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23/04/2020 às 16h34min - Atualizada em 23/04/2020 às 16h34min

Guarani 78: O "time de risos" que encantou o Brasil

Equipe de Campinas superou as adversidades para conquistar o título brasileiro de 1978

Brendo Romano - Editado por Paulo Octávio
Foto: Antonio Lúcio / Estadão Conteúdo
Em tempos de pandemia e paralisação do futebol, nós do Lab dicas Jornalismo decidimos voltar ao passado. Assim como emissoras de TV e de rádio, decidimos ceder espaço para equipes que fizeram história no nosso futebol. Essa "série" começa hoje com texto especial sobre o Guarani de 1978. Time superou dificuldades, driblou deboche de parte da impresa gaúcha -- que chamou o clube de "time de risos" -- e  tornou-se campeão Brasileiro. No ano seguinte, o clube manteve a boa fase e quase chegou à final da Libertadores. Confira:

Em 1978, o Guarani iniciou a temporada sob pressão. Após sua arquirival, Ponte Preta, quase conquistar um título no ano anterior, o Bugre queria responder à altura. Para isso trouxe um novo presidente, Ricardo Chuffi. Porém o maior problema do Alviverde era a falta de dinheiro em caixa, o que impedia a contratação de nomes de peso para bater de frente com Carlos, Oscar e Dicá craques da Macaca. A opção da diretoria do clube foi na aposta em um treinador desconhecido: Carlos Alberto Silva, que vinha de um bom trabalho na Caldense -MG, ele teve a missao de trabalhar com as joias da base


Carlos Alberto Silva no comando técnico da equipe do Guarani. Foto: Domicio Pinheiro / Agência Estado

De antemão, o treinador percebeu que era possível montar uma boa equipe, mas era preciso apostar em contratações pontuais. O elenco já contava com os jovens Miranda, Mauro, Renato, Manguinha e Adriano, além de Gomes e Capitão, que haviam chegado em 1977. Como também Neneca e Zenon, ambos no Guarani desde 1976. O primeiro jogador experiente a chegar na equipe foi o volante Carlos, que veio do Cruzeiro. Do mesmo modo, chegou Bozó para atuar como ponta-esquerda. Além de um jovem de 17 anos que chamava a atenção do treinador e buscava seu espaço entre os profissionais: Careca.

Campeonato Brasileiro: Primeira e segunda fases

Na primeira fase, o Guarani caiu no Grupo D. Ao lado de doze equipes, o time lutava para ficar entre as seis primeiras. Os campineiros fizeram uma campanha instável, mas o suficiente para se classificar. Perdeu para o Vasco, depois bateu Bahia, CSA e empatou com Vitória, CRB e Sergipe. Conseguiu se recuperar com vitórias sobre Confiança, Ponte Preta e Itabuna (BA). Mas tropeçou nos últimos jogos. Perdeu para o Volta Redonda e empatou com Botafogo. Desse modo, o Alviverde se classificou para a segunda fase do torneio e, novamente, caiu no grupo D.  Nessa fase, das nove equipes da chave, seis se classificavam junto com o melhor sétimo colocado de quatro chaves. E novamente os paulistas fizeram uma campanha irregular. Empatou com São Paulo, venceu o Brasília e  perdeu para o Remo de goleada. Depois empatou com Vasco e Coritiba e perdeu para Portuguesa e Villa Nova (MG), esta seria última derrota. 

Quem ri por último
Na terceira fase, somente os dois primeiros clubes iriam se classificar para as quartas de final do Campeonato Brasileiro de 1978. Logo na primeira rodada, o Guarani enfrentou o Internacional, bicampeão brasileiro a época e que contava com um elenco muito forte. Mas parte da imprensa gaúcha não botava fé no Bugre e chegou a chamar equipe de “Time de circo e risos”. O motivo da piada era os apelidos dos jogadores de ataque como Capitão, Careca e Bozó. Entretanto, o técnico Carlos Alberto utilizou o deboche como fonte de inspiração para pilhar seus atletas em busca da vitória. E deu certo. A equipe enfiou 3x0, com gol histórico de Zenon, em pleno Beira-Rio e calou os críticos. Com uma campanha magnífica, o Guarani ficou em primeiro com seis vitórias, um empate e se classificou para as quartas de final.

