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17/04/2020 às 12h37min - Atualizada em 17/04/2020 às 12h37min

Literatura como forma de lidar com a pandemia

“O isolamento não é um problema para quem entende que o isolamento é o objetivo” (Don Delillo)

Letícia Franck - Editado por Bruna Araújo
Pixabay
Escrevo este texto de um lugar privilegiado, se é que se pode falar assim nos últimos dias. A pandemia, que até agora já mudou a vida de quase 2,5 milhões de pessoas, ainda resiste à minha barreira de proteção. Dentro dela, só eu e tudo aquilo que amo e procuro proteger. Hoje não vou escrever ainda mais sobre esse assunto que tomou todos os holofotes -e com razão-, mas quero que, de alguma forma, essas palavras consigam atingir o seu peito e se transformar em luz, para que te seja possível perceber que, infelizmente, não é a primeira vez, e talvez não seja a última pandemia que tenhamos que enfrentar. E a magia está exatamente aí: em encarar de frente a doença, a solidão, todos os sentimentos embaralhados, o medo da dor, o perigo da morte, a insegurança da perda e a angústia das horas e dos casos que aumentam com a força de uma ampulheta. Só que desta vez, talvez, o tempo não esteja totalmente ao nosso favor.

Escrevo para te dizer que vai passar.
 
Tenho uma relação muito pessoal com a literatura, embora acredite fielmente que em tempos como estes a indústria de fármacos está fazendo muito mais pela população que o entretenimento, mas como leitora desde que me conheço por gente e como testemunha do poder que os livros têm para nos fazer superar coisas que vão de objetos a conquistas pessoais, separei alguns títulos que tratam sobre pandemias. Alguns reais, outros fictícios, mas todos excelentes e que te farão entender o surto como forma de conseguir lidar com os acontecimentos e manter a sanidade frente ao desespero.

O Amor nos Tempos do Cólera - Gabriel García Márquez

 A trama é inspirada na história real de amor vivida por Gabriel Elígio García e Luiza Márquez, pais do autor. A história se passa na época em que a Colômbia enfrenta uma epidemia devastadora de cólera. Fermina, uma das protagonistas, acaba por se casar com Juvenal Urbino, médico conceituado por erradicar a doença.

A Peste - Albert Camus

A vida após a peste. Um romance de um dos mais importantes e representativos autores do século XX e Prêmio Nobel de Literatura. Livro que destaca a mudança na vida da cidade de Orã, na Argélia, depois que ela é atingida por uma terrível peste, transmitida por ratos, que dizima a população. A Peste é uma obra de resistência em todos os sentidos da palavra.

Um Ano de Milagres - Geraldine Brooks

 Quando uma remessa de tecidos infectados vinda de Londres traz uma peste para uma aldeia isolada nas montanhas, uma mulher luta pela própria sobrevivência e pela de seus amigos e familiares. Acompanhe, a partir do ponto de vista da personagem, a história do ano da peste de 1666, que matou quase um quinto da população inglesa. A cada pequena vitória, dias se tornam meses, que completam um ano de milagres.

Nêmesis - Philip Roth

No verão de 1944, um grupo de adolescentes de ascendência italiana aparece no colégio e cospe no chão, ameaçando a todos com uma doença terrível. Logo depois do incidente, vários alunos contraem poliomielite. Esse é o ponto de partida de Nêmesis. Embora hoje seja muito raro alguém morrer de pólio, até o início da década de 1950 a doença era praticamente fatal. Implacável, chegou inclusive a vitimar o presidente americano Franklin D. Roosevelt, mas atingia sobretudo crianças. J. M. Coetzee, vencedor do Man Booker International Prize (2011) diz que “Nêmesis é um romance cheio de suspense, construído habilmente e que caminha para uma engenhosa reviravolta no final”.

Chego ao fim dessa pequena lista, esperando que de alguma forma consiga te fazer enxergar que nada é sutil quando falamos de um vírus altamente transmissível, e que não existe melhor ou pior forma de lidar com surtos, já que não temos receita de alívio imediato ou cura (ainda). Mas vamos progredindo, da maneira que está dando.

Não se obrigue a ser produtivo o tempo todo. Não se cobre por simplesmente não conseguir concluir nada. O mundo vai normalizando aos poucos, mas ainda vai levar uma cara pra gente poder dar risada, como diz Lulu Santos. Mas, também, assim caminhamos. E se tem uma lição que essa pandemia nos deixou, é de que ainda conseguimos extrair algo bom em nós todos os dias. Conseguimos pensar no próximo, conseguimos ser menos egoístas e pensar no coletivo, mesmo que por medo. E ainda que por decretos.

Logo estaremos encontrando os nossos e retribuindo todo o carinho guardado durante essa quarentena, mas por enquanto, se puder, fique em casa. Cuide-se, cuide da vida das pessoas que te são insubstituíveis, mas finitas. A gente se vê num mundo melhor, em breve.
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