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07/10/2019 às 17h50min - Atualizada em 07/10/2019 às 17h50min

Passos para o sucesso

Vitor Silva Lima - Editado por Socorro Moura
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Não falo nada porque não sou sem assunto. Não sou de me enturmar não porque sou arrogante. Não levanto a mão na aula não porque não tenha nada a dizer. Tudo isso não é por querer, mas por um traço meu, cujo nome é timidez.

Vidas diferentes, destinos complexos, rotinas marcadas no tempo...Assim via Eustáquio. Ele já era um adolescente, um pouco deslocado na vida, mas tinha seu jeitinho pra tudo. Seu cabelo era encaracolado lembrando vários redemoinhos. Morava com os pais, passavam dificuldades, mas ainda sim eram felizes.

Ele morava no sertão seco e quente; andava todos os dias cinco quilômetros no Sol ardente, com suas chinelas gastas e pés rachados. Tudo isso para ir a escola. Sempre que via a escola ía correndo entrar, fazia questão de gastar um minuto ou dois tomando água no bebedouro que tinha logo na entrada. Seus colegas sempre faziam brincadeiras sem graça com ele. Para eles, Eustáquio era um louco, andava duro quando passava pelas pessoas, não falava com ninguém, e entrava na sala. Todos os dias era a mesma coisa, ele até pensava em largar a escola para ajudar seu pai com o gado, mas ele só não fazia isso porque nessa mesma escola havia uma garota da qual ele era apaixonado.

O garoto sentia sempre um frio na barriga quando via a menina, irônico até, para uma região castigada pela seca e calor infame. Nunca falava nada, sempre era o mais calado da turma. A professora achava até que no começo o menino era mudo. Mas a primeira frase dita por Eustáquio na aula da professora Zuleide foi: "Quando chegar a hora do intervalo você avisa, porque eu tô brocado de fome e ainda não tomei café lá em casa".

Dona Zuleide nunca se esqueceu de tais palavras ditas pelo garoto, pois ele era um dos alunos mais carentes da escola municipal flor do sertão. Como ele quase nunca tinha fartura em casa, buscava conforto na escola; a hora do lanche era seu horário predileto. Mas não pense que ele não era tímido pra comer, pois até para isso ele era acanhado. Não conseguia comer na frente de tanta gente olhando para ele, ía sempre para debaixo de um pé de caju que ficava no pátio de trás da escola só para comer em paz. Mas foi justamente em uma dessas fugas do refeitório que o garoto quase morreu de emoção: sabe a garota que ele é afim? Então, ela, nesse dia, decidiu que não ia mais comer no refeitório, pois não aguentava mais o calor que lá fazia. Com tanto vapor saindo da cozinha era difícil não sentir agonia. 

A essa altura, Eustáquio já chegara ao pé de caju e se deitara para comer, pois é, comia deitado, o garoto era arretado de peculiaridades. Para a surpresa, espanto, e ataque do garoto, sua paixão chega e o vê deitado. Então pergunta:

- "O que um rapaz tão bonitinho faz distante das outras pessoas?", disse Rosa, o nome da garota.

Eustáquio que não é bobo nem nada logo retrucou, dizendo:

- "Arre égua, na se pode mais comer em paz não?", disse ele em tom irritado. Rosa levou um susto com a pergunta do garoto, mas não se incomodou. Ela gostava mesmo era de uma companhia a dois. 

O pobre menino travou todo, não sabia se engolia a carne seca que tinha no prato, ou se engolia seco por estar na presença de Rosa. Ela então perguntou o porquê de ele ser desse jeito, não conseguia entender a maldade dos outros garotos. Eustáquio disse que não ligava, pois para ele na tinha importância. Então, Rosa teve uma ideia, decidiu que ajudaria o garoto a perder sua timidez, em troca, se ele conseguisse, Rosa daria um beijo em Eustáquio. O menino concordou na hora. 

Desde aquele dia, Rosa visitava Eustáquio em sua casa, ensinava postura e firmeza ao verbalizar, tudo para que o menininho acanhadinho do sertão se soltasse. Depois de vários dias ensinando Eustáquio, ele decidiu que começaria a fazer aquilo tudo sozinho. Movido por uma paixão incontrolável por Rosa, tudo por um beijo da amada garota do Sertãozinho. Eustáquio então começou a ganhar o apoio de seus pais, sentiram mais firmeza nas falas do garoto, notaram uma grande diferença em seu caminhar, começou a andar mais firme e seguro de si. 

O sol a caminho da escola já não era um problema para ele, pois a sua paixão causava um frio especial no peito do jovem. Agora quando chegava na escola, falava com o pessoal com mais tranquilidade e leveza no olhar, os seus colegas que antes o julgavam agora admiravam a coragem do rapaz. Falavam para si mesmos que quando tomassem jeito na vida queriam ser que nem Eustáquio, firme, cabra macho do sertão. E a melhor parte: sabe a Rosa? Pois é, ela todo dia o esperava na hora do intervalo debaixo do pé de caju, não para comer somente, mas para lhe dar a alegria que antes o acanhadinho garoto de uma terra seca não conhecia, o amor

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