O abandono de animais nas cidades é uma realidade que tem causado comoção e a internet tem sido canal de comunicação para tentar encontrar os donos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima que só no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados (10 milhões de gatos e 20 milhões de cães).
Jhonata Sampaio, publicitário, morador da capital fluminense, conta que desde a infância sempre foi muito sensível em relação a causas animais. Sua família costumava adotá-los para cuidar quando criança. Foi com esse sentimento que vem desde pequeno que ele acabou adotando através da ONG, Sem Raça Definida, os gatos Luna e Sebastião. Sobre o abandono que vem ocorrendo nas ruas a opinião dele é sobre insensibilidade e revolta: “
São monstros insensíveis, pra mim uma pessoa que faz mal a qualquer criatura indefesa e inocente não é digna de pena, me deixa realmente muito revoltado!”, desabafa.
Imagem: Jhonata Sampaio / Arquivo Pessoal
Em Curitiba, no Paraná, o advogado Lucas Mano recolheu das ruas, a cachorra Lessy após ser atropelada próximo ao seu local de trabalho. Mas a família cresceu ainda mais: Pipoca chegou para trazer alegria ao lar após ser abandonado na rua e deixarem dentro do seu quintal. Mas não foram só cachorros que o curitibano adotou. Sua demonstração de amor com os pequenos e indefesos veio também com a adoção da gata Ágatha. Ela foi adotada de uma ONG e passou um período de adaptação onde Lucas teve durante o processo de adoção, preencher e cumprir uma lista de exigências como telar toda a casa e não permitir o contato dela com a rua. Mas a fase de adaptação foi tranquila e Ágatha se adaptou rapidamente. “
Abandonar animais na rua é de uma irresponsabilidade sem tamanho, além de uma atitude desumana. Coloca os animais e outras pessoas em risco”, opina.
Mas o crescente número de animais pelas ruas, onde desconhecidos tentam encontrar seus donos, cresce nos grupos e publicações na internet. Alguns conseguem ser encontrados pelos seus donos após terem sido perdidos por algum motivo. Outros ficam abandonados, como confirmação do abandono daqueles que deviam protegê-los.
Em São Gonçalo, no Grande Rio, Helilucio Pinheiro, recolheu Amora,
Preta e Nala de um lixão, e acabou adotando os cachorros. A opinião do gerente de lojas é que as pessoas que abandonam animais devem ser punidas através de formas mais rigorosas.
Imagem: Helilucio Pinheiro / Arquivo Pessoal
Para Ludmila Costa da ONG Indefesos, é perceptível a cultura e procura por cães de raça. “
Porém apesar disso, a nossa maior dificuldade é que muitas pessoas procuram as ONGs para adotar cães de porte pequeno ou porte micro, que infelizmente é muito difícil de encontrar em animais vira-latas, visto que geralmente os cães ficam porte médio”, explica.
Ela conta também que muitos animais recolhidos das ruas já estão na fase adulta e existe uma resistência de se adotar um animal já nessa fase. “
Apesar dos inúmeros benefícios de adotar um cãozinho adulto, muitos procuram filhotes, muitas vezes sem nem ter noção dos custos, trabalho e dedicação que se requer em ter um animal filhote”, conta.
Cuidados na adoção Caroline Mouco Moretti é médica veterinária e não acredita que a compra de animais seja um fator determinante para o abandono de animais. Mas esclarece que a comercialização de filhotes de raça pode ser mais atrativo devido o conhecimento das características de determinada raça, a fim de uma adaptação mais rápida no novo lar. “
Entretanto, vale ressaltar que a adoção é sempre a melhor opção, existem inúmeros cães hoje em dia em instituições esperando por um tutor”.
A veterinária ainda explica sobre os cuidados que os novos donos devem ter com os bichos na hora que retiram os animais das ruas. “
Quando você adota um animal em situação de rua e o coloca para dentro de casa é importante que você leve-o para avaliação com o médico veterinário de sua confiança, através dessa consulta o profissional conseguirá te auxiliar e orientar como proceder nesses primeiros cuidados”.
Em casos de lares com outros bichos, Caroline lembra a necessidade de estar com a carteira de vacinação dos demais animais em dia e levar o recém-adotado ao veterinário antes dele dar as "boas vindas" ao novo companheiro. “
Deixe sempre em ordem as vacinas, vermifugação, anti-pulgas, carrapaticida e as visitas periódicas ao médico veterinário. A primeira consulta é primordial para descartarmos qualquer doença congênita ou adquirida. Os novos tutores, na realidade os novos pais tem que estar ciente da situação de saúde do seu novo filho”, explica.
Alerta A advogada criminalista Ana Bernal, conta que o motivo do abandono de animais ser crime. “
Abandonar, em qualquer espaço público ou privado, animal doméstico, domesticado, do qual detém a guarda, vigilância é considerado crime. Assim, como as práticas de bater, negar água ou alimento também são consideradas crime. Infelizmente o abandono de animais está cada dia mais presente em noticiários, em especial na época de férias. Existem relatos de pessoas que deixam seus animais em veterinários e Hotéis e, nunca mais voltam para buscá-los, mesmo com tantas campanhas contra a prática, muitas pessoas ainda cometem este crime.”
A pena prevista pelo Art. 32 da Lei de Crime Ambientais é de detenção de 3 meses a 1 ano e multa e, podendo ser majorada de um sexto a um terço, se ocorrer a morte do animal.
Ainda segundo a advogada, a população deve denunciar e registrar em delegacia os casos de agressão a animais. Ela esclarece que a denúncia é legitima e todos devem ter consciência de que os animais têm proteção legal e devem tê-la de fato exercida. “
A Delegacia não pode deixar de registrar o Boletim de Ocorrência, sob pena de serem responsabilizados por tal fato, faça valer seus direitos e daqueles que não podem falar e sofrem em silêncio!”. E ainda ressalta que é de extrema importância que as pessoas tenham a consciência de que ao adquirir um animal de estimação, é, ou deveria ser, assumir uma “guarda responsável”, consistindo em planejar a vinda desse animal, tomando alguns cuidados necessários e obrigatórios para manter o animal saudável e feliz.
O que fazer ao encontrar um animal abandonado? A advogada Ana Bernal, explica o que se deve fazer ao encontrar um animal na rua:
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Primeiramente ao encontrar um animal abandonado, tire-o da situação de risco e, já verifique se o mesmo possui alguma identificação, pois muitas vezes o cachorro na rua sozinho, pode ter se perdido e estar sendo procurado pela família.” Ela ainda lembra que hoje em dia as redes sociais auxiliam muito para a localização de seus donos. Depois de esgotadas as tentativas sem encontrar a família precisam decidir se ficará com ele, ou o entrega para adoção, contatando Instituições, ONGs que acolhem animais abandonados.
Caso a família do animal seja encontrada e queira a devolução, isso deve ser feito, como a lei diz. “P
or expressa determinação legal, no Código Civil, podendo haver uma recompensa pelas despesas, conforme estabelece o artigo 1.234 do mesmo diploma legal. O que não podemos esquecer é que o animal é um senciente, precisando ser respeitado, portanto deverá ser visado sempre o melhor para o animal que já sofreu demais com o trauma de ter sido perdido”, revela.