Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
31/01/2020 às 11h18min - Atualizada em 07/02/2020 às 10h00min

​Tudo pela Vitória

Mayra Santos
Pixabay
Dezesseis anos e um diagnóstico de câncer em mãos. No começo era uma fraqueza, depois apareceu um sangramento na garganta. Algumas idas ao médico foi o suficiente para descobrir a doença.  

A paraibana Vitória foi diagnosticada com leucemia – um tipo de câncer no sangue que acontece quando os glóbulos brancos perdem a função de defesa e passam a se produzir de maneira descontrolada, segundo informações do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Com o início do tratamento, os seus cabelos começaram a cair como era esperado. Então, ela decidiu raspar tudo de uma vez só. Foi aí que, para sua surpresa, a sua irmã gêmea também raspou a cabeça - uma forma que encontrou de prestar solidariedade à irmã. Parceiras enquanto estavam no ventre, parceiras na vida e na dor.  

Vitória tem cinco irmãs, além da gêmea. Todas se entusiasmaram com o ato solidário e resolveram fazer o mesmo, inclusive a matriarca. As mulheres da família agora exibem um novo estilo. Vaidosas, exibem-se de batom, brincos grandes e carecas! Por uma boa causa, claro. Tudo por Vitória e pela vitória. 

O momento que poderia ser triste, virou diversão entre elas, com muitas brincadeiras e muitos cortes engraçados até
rasparem a cabeça por completo. Isso que eu chamo de poder transformar momentos de dor em momentos de união, de fortalecimento dos laços afetivos.

Quem é mulher sabe o que representa o cabelo para figura feminina, o quanto cuidamos, tratamos dos nossos cabelos para que fiquem bonitos. Dizem até que é a moldura do rosto feminino. Agora imagine o que isso não significa para uma adolescente de dezesseis anos. Nessa fase em que a vaidade aflora e a opinião dos outros é tão importante. Como é difícil encarar as pessoas fora do seu próprio mundo pra quem ainda está descobrindo a si mesmo.

Só o amor verdadeiro nos faz abrir mão da vaidade em prol do outro. Quando isso acontece, você passa a estar em segundo plano. Deixar de ser prioridade para si mesmo e passar a colocar no pódio quem se ama, especialmente quando se está passando por momentos difíceis como esse; quando ser presente, nunca foi tão necessário. São atitudes que dão significado à vida e dizem, mesmo sem palavras “calma, estou aqui”.  

Isso é entrega, é erguer à mão ao próximo, é altruísmo, é amor. E o amor que Vitória vem recebendo da família, certamente, está sendo fundamental para que ela não esmoreça e siga firme e forte na luta contra a doença.

É como carregar um saco de batatas. Sozinho, o saco pesa, é preciso talvez arrastá-lo. Assim, o trajeto se torna longo, provoca machucados, arranhões, causa dor e sofrimento. Mas, quando um irmão divide comigo o peso do saco de batatas, o fardo se torna leve, os arranhões e machucados quase não acontecem e, desse modo, chego mais rápido e mais feliz ao meu destino.

Por isso, afirmo que essas meninas são diferenciadas. Elas trazem um sorriso no rosto, carregam uma força e uma fé que são difíceis de mensurar. Porque mesmo diante dessa situação, falam sorridentes, emanam alegria e seus olhos brilham. Elas são o real significado do que é ser família. E parecem (pre)ver a vitória da irmã diante da doença.

A união, a cumplicidade e o amor que trazem consigo representam tudo o que a humanidade precisa desde sempre e que parece estar escasso nos dias de hoje.

Elas nos dão uma grande lição. Essa forma de enxergar a vida diante dos problemas é o que nós almejamos todos os dias e que, na maioria das vezes, falhamos. Falhamos feio. Por dificuldades bem menores, em nosso cotidiano, nos desequilibramos, saímos do eixo e balbuciamos, pondo em dúvida até a existência de Deus.

Vitória e a família são o oposto de tudo isso. Elas vivenciam a fé e não desperdiçam nenhum minuto da benção que lhes foi dada: a vida. 

A adolescente se mantém de pé diante da doença. Ergueu a cabeça, muniu-se de amor e fé e, assim, prossegue caminhando em busca da grande vitória: a cura.

Entretanto, ela já é uma é vitoriosa, não só pelo nome, mas pelo bem maior que Deus a presenteou: a família. É algo que não tem preço; tem valor, grande valor.
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »