Tem-se falado muito sobre solidão e distanciamento. De fato, os últimos dias não andam fáceis. O percentual de mortes causadas pelo novo coronavírus tem crescido e alertado o sistema de saúde para uma situação que infelizmente está longe de acabar. Mas e nós? O que faremos com tanto tempo ócio quando já esgotamos nossa cota de paciência com a rotina de adaptação e não suportamos mais fazer todo dia a mesma coisa?
Li na semana passada uma matéria na TAG Experiências Literárias sobre o quanto a literatura salva vidas e o quanto quem lê está pronto para ser só. Quando falo em solitude, não falo de solidão. Falo em saber apreciar sua própria companhia e se sentir acolhido por algum personagem, história, lugar ou sentimento.
No dia 23 de abril comemoramos o Dia Mundial do Livro, e se pararmos para analisar, boa parte de nossa vida se resumiu a leitura, seja ela por vontade ou pressão próprias dos ensinos que tivemos durante a jornada. Ninguém sai ileso nem de uma bula de remédio, quem dirá de uma boa narrativa literária. E olha que eu nem citei a famosa "ressaca" pós término de um livro que foi absurdamente lindo e importante naquele momento -ou por toda- sua vida.
Solidão está aplicada a modernidade e relacionada a vida e por isso, ao mesmo tempo, é algo tão complexo, já que o termo possui uma gama de sentidos ou até de significados. Existem pessoas para as quais sentir-se solitário é prerrogativa de um sujeito que se encontra sozinho, sem ninguém, quando por outro lado a solidão pode estar presente na vida de uma pessoa rodeada de amigos, a partir do pressuposto de que é um estado de espírito.
O isolamento trouxe à tona emoções até então desconhecidas, e aumentou em grande número as crises de ansiedade e outros transtornos. A internet não me deixa mentir. Estamos demasiadamente expostos a uma cultura de estarmos sós e não preparados para este momento. Nos livros, autores têm distintas formas de tratar a solidão, indicando que para ser sentida não depende do fator "estar sozinho ou acompanhado" e quando me refiro a esse tipo de análise, retomo um passado não tão antigo assim, onde nossos companheiros eram os livros e nossas amigas as letras. Fomos heróis, bandidos, caçadores, reis. Mas nenhuma delas nos preparou para ser parte da mobília de uma casa, ou seja lá onde que você esteja passando a quarentena.
Estar preparado para a solidão não é tão simples quanto parece, mas poder contar com seus livros favoritos te chamando a reviver uma aventura te faz ficar com o coração mais quentinho e acolhido. Nem tudo são flores, às vezes você não vai mais aguentar vê-los na sua frente, mas nada nesse mundo tira o lugar daquele velho amigo que em momentos muito particulares foi para os seus braços como quem diz: Eu estou aqui. E você não está sozinho.