesso em: 25 de set. 2019.
 
REINO, Giulbert. ‘Perifa Geek’ – Pantera Negra do Campo Limpo largou emprego para ser cosplay profissional. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/09/13/perifa-geek-pantera-negra-do-campo-limpo-largou-emprego-para-ser-cosplayer-profissional.ghtml>. Acesso em: 25 de set. 2019.

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