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07/11/2019 às 10h45min - Atualizada em 07/11/2019 às 10h45min

Resenha: Holocausto Brasileiro - Daniela Arbex

Livro reportagem escrito pela jornalista mineira Daniela Arbex retrata como era vida dos pacientes no maior hospício do país

Talyta Brito - Editado por Socorro Moura
https://www.amazon.com.br/Holocausto-Brasileiro-Daniela-Arbex-ebook/dp/B07NF7KNP3

“Os loucos somos nós”, foi a conclusão que chegou Eliane Brum, jornalista que assina o prefácio do livro de Daniela Arbex, ao ter conhecimento do que se passava dentro dos portões do Colônia – maior hospício do Brasil. Ao longo de 14 capítulos, o leitor é direcionado ao longo do século XX, período de funcionamento do hospital. A instituição situada em Barbacena (MG) recebia pessoas de todas as partes do país, a grande maioria delas vinha de trem. Tal prática foi mudada em 1979, quando o médico Jairo Toledo assume a coordenação. “Outra mudança no hospital foi regionalização do atendimento. Apenas o sul de Minas, a Zona da Mata e as vertentes poderiam enviar pacientes para Barbacena”.

O que mais choca são os motivos que levavam a internação. Timidez, homossexualismo, prostituição, perda da virgindade antes do casamento. Muitas ordens de internação não partiam de médicos, “várias requisições de internação eram assinadas por delegados”. Arbex desabafa que “ao receberem o passaporte do hospital, os passageiros tinham sua humanidade confiscada”. Os pacientes tinham os cabelos raspados, perdiam os pertences pessoias, eram obrigados a usar um uniforme azul – única peça de roupas que muitos possuíam.


A estrutura interna da instituição era precária, não havia água potável e devido a superlotação as camas foram substituídas por capim. A comida servida era de péssima qualidade, o que gerou a revolta de uma paciente. “Senhor diretor, prove este café. Se servir para o senhor tomar, também serve para as pacientes". Conceição Machado foi mandada para o Colônia aos 15 anos de idade por reivindicar a mesma remuneração recebida dos filhos homens.

Em períodos de superlotação, o hospital chegou a contabilizar uma média de 16 mortes por dia. Entre os anos de 1969 e 1980, inúmeros corpos foram vendidos para 17 faculdades de medicina sem o consentimento das famílias. “Quando os corpos começaram a não ter mais interesse para as faculdades de medicina, ficaram abarrotadas de cadáveres, eles foram decompostos em ácido”. Também foi construído um cemitério nas dependências da instituição. O sepultamento era feito pelos próprios internos. “Na marcha diária, muitos deles seguiam em direção ao Cemitério da Paz conduzindo uma carroça de madeira de tração animal com uma cruz vermelha pintada nas laterais. Símbolo da morte no hospital, a carroça atravessava os pavilhões, diariamente, em busca de novos mortos”.
 

Os eletrochoques usados como método de tratamento muita das vezes provocava a queda de energia no município inteiro. Os funcionários não tinham qualquer preparo para acompanhar os pacientes. “Sem saber ler nem escrever, distribuía pelas cores os dois únicos comprimidos disponíveis". 
Em síntese, a obra escancara um episódio pouco conhecido da história do nosso país e abre espaço para o debate das práticas psiquiátricas. Arbex finaliza o livro alertando para outros tipos de genocídio que aconteceram e ainda acontecem. “Tragédias como o do Colônia nos colocam frente a frente com a intolerância social que continua a produzir massacres: Carandiru, Candelária, Vigário Geral, Favela da Chatuba são apenas novos nomes para velhas formas de extermínio. Ontem foram os judeus e os loucos, hoje os indesejáveis são pobres, os negros, os dependentes químicos”. 
 


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