Leitura de Werther de Goethe - Wilhelm Amberg, 1870. O livro foi responsável por uma onda de mortes por suicídio entre jovens no século XVIII
Em todo o planeta, perdemos 800 mil pessoas para o suicídio por ano. A cada 40 segundos, uma pessoa em algum lugar do mundo está tirando a própria vida. Esses são os dados publicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que mostra que a morte de jovens para o suicídio vem atrás somente dos acidentes de carro. O assunto foi tabu nas conversas por muito tempo, mas precisamos, sem dúvidas, falar sobre o suícidio. Devemos, porém, continuar escrevendo sobre?
Já dizia Aristóteles: aqueles que se dedicam à arte e poesia estão mais propensos a sentimentos de melancolia. O psicólogo americano James C. Kaufman comprovou: em uma pesquisa na qual analisou mais de 1629 escritores literários descobriu que poetas — em especial, as de gênero feminino — estão mais propensos às doenças mentais. O fenômeno foi chamado por ele de Efeito Sylvia Plath.
A poeta e romancista americana foi a escolhida para dar nome à descoberta por ter sido a “primeira vítima”, nas palavras de Kaufman. Aos 30 anos, em 1963, Sylvia Plath cometeu suicídio. Fazia apenas um mês da publicação de seu primeiro e último livro, A Redoma de Vidro. Nele, Plath criou a personagem Esther Greenwood para falar de sua própria vida, principalmente da angústia tão forte que estava sentindo. Hoje, o livro é classificado como autobiografia — as semelhanças entre Esther e Plath eram tantas que esta lançou o livro sob um pseudônimo, Victoria Lucas, a fim de proteger sua privacidade.
Outros dois escritores famosos de língua inglesa também foram estudados por Kaufman: Virginia Woolf e Ernest Hemingway. Assim como Plath, ambos cometeram suicídio.
Em seu livro Surviving Literary Suicide, o professor universitário americano Jeffrey Berman discorre sobre a importância de abordar o “suicídio literário” da forma correta nas salas de aula. “Damos a ideia errada às pessoas quando romantizamos um ato com consequências interpessoais tão devastadoras”, comentou ele em entrevista para o Newswise. “Será que estamos sendo responsáveis [pelo suicídio de jovens] ao ignorar a realidade de decisões como essa na literatura?”, questiona.
Berman afirma que escrever sobre o suicídio tem um efeito negativo tanto para os autores, que veem seu estado emocional piorar, quanto para os leitores. Tal fenômeno é chamado por ele e outros pesquisadores de Efeito Werther, referente ao livro Os sofrimentos do jovem Werther, escrito pelo alemão Johan Wolfgang von Goethe em 1774. A romantização do suicídio por parte de Goethe levou um grande número de jovens leitores da época a tirarem suas próprias vidas. “Acredito que professores de literatura precisam enfrentar o tópico do suicídio quando este aparece na literatura e serem honestos com seus estudantes sobre suas consequências”, diz o professor. Para ele, não é preciso censurar livros sobre o suicídio nas escolas, mas sim abordá-los a fim de mostrar aos alunos um outro ponto de vista.
Por outro lado, na literatura infantil, falar sobre a morte e a perda mostra-se importante para ajudar crianças a lidarem com temas difíceis. “Ler um livro infantil sobre a morte com uma criança pode ser uma oportunidade para aumentar seu entendimento e aprofundar o diálogo sobre o assunto”, afirma a psicóloga Marilyn Mendoza.