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03/02/2020 às 16h24min - Atualizada em 03/02/2020 às 16h24min

Internacional tem jogo antecipado devido à crise chilena

Morte de torcedor do Colo Colo motiva raiva da torcida organizada, que defende o boicote ao futebol

Lúcia Oliveira - Editado por Paulo Octávio
"Torcedores" do Coquimbo Unido pedem o boicote ao futebol chileno e promovem violência. Foto: Hernan Contreras/AFP
A Confederação Sul-Americana de Futebol (Comenbol) anunciou ontem, 2, que o jogo entre Internacional e Universidad de Chile, válido pela pré-Libertadores, anteriormente marcado para às 19h15 de amanhã, agora, acontecerá às 18h, em Santiago. A decisão está relacionada às fortes tensões que o país vem vivenciando nos últimos quatro meses. O Internacional chegou em Santiago ontem e está preocupado com a situação do país e já entrou em contato com a Conmebol.

De acordo com as autoridades do país, a medida é necessária para que haja segurança durante e após a partida. Segundo a polícia local, as chances de conflitos são menores quando os eventos acontecem durante a luz do dia. Na capital do país o por do sol ocorre às 20h45, assim, com o jogo iniciado às 18h, o público sairia do estádio antes do anoitecer.

MORTE DE TORCEDOR MOTIVA NOVOS PROTESTOS

Mortes, protestos, roubos, violação de direitos humanos e desordem pública dão corpo à forte crise do Chile. Desde 18 de outubro de 2019, já são 31 mortos e mais de três mil feridos, segundo dados do Ministério Público. O motim começou com anúncio do aumento da tarifa do metrô em 30 pesos (20 centavos de real). O reajuste foi cancelado, mas os protestos contra outros problemas sociais como a saúde, desigualdade e a aposentadoria continuaram. Assim, o Chile que era exemplo de um país bem sucedido na América Latina atravessa pior momento desde o fim da ditadura em 1989. O presidente Sebastian Piñera assinou uma lei que marca para o dia 26 de abril um plebiscito para mudança da constituição para encerrar a crise. Mas essa iniciativa não surtiu efeito.
 

Local onde torcedor do Colo-Colo foi atropelado recebe homenagens. Foto: Alberto Peña/EFE

As torcidas organizadas estão envolvidas desde início dos conflitos, agora ainda mais após uma  tragédia. A morte de Jorge Luís Mora, 22 anos, um torcedor do Colo-Colo, que foi atropelado por uma viatura da polícia próximo do Estádio Monumental em 28 de janeiro, motivou a raiva da torcidas organizadas até de outras equipes. Essas facções exigem a paralisação do futebol no país.  A tragédia aconteceu na primeira rodada do Campeonato Chileno, que tinha sido interrompido por causa dos protestos.  A suspensação do torneio deixou em dúvida qual equipe iria para pré-Libertadores. A crise, então, se intensificou e as agências humanitárias estão criticando ainda mais a atitude da polícia do país, além de alegarem que o uso de sua força para conter as manifestações é exagerado.  

Depois do episódio, a Garra Blanca, torcida organizada do Colo-Colo, chamou a população para um protesto em frente ao Estádio Monumental na próxima quarta-feira. Além disso, a Asociación Hinchas Azules, torcida da Universidad de Chile, apoiou a ação  Ambos os grupos defendem o boicote ao futebol e a nova paralisação do campeonato nacional.  

 

Torcedores quebram equipamentos do VAR. Foto: Reprodução/Radio Sport Chile

Já na última sexta-feira, no jogo entre Coquimbo Unido e Audax Italiano, "apoiadores" do time mandante invadiram o campo. Encapuzados, munidos de sinalizadores e com uma faixa que dizia “ruas com sangue, campos sem futebol”. A ação descambou para a violência, e parte dessa "torcida" quebrou os equipamentos do VAR, que estavam no estádio, e as câmeras do canal de televisão que transmitia o jogo. A arbitragem, então, optou por cancelar o confronto depois de informar que esse protesto “quebrou as regras de segurança, colocando em risco a integridade física dos atletas”. O Sindicato de Jogadores Profissionais do Chile se manifestou sobre o caso, no perfil oficial do twitter da entidade:
 
“Destruir, quebrar, agredir os trabalhadores do futebol não reivindica nada. Os jogadores e sua gente apoiam toda a manifestação social, mas jamais avalizarão feitos como esse.”
 
A Associação Nacional de Futebol Profissional (ANFP) não pretende ceder às vontades das torcidas e cancelar o Campeonato Chileno. O fim de semana foi marcado por violência, bombas de gás lacrimogêneo e inúmeros atos de selvageria que não combinam, de nenhuma forma, com o futebol. Agora, espera-se que as autoridades consigam controlar o vandalismo e, além disso, restabelecer a paz entre civis e instâncias de poder.

 

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