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23/01/2020 às 22h06min - Atualizada em 23/01/2020 às 22h06min

ENTREVISTA: Natália Leal, diretora de conteúdo da agência Lupa

A jornalista estimula a conscientização da checagem de fatos em veículos de referência

Ariel Vidal - Editado por Mário Cypriano
Sixth Global Fact-Checking Summit - Foto: Agência Lupa
O jornalismo atual enfrenta uma crise de desinformação. Diversos boatos são espalhados na internet referente às mais diversas situações no cotidiano. Das eleições presidenciais ao caso do coronavírus. As pessoas que antes confiavam nos jornais agora tem recorrido à informações não verificadas, compartilhadas na internet. Por isso, diversas agências de checagem tem intensificado o trabalho na verificação de boatos divulgados em páginas falsas no facebook, sites e até em grupos de familia.

É importante diferenciar a checagem de fatos e de notícias. A checagem de notícias publicadas deve ser feita pelos editores dos repórteres, para comprovar se há veracidade nas informações apuradas; este não é o trabalho das agências de checagem. O fact checking representa a verificação de dados públicos; é uma técnica jornalística que consiste em integrar dados aos discursos que tem alguma influência na sociedade, comprovando sua veracidade. Esse é um dos trabalhos das agências de checagem como a Lupa, que tem desmembrando os dados públicos renomados do Brasil, como o IBGE, FGV e Ministérios, portais transparentes que contribuem para a construção de informação de qualidade aos leitores.

A nossa entrevistada é a jornalista e diretora de conteúdo da agência Lupa, Natália Leal. Ela possui 12 anos de experiência em jornalismo em que atuou nas diversas áreas dentro da redação, como produtora de conteúdo, coordenadora de produção, redatora, editora e chefe de reportagem. Hoje, atua em verificação de fatos, mas cada passo dado nos veículos de comunicação contribuiu para a realização atual, transformando a vida das pessoas por meio de informações de qualidade.

Sixth Global Fact-Checking Summit - Foto: Agência Lupa 

Confira como foi esta entrevista repleta de referências para o jornalismo atual

As experiências que você teve em outros veículos de comunicação contribuíram para atuar na checagem de fatos?

Natália: Sim. Eu trabalhei em grandes meios de noticias, como o Gaúcha ZH (Zero Hora). Já atuei como redatora, coordenadora de produção, chefe de redação, editora sênior; então toda essa experiência atuando nessas diferentes funções me deu uma visão mais geral, mais sistêmica do jornalismo e do próprio processo de produção de noticias, o que contribui muito para a checagem de fatos. É super importante para quem tem interesse em trabalhar com checagem, ter uma experiência em reportagem, e investigação, pois a minha vivência contribuiu muito para quem sou hoje.

Qual a importância da verificação de fatos para a população e para o próprio jornalista?

Natália: A verificação é uma forma de comprovar se dados que estão circulando condizem com a realidade, isso traz a clareza. Em termos de jornalismo é muito importante trazer informações corretas. Para mim essa é uma das questões fundamentais.

Como uma pessoa leiga pode identificar que uma notícia é falsa?

Natália: É importante que os leigos desconfiem, pois estamos vivendo um momento que há muitas teorias da conspiração, muita desconfiança. Com relação ao jornalismo, as pessoas tem se comunicado de forma diferente, por causa das plataformas digitais. Há menos de dez anos atrás, o jornalismo era visto como o quarto poder, concorrência com os três poderes que temos, mas ultimamente ele perdeu a relevância na sociedade em função da divulgação de noticias por amigos e conhecidos que parecem com a realidade. É muito mais fácil acreditar em uma publicação de uma pessoa do circulo social no Facebook ou o WhatsApp do que visitar um veículo jornalístico dite a visão de mundo, da situação atual. Por isso é importante que as pessoas entendam esse momento, e sigam orientações para evitar cair nesse meio. Como por exemplo, pesquisar no Google e verificar em portais oficiais, independente de discordar ou concordar. Quando se trata de fatos, a visão política precisa ficar de lado e olhar para o que realmente aconteceu. É preciso que as pessoas leigas tenham veículos de referencia para se apoiar quando se trata de fatos.

Caso uma pessoa identifique uma notícia falsa. De que forma é possível contatar a Agencia Lupa?

Natália: Nós temos um e-mail geral para checagem de fatos [email protected]. Além disso temos um formulário que pode ser preenchido pelo site www.lupa.news. Temos interações em redes sociais mencione no twitter, Faceboook e Instagram. A equipe costuma estar sempre atents a essas plataformas para responder aos nossos leitores.

Projeto de verificação que a Lupa tem com o Facebook

Como surgiu a ideia da parceria? Como foi o contato com o Facebook?

Natália: A ideia partiu do facebook. Esse projeto existiu após a eleição de 2016 nos Estados Unidos estimulado  por plataformas de checagem dos EUA pós a eleição de Donald Trump. O programa chega ao Brasil em 2018 e chegou até onde estamos hoje. No entanto, o contato com o facebook sempre foi acessível, nós temos parceiros de referência aqui no Brasil e nos Estados Unidos. São pessoas que cuidam exclusivamente deste programa com as quais temos grupos no Facebook, grupo de e-mails onde nos reunimos semanalmente para trazer posições. É um contato muito bom.

