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24/10/2019 às 17h58min - Atualizada em 24/10/2019 às 17h58min

Movimentos femininos atuam contra a violência nos estádios

Atleta, torcedora, cônjuge ou parente: as mulheres são constantemente alvos de hostilidade e agressividade no âmbito esportivo

Paula Sant Ana - Editado por Paulo Octávio
Seleção Feminina reúne rivais palmeirenses e corintianas nas arquibancadas do Pacaembu. Foto: Divulgação Verdonnas/ Instagram

Há quem diga que o futebol é um esporte democrático e que todos tem direito de opinar e comentar nas mídias sociais e em rodas de conversa. Mas muitos não dao essa opção para as mulheres, que constantemente são alvo de violência e assédio. Recentemente diversos casos evidenciaram ainda mais o quão machista e hostil pode ser o esporte mais amado pelos brasileiros. A masculinização do futebol é grande precursora da impunidade, já que constantemente homens usam de forças “morais” para justificar atos indecorosos. Frases do tipo 'lugar de mulher é na cozinha', 'Maria macho', 'Vai lavar uma louça', estão entre as falas mais proferidas.

Atitudes machistas podem não ser algo praticado exclusivamente por homens. Por vezes, até mesmo as mulheres chegam a agir de forma pejorativa. Em 21 de julho deste ano, uma torcedora do Internacional chegou às vias de fato contra uma torcedora do Grêmio, ao fim de um Gre-Nal, no estádio Beira-Rio. Na ocasião, a gremista foi xingada e levou tapas, na frente de seu filho pequeno, enquanto dançava com a bandeira de seu time. O ocorrido foi no fim do jogo, que tinha torcida mista. O palco, que era para ser de grande beleza, ficou manchado dessa forma.

Em vídeos divulgados nas redes sociais, a agressora estava junto de homens vestidos com camisas do Inter. Enquanto Tais Dias, a moça agredida, estava apenas com seu filho pequeno. A atitude teve repercussão. Renata Fan, apresentadora do programa Jogo Aberto, da TV BAND, se pronunciou sobre o ocorrido. “Tem que ter bom senso. Qualquer torcedor que vai ao estádio sabe que algumas regras são seguidas. A gente não chegou neste nível de civilidade ainda.”

Bhel Dietrich, esposa do volante Bruno Henrique, também foi alvo de violência. Ela foi xingada e empurrada por uma dezena de palmeirenses, em uma lanchonete, na Arena da Baixada. É a segunda agressão sofrida pela Dietrich. Pouco mais de um mês antes, o casal caminhava em São Paulo, quando um grupo decidiu “cobrar” o jogador do Palmeiras. Bhel rebateu as críticas e ficou mais conhecida do que outrora. Então, dia 20 de outubro, um grupo partiu para cima da esposa do volante. Em nota, o clube se pronunciou contra as agressões. Confira:

 

“A Sociedade Esportiva Palmeiras repudia veementemente o deplorável e constrangedor episódio ocorrido na saída do estádio neste domingo, após a partida contra o Athletico, em Curitiba, envolvendo a esposa do jogador Bruno Henrique e sua família.É inadmissível que aconteçam situações lamentáveis envolvendo ataques de supostos torcedores a atletas, comissão técnica,  dirigentes e seus familiares. O clube está dando todo o suporte necessário ao jogador e sua família.”


Isso não acontece só no Brasil. No amistoso entre Houston Dash  x Tigres, no dia 05 de outubro, Sofia Huerta, meio-campista do Houston, teve seus seios apalpados enquanto tirava uma selfie. Depois da grande repercussão, a imagem circulou o mundo e fomentou ainda mais as críticas à atitude. Os dois times se pronunciaram contra o assédio em suas  redes sociais. O homem foi banido de frequentar o estádio após ser identificado através de reconhecimento por fotos.

Para combater essa onda de violência, o número de movimentos femininos tem aumentado. O medo de ir ao estádio, de andar sozinha com a camisa do time do coração e a luta contra o assédio estão entre os principais fomentadores. A causa parece finalmente surtir efeitos naqueles que regem o futebol, grandes clubes e dirigentes, além de patrocinadores e a própria mídia. 

Dentre esses, podemos destacar:

VerDonnas: Em setembro de 2018, após uma agressão contra duas torcedoras do Palmeiras ser gravada e noticiada, um grupo de 11 mulheres se uniu e resolveu criar a iniciativa. Um coletivo para estimular maior participação de mulheres para acompanhar o Palmeiras. Atualmente, a página do Instagram possui 9,3 mil seguidores e o Twitter, cerca de 4 mil. Informações gerais como encontros em dia de jogos, sorteios, parcerias, ações sociais são publicadas nas redes sociais. Em dias de jogos, as participantes do movimento costumam se encontrar para assistir o jogo próximo ao Allianz Parque. Por agora, a loja Tifosi Spazio tem sido o ponto de encontro.

São Pra Elas: Desde novembro de 2017, o lema “pelo orgulho de ser mulher, pelo orgulho de ser São Paulo”  vem crescendo e ganhando espaço. Tudo começou na internet, por causa da falta de opções de camisas e outros materiais esportivos femininos. Então, um grupo de torcedoras se uniu e criou a hashtag #SãoPaulinasUniformizadas, o que mudou o vestuário do clube. Em 2018 a luta por espaço na arquibancada iniciou, mas só em 2019 o nome São PraElas tornou-se a identificação do grupo. O movimento é organizado através de grupos no WhatsApp e Facebook, onde marcam encontros e criam vínculos entre si.  A página do Instagram conta com 8,5 mil seguidores e é a rede social mais utilizada para divulgar os pontos de encontro e as notícias relacionadas a parcerias e novidades em geral.

Movimento Alvinegras: Mais uma iniciativa que veio para trazer a mulherada para os estádios. A comunicação também é feita através de redes sociais - Grupo e página no Facebook, com 3 mil e 11 mil interações, respectivamente. No Instagram, a conta já ultrapassa 8 mil seguidores. O Corinthians constantemente divulga posts sobre a luta das mulheres corintianas, a famosa hashtag #RespeitaAsMinas veio para ficar.

Bancada das Sereias: O time do coração da rainha Marta não podia ficar de fora dessa. Apesar de não ser da capital, o Santos exerce importância em São Paulo. É o mais recente grupo de mulheres nas arquibancadas, mas já com grande visibilidade. Criado em janeiro deste ano, o Instagram possui cerca de 5 mil seguidores e o grupo no Facebook pouco mais de 100 membros.

 


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