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08/04/2019 às 13h38min - Atualizada em 08/04/2019 às 13h38min

Agora que são elas: mulheres na arbitragem e os desafios da profissão

Seja em campo, quadra ou octógono, árbitras vêm conquistando espaço e mostrando potencial na direção de competições esportivas

Sara Nayara Alves Pereira - Editado por Amanda Cruz
Arquivo Pessoal
A arbitragem feminina brasileira tem crescido muito nos últimos anos em diversas modalidades esportivas. A mulher passou a exercer esta função que antes era considerada masculina. Cada acerto é uma conquista e hoje, precisam mostrar firmeza em campo para convencer que capacidade técnica, conhecimento do esporte e, controle da partida, independem de gênero.

Em 1967, Léa Campos se tornou a primeira árbitra brasileira, enfrentando burocracias, meses de cursos e preparação física, dando o pontapé inicial para uma abertura na área. Na época, o então presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) e que seria futuro presidente da Federação Internacional de Futebol (FIFA) depois, João Havelange, havia declarado que “nenhuma mulher nunca se tornaria árbitra de futebol”.
 
Léa, hoje serve de inspiração para árbitras como Regildenia de Holanda Moura (45), que após doze anos de preparação, busca por oportunidades e faz parte do tão almejado quadro de arbitragem da (FIFA). Para ela, infelizmente a resistência na área é muito grande, entretanto, as oportunidades de inserção vêm surgindo mais e mais: “Temos que fazer todos os testes iguais aos homens, tanto físicos quanto teóricos. Porém, não somos escaladas com a mesma igualdade. Há sempre uma desconfiança em torno do nosso trabalho e preparação, o aproveitamento não é o mesmo, contudo temos que prosseguir firmes para quebrar essa barreira”.
 
Geneticamente é comprovado que a força, intensidade física do corpo e metabolismo masculino são maiores do que o feminino. Especificamente no futebol, os testes físicos da CBF e da FIFA são igualitários para homens e mulheres. As candidatas precisam realizar seis tiros de 40m abaixo de 6 segundos, correr 75m em 15 segundos e na sequencia caminhar os 25m restantes da pista em 20 segundos, sendo que as duas últimas marcas devem ser repetidas 40 vezes.
 
Embora sua presença seja indispensável para a realização de qualquer esporte, o ofício é alvo constante de duras críticas, muitas vezes injustas e no caso das mulheres ainda mais severas. “O erro da mulher, infelizmente, tem mais peso. Somos poucas, por ser um número menor o erro se torna mais visível. Estatisticamente falando, talvez o homem erre o tanto quanto ou até mais do que a mulher, porém as proporções não são igualitárias pelo preconceito e pelo fato de sermos mulheres e minoria”, diz Regildenia.
 
De atletas à juízas
 
Arbitragem principal, dois árbitros auxiliares, um marcador e seu auxiliar, o cronometrista e um operador de vinte e quatro segundos. Já que, no basquete os sinais controlam a partida, Nayene Gechele (22) e Kauane Gechele (22) são gêmeas e especialistas na arte de tomar decisões referentes às infrações ocorridas dentro e fora de quadra, além de sinalizar quando um arremesso vale dois ou três pontos, controlar as reposições de bola durante todo o jogo e o mais conhecido momento do lançamento da bola ao alto para o início do confronto.
 
Para Kauane, mesmo sendo amante do esporte, quando se está à frente de uma partida, sendo mulher e mais nova do que a maioria dos árbitros o preconceito fica nítido: “O basquete me ensinou o trabalho em equipe, disciplina e compromisso. Em um jogo cheguei a ser questionada pelo técnico se não deveria estar na mesa ou no cronômetro ao invés de arbitrar”, ressalta.
 
As duas viajam bastante por conta dos campeonatos que trabalham. Paranaenses de Guarapuava, Kauane e Nayene afirmam que não só a arbitragem, mas o basquete em si precisa de mais visibilidade: “A modalidade basquetebol precisa de divulgação, transmissões de partidas na televisão, isso vai gerar credibilidade e as consequências serão positivas para o crescimento da arbitragem e o interesse das pessoas pelo esporte”.
 
No Brasil ser árbitro, mediador ou conciliador não é oficialmente uma profissão, mas sim um encargo decorrente de especialidade profissional. Ou seja, a maioria das árbitras mantém o desafio de conciliar estudos, carreira, família, tarefas domésticas com a paixão pela arbitragem.

"Já fui empurrada, xingada e ameaçada! Mas o esporte me torna mais forte, estou sempre estudando e buscando novos conhecimentos para mostrar que devo estar ali e fazer o melhor na arbitragem". Carla Freitas, árbitra de MMA.

Carla Freitas, (37) é pioneira no Mixed Martial Arts, popularmente conhecido como MMA. Iniciou no esporte como atleta, mas em 2007 foi convidada para ser juíza em uma competição e desde então se tornou a primeira mulher a arbitrar o esporte no Brasil. “É um esporte muito masculino, sou árbitra central, são mais ou menos cinco nos país inteiro. O mais difícil, nesse caminho, sempre será o nosso espaço no meio”, conclui ela.
 

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