O que este contato significa para vocês como agência?

Natália: É uma forma de empoderamos as pessoas com conhecimento e informação de qualidade e ajudar a parar essa onda de desinformação. Me questiono se neste contexto  de desconfiança que estamos vivendo no qual já mencionei, a checagem não seria uma “pregação para convertido” para um publico um pouco mais restrito que esta disposto a desconfiar e passar adiante a informação. Mas quando a gente “prega para um convertido” nós estamos munindo aquela pessoa para que ela se torne um agente transformador que compartilhe essa informação de qualidade. A ideia é ampliar o fact checking e o poder da verificação para que as pessoas aprendam a desconfiar e escolham veículos de referencia.

O que significa para você como jornalista?

Natália: Para mim, é um caminho de uma realização como jornalista. O meu é objetivo de transformar a vida das pessoas. Acho que todas as pessoas que fazem jornalismo tem essa intenção. Tenho feito palestras em universidades e percebo esse objetivo de transformar e contar histórias que ajudam pessoas a terem uma noção mais próxima  da realidade e do mundo a sua volta.  Além disso é utilizar  uma quantidade de ferramentas e um veículo potente para chegar às pessoas e fazer a transformação que sempre quis fazer.

Hoje como diretora de conteúdo da Lupa eu consigo ter uma escolha de conteúdo mais consciente, de acordo com os critérios jornalísticos, com a observância da relevância e uma série de outros fatores para fazer jornalismo; mas esse poder de decisão com certeza é a realização de um sonho na minha carreira.

Como esse projeto pode contribuir para as pessoas que acompanham as noticias do Facebook?

Natália: Quando a gente abre uma porta, um canal para que as pessoas denunciem coisas que elas desconfiam, e com um sistema para que as pessoas tenham respostas com relação às suas dúvidas, nós estabelecemos uma nova relação de confiança entre o público, o jornalismo e as plataformas. Acho que é um ecossistema saudável e que contribui para o jornalismo. Essa iniciativa coopera para um espaço saudável nas redes sociais.

O que você orienta a um estudante de jornalismo que deseja trabalhar com checagem?

Natália: O que oriento ao estudante é que a checagem não é como reportagem de rua, pois é um pouco diferente do que se vê na faculdade, mas é importante ter um conhecimento de dados, não necessariamente programação, mas como chegar a tais informações, quais referências que posso usar e instituições que possui essas pesquisas. Assim como procurar saber quais tipos de contatos  com pessoas são importantes para que possam me trazer essas informações. Além de ter segurança em tabelas do Excel, criar dinâmicas, limpar e converter arquivos. É fundamental ter consciência de que toda checagem precisa ouvir o outro lado. Quando eu contesto a pessoa entrevistada, tenho a obrigação de ouvi-la. Estar aberto ao contraditório é superimportante no jornalismo e na checagem de fatos.

Verificação e divulgação

Após a verificação, o trabalho de divulgação pode ser feito de que forma?

Natália: Precisamos estar onde as pessoas estão. A lupa trabalha com redes sociais e temos uma identidade visual, a linguagem trabalhada em redes sociais para que fique cada vez mais próximo das pessoas. Entre 30 e 40 % da audiência vem da rede social sendo consideradao pela agencia, uma audiência boa, principalmente pelo projeto que temos com o Facebook. 

Como falei antes, as pessoas se comunicam de outra forma. Hoje em dia é dificil a espera pelo jornal chegar no dia seguinte, porque estão o tempo todo se informando pelo celular. Com isso, a nossa base de seguidores é grande no Instagram, uma plataforma de checagem de fatos com maior número de seguidores da américa latina no Brasil. Nossa meta para 2020 é a interação pelo WhatsApp com os leitores, no contexto da eleição municipal, mas temos boa interação pelo Facebook e Twitter. A gente continua crescendo em ritmo acelerado. Temos um projeto pelo aplicativo tic toc para se comunicar com um publico mais jovem, pois é um publico nativo digital que já pode se acostumar a consumir informação de qualidade. Esses são algumas das ferramentas que utilizamos para divulgação para atingir o máximo da população.


Natália: Com relação a medidas do Facebook, as páginas com noticias falsas devem ser endereçadas ao canal de comunicação do aplicativo. É importante reforçar que não está dentro da metodologia da Lupa checar os arquivos da grande mídia. Não tratamos como Fake News, informações que circulam nos veículos de referência. O que a gente toma como Fake News em rede social está mais ligada a uma informação manipulada destorcendo o discurso público, que não o caso visto no jornalismo tradicional.

Fake News não é a mesma coisa que erro jornalístico, editorial posicionado ou não. Para haver uma penalização é importante buscar o motivo da penalização, se foi um erro ou uma postagem com intenção de distorcer. Nesse caso pra falar de penalização a maior medida é a perda de assinantes, e de credibilidade. Mas não faz parte do escopo deste projeto de verificação do Facebook gerenciar as medidas do Facebook das páginas que divulgam noticias falsas.

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