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10/10/2019 às 22h26min - Atualizada em 10/10/2019 às 22h26min

A cronista gastronômica

Nina Horta, referência nacional no quesito gastronomia

Éverton Anunciação - Editado por: Michelle Ariany
Raquel Cunha / FolhaPress
Belo Horizonte, Minas Gerais, 1939. Sudeste brasileiro. É de lá que vem Nina Horta, uma mulher que anos mais tarde seria a cronista de gastronomia mais respeitada e conhecida do Brasil. Nina Horta mudou-se para São Paulo, onde cursou Filosofia na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo - USP. Depois fez uma pós-graduação na mesma área.

Horta com toda a criatividade na escrita e amor pela cozinha abre um buffet que transforma o modo de fazer comida, melhor dizendo, revoluciona o modo de como enxergamos a gastronomia. Ginger nasce com um conceito novo de buffet na região paulista, um ambiente de aromas e sabores refinados, espaço a qual Horta era sócia junto com Andrea Rinzle, manteve negócio, até 2012.

Comida de alma era a sua filosofia. Em 27 de setembro de 1987, Nina estreia no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo, assinou a sua primeira matéria sobre os preparos do churrasco. No decorrer dos anos foi desenvolvendo a sua marca, o seu estilo ímpar, não focava tanto na técnica (mesmo em suas crônicas trazendo detalhes), mas, sim na essência do cozinhar, no prazer e até no sentir. Isso sim, ela apreciava.

Ah! Odiava suspiro, ainda mais, quando as pessoas ou até mesmo, os próprios leitores lhe solicitava a receita por e-mail. Ganhou mais notoriedade e fama após a publicação de sua obra, intitulada “Não é sopa”, uma coletânea de textos publicados pela Folha de São Paulo, em 1995. Em 2002, lançou o livro “Vamos comer”. Treze anos depois, em 2015, apresenta o "Frango ensopado da minha mãe", a qual ganha o prêmio Jabuti nesse mesmo ano.

De tudo isso, o que Horta mais amava era o seu sítio, em Paraty, no Rio de Janeiro. Uma grande área verde, sua casa de madeira com várias portas, um espaço onde fazia a própria farinha, o cheiro da terra a agradava, um lugar de muitas flores, mas o que a encantava, era o contato com a natureza. A simplicidade se tornava riqueza nas mãos e na mente de Nina.

Nina Horta arrastava uma multidão de leitores, também nas redes sociais, tinha seguidores fiéis. Admirada e referência para muita gente, principalmente, aos amantes da culinária e os críticos de gastronomia.
Uma das coisas que amava, era colecionar louça, de todos os tipos, para onde viajava trazia uma na mala. Isso fazia parte da sua memória afetiva. Além disso, ela escolheu três objetos que a definia, sendo a biblioteca, a panela e o jornal!

A biblioteca representava a sua bagagem literária, foram elas responsáveis por aguçar o seu paladar e gosto pela cozinha.
A panela feita de ferro fundido por fora e a cerâmica branca por dentro simbolizava a lentidão no ato de cozinhar em fogão à lenha. O calor da fogueira na manutenção do calor por muito mais tempo.
Já o jornal representava toda a sua história construída na Folha de São Paulo, o que ela a caracterizava como “o resto da minha vida, meu mais precioso orgulho”.

Em 06 de fevereiro deste ano foi a uma última vez que escreveu na coluna de gastronomia da Folha. A qual escreveu sobre a única casa de Brumadinho, Minas Gerais. A senhora de cabelos brancos de 80 anos, óculos, alegre, de uma voz suave e encantadora, mineira, cronista de gastronomia, uma pessoa de um texto invejável, deixa um belo legado e foi para um horizonte descansar.

Assim como registrou a tragédia de Brumadinho de uma forma leve e tranquila, extraindo o lado bom da história escolhemos o momento de glórias para relembrar desta colunista. A casa simples que ela contou na sua última publicação na Folha de São Paulo, retratou a sua marca no modo de contar histórias relacionadas a gastronomia.

Nina Horta faleceu no último domingo, 06, após sofrer de uma infecção generalizada. Ela lutava contra o câncer. Horta deixa três filhos, dois netos e um bisneto.

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