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07/10/2019 às 17h25min - Atualizada em 07/10/2019 às 17h25min

Mesmo não sendo uma ideia que partiu dos grandes clubes, vale a pena compartilhar a iniciativa

Maicon Sutil - Editado por Letícia Agata
Capivara Esporte Clube

Esportes e comunidade LGBTI+ combinam? Não só combinam como tem alguns times compostos por lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais. É o caso do Capivara Esporte Clube (CEC), de Curitiba (PR), que existe desde novembro de 2016 e já participou de alguns campeonatos, como a Queer Cup.

No CEC há times de futebol poliesportivo, handebol e vôlei com times compostos pelos gêneros masculino e feminino. O Capivara é um clube poliesportivo com pessoas LGBTIs, mas também com pessoas heterossexuais, justamente para incluir a diversidade em seus times. “É um time que prega como bandeira a inclusão através do esporte”, diz o  presidente do Capivara Esporte Clube, Juliano Cerci.

Juliano diz que o time “nasceu” sem o propósito de ser um time grande como é hoje em dia. O CEC começou quando Juliano estava jogando na praia com os sobrinhos, em meio a uma conversa. "Nessa conversa a gente chegou a conclusão de que deveria tentar montar um time gay. A princípio era só gay de futebol”, explica.

O objetivo era criar um time só com pessoas LGBTIs, mas que sempre foi aberto para os heteros jogarem junto com eles. Para ele, a criação dos times de futebol masculino e feminino era para ser um espaço saudável, no qual todos pudessem se sentir bem consigo mesmos.

“Todos são bem vindos, independente da orientação sexual, sua sexualidade, forma de se expressar, ser afeminado ou não. É onde as pessoas pudessem ser elas mesmas para praticar o esporte junto conosco”, ressalta.

Mas engana-se quem pensa que são times apenas de pessoas que nunca jogaram na vida. Há jogadores profissionais (não necessariamente LGBTI), principalmente no handebol e que já participaram de outros esportes e/ou times antes de entrar no CEC.

Atualmente a dificuldade deles é com o público transexual, sendo que a maioria de seus jogadores é de lésbicas, gays e bissexuais. Juliano, entretanto, espera que com a parceria com o Transgrupo Marcela Prado, eles consigam ter uma representatividade transexual maior do que já têm. 

“Levamos quase dois anos para ter o primeiro time com representatividade só de mulheres, que é o futebol feminino. A gente ainda tem um longo caminho até ter representatividade efetiva de todas as letras desse alfabeto LGBTQIA+”, diz.

Mas como nem tudo são flores e não vivemos apenas de sucesso e inclusão em ambientes que são frequentados por pessoas LGBTIs, houve uma polêmica onde o CEC disputou a Queer Cup (campeonato LGBTI de esportes em geral). Juliano disse que esta foi a maior polêmica que o Capivara sofreu.

O primeiro campeonato de handebol gay que foi disputado quando o time completou dois anos foi a Queer Cup, em Curitiba, em uma associação. Juliano falou para a equipe da Entreverbos que a confusão se deu por causa de um beijo dado por um casal homossexual fora da quadra, onde estava acontecendo a disputa do jogo, e as pessoas que estavam presentes no local não gostaram e disseram que eles não podiam se beijar em público. 

“Aí começou um bate boca. Graças a Deus que não foi pra agressão física, mas rolou um bate boca, e aí a gente fez um beijaço e todo mundo se beijou na frente das outras pessoas ali pra garantir nosso direito de ser quem a gente é, inclusive em áreas comuns sociais de um clube. Então, dessa história ruim acabou tendo uma questão interessante, que depois foi o posicionamento dessa associação rechaçando esse tipo de atitude, por parte dos associados, que não corroboram com atitudes extremistas, machistas, LGBTIfóbicas e tudo o mais”, complementou Juliano.

 

Homofobia nos estádios e a decisão do juiz em paralisar partida

Recentemente, o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) criou uma regra na qual diz que o árbitro (juiz de partidas de jogos) pode paralisar a partida ao ouvir comentários homofóbicos e/ou machistas contra os jogadores vindos de torcedores de qualquer time.

Um dos casos de paralisação da partida por este motivo foi no jogo do São Paulo contra o Vasco, no dia 25 de agosto de 2019, pelo árbitro Anderson Daronco, que obedeceu a ordem do STJD, levantando polêmica por parte de torcedores que foram pegos de surpresa pela decisão de paralisar a partida.

Os torcedores ainda ironizaram a decisão de Daronco, dizendo que o “fim do futebol raiz” chegou e que a Fifa e a CBF querem acabar com a diversão das arquibancadas. Vale ressaltar que a homofobia já é crime desde maio deste ano e isso prevê multa e prisão de três a cinco anos, enquadrado na Lei do Racismo.

Juliano afirma que tal posicionamento da CBF foi bem-vindo no momento atual, no qual a homofobia escancarada em estádios. “Vem de forma até tardia. A gente já devia ter esse posicionamento da CBF muito antes e é muito válido. Precisa corrigir certas distorções que existem dentro do futebol ainda”, ressalta.

“A gente brinca que o estádio de futebol é terra sem lei, onde acontece de tudo, de situações absolutamente desprezíveis do ser humano de chamar outra pessoa do time adversário ou o juiz de viado, de macaco, de formas ofensivas, onde esse tipo de comportamento não é aceito de forma que já não é aceito nos ambientes extra-estádios de futebol”, finaliza.

 

Times LGBTIs no Brasil 

No vôlei é mais comum termos a presença de LGBTIs, mas no futebol também temos essa representação “colorida” em campo. Exemplo disso foi o já citado Capivara Esporte Clube, além de alguns outros espalhados pelo Brasil, país que mais mata LGBTIs no mundo.

Em Curitiba, além do CEC, existe também o time Thunders, o time de vôlei e o Tah Boa, que tem apenas o futebol masculino formado por gays e bissexuais. 

Abaixo alguns times LGBTIs nacionais:



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