Quartas de Final e semifinal

Nesta fase, o Guarani enfrentaria o Sport Recife. Clube bateu os pernambucanos por duas vezes. Na Ilha do Retiro, vitória por 2x0, gols de Zenon e Capitão. E na volta, uma sonora goleada por 4x0. Empolgado com a vitória sobre o Inter, mais de 30 mil torcedores compareceram no Brinco para apoiar o time. No reencontro com o Vasco, o Guarani correspondeu com uma vitória por 2x0 com gols de Orlando (contra) e Renato. Bugre não se intimidou no Maracanã, com mais de 101 mil, e venceu de novo por 2 a 1. Classificado, o último adversário seria o Palmeiras.

Decisão contra o Palmeiras e confusões envolvendo o mando de campo

Na grande final, o Guarani enfrentaria o Palmeiras, que era o favorito para ficar com a taça. Entretanto, o que chamou a atenção foi à tentativa da Federação Paulista de Futebol de fazer os dois jogos no Morumbi. Igual o que aconteceu na decisão do Paulista de 1977 quando os playoffs foram disputados neste estádio. Mas, a ideia foi prontamente rechaçada pelo clube e pela CBD -- atual CBF.

No dia 10 de agosto de 1978, o Morumbi recebeu 104.526 pessoas. No primeiro tempo, o Guarani pouco produziu e viu uma bela atuação do goleiro Leão. Ainda na primeira etapa, Zenon, que estava pendurado, tomou cartão amarelo e ficou de fora do jogo de volta. Entretanto, na segunda etapa as coisas mudariam para o time campineiro. Careca tomou um safanão do Leão, o árbitro Arnaldo Cézar Coelho viu e expulsou o goleiro.  Zenon converteu o pênalti e garantiu vantagem para o Bugre. 

Volta ao Brinco de Ouro e festa da torcida Bugrina
Na partida de volta, o Brinco de Ouro vivia uma tarde épica. Clube tinha vantagem do empate, já o Verdão da capital precisava vencer por dois gols de diferença.  Nas arquibancadas 28.287 torcedores acompanharam o duelo. Na ausência de Zenon, Manguinha foi escolhido para substituí-lo. O primeiro tempo foi muito equilibrado. As duas equipes criaram diversas chances e fizeram os goleiros Neneca e Gilmar (que substituiu Leão) trabalharem bastante. Mas, aos 36 minutos após rebote do goleiro, Careca fez o gol do título do Bugre. Para festa da apaixonada torcida campineira. O jogo seguiu movimentado, e o Guarani ainda perdeu outra grande chance após Careca driblar Gilmar e tentar marcar de calcanhar. Com resultado, o Guarani se tornou o primeiro e até hoje único time do interior campeão Brasileiro da série A


Torcedores comemoram o gol do título, marcado por careca.  Foto: Domicio Pinheiro / Agência Estado


NA LIBERTADORES 1979, BUGRE QUASE FEZ  À FINAL CONTRA O BOCA

No torneio continental, os paulistas voltaram a se enfrentar. E o Guarani venceu o Palmeiras nos dois jogos da primeira fase: 4 a 1, no Morumbi; e 1 a 0, em Campinas. O Bugre foi o melhor time do grupo na primeira fase e conseguiu avançar até a semifinal, que na época era disputada em um triangular. Os brasileiros começaram a fase com moral e eram os favoritos, mas os empates em casa contra Palestino (CHI) e Olímpia (PAR) tiraram o clube da decisão. Os paraguaios conseguiram a vaga, bateram o Boca Juniors e foram campeões.

E HOJE?

Quase 28 anos depois, o time flertou a falência em 2006. Equipe quase fechou as portas devido a crise financeira e inúmeros rebaixamentos. Já em 2012 voltou a respirar. Bugre reviveu 78 e eliminou o Palmeiras do Paulistão, depois bateu a Ponte e perdeu a final para o Santos. Porém hoje o clube está na série B do Brasileirão e precisa de um ponto para se classificar à fase de mata-mata do Paulistão 2020. Seu último jogo antes da parada foi a vitória em cima da Ponte, por 3 x 2, que deixou Alviverde perto da classificação, e a Macaca à beira do rebaixamento.



 Veja melhores momentos da decisão. Canal: Futebol Eterno. Imagens: TV Globo

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