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24/04/2020 às 20h21min - Atualizada em 24/04/2020 às 20h21min

Caso “BTK”: A análise de um assassino em série

Conheça Dennis Rader, o assassino que se autointitula “BTK”, “Bind, Torture and Kill”, que em tradução livre significa “amarrar, torturar e matar”

Rute Moraes - Edição: Giovane Mangueira
Revista Galileu
Dennis Rader, o assassino BTK (Foto/Reprodução) Polícia de WItcha
Dennis Rader o assassino que ficou conhecido como “assassino BTK”, foi preso no ano de 2005 acusado pela morte de 10 pessoas entre os anos de 1974 e 1991. Dentre esses, sete eram mulheres, um era homem e dois eram crianças (um menino e uma menina). O assassino BTK pegou a pena de 10 prisões perpétuas por seus crimes, já que na época de seu julgamento a cidade de Wichita – Kansas, não possuía pena de morte. Dennis, assumiu este codinome “BTK” pelo fato dele concretizar seus crimes em uma sequência um tanto macabra: Bind/amarrar, Torture/torturar e Kill/matar.

O Primeiro Crime
O estrangulador “BTK” como também é conhecido, leva sobre si crimes de cunho hediondos. Em seu primeiro assassinato no dia 15 de janeiro de 1974, Rader matou e estrangulou uma família inteira, a família Otero. A mãe, o pai e dois, dos cinco filhos do casal, os outros três estavam na escola. Seu sêmen foi encontrado no local, o que indicava que ele sentia prazer ao matar. Em todas as mortes, BTK sempre asfixiava as vítimas para ter a certeza de que elas estavam realmente mortas. Suas sequências meticulosas de assassinatos, sempre seguia um rito para todas as suas vítimas.  Neste dia, a última a morrer foi Josephine Otero, na época com 11 anos. Depois de matar os pais, Rader assassinou seu irmão e, em seguida ela. O corpo da garotinha foi amarrado e encharcado com esperma do criminoso. O mesmo, teve todo o “cuidado” de limpar o corpo, após cometer as atrocidades.

Na época, a polícia prendeu três suspeitos pelo assassinato da família Otero, mas Dennis não conseguiu lidar com isso, precisava de publicidade. Foi então quando o BTK escreveu uma carta detalhando o crime e a colocou dentro de um livro, que deixou em uma biblioteca da cidade. O criminoso deu um jeito de informar a imprensa sobre o fato, mas sem revelar sua identidade. Quando os jornalistas foram investigar a “pista”, descobriram a carta e comunicaram a polícia. Começava então, a caçada das autoridades pelo assassino, eles só não imaginavam que isso duraria 30 anos.

O Fenômeno “BTK”
Outros dois crimes também foram cometidos por Dennis no ano de 1974, um deles é o assassinato de Kathryn Bright. A moça de 21 anos foi esfaqueada até a morte dentro de sua própria casa. Além de ter sido amarrada, foi encontrada parcialmente vestida com vestígios de sufocamento. Ao que parece, a polícia não relacionou a princípio a morte da jovem com o assassinato da família Otero. O outro crime, foi de Shirley Vivian de 26 anos, que foi encontrada amarrada e enforcada em sua cama com um plástico sobre a cabeça. Vivian, tinha três filhos, mas eles não sofreram nenhuma lesão e foram trancados no banheiro. Em uma das cartas que o assassino enviou a polícia, ele contou que o filho mais novo de 5 anos de Vivian foi quem tinha o deixado entrar, e enquanto matava a moça, foi interrompido por um telefonema.
 
Em 1978 Rader, resolve se comunicar com a mídia novamente, dessa vez enviando uma carta macabra em que confessava a autoria de sete assassinatos. Carta essa, que trazia consigo a descrição de seu procedimento padrão, que consistia em “amarrar, torturar e matar” (“bind, torture and kill”). E ainda disse que, “Como serial killers não mudam de modus operandi, não mudarei o meu”, disse BTK.
Dennis, ainda sugeriu apelidos a si mesmo “estrangulador poético” e “o asfixiador” estavam entre as opções, mas o que acabou pegando foi “assassino BTK”. O estrangulador ainda matou mais mulheres. Uma delas foi sua vizinha, Nancy Fox. Nancy teve seu corpo fotografado perto da igreja que eles frequentavam. Ele, mantinha certa rotina: espionar suas vítimas, invadir suas casas enquanto estavam fora e amarrá-las enquanto dormiam. Sendo assim, Dennis, fugia, deixando os corpos, ainda amarrados, para serem encontrados por qualquer pessoa. Em 1978, BTK enviou uma carta a estação de Tv do Kansas, reclamando a autoria dos assassinatos de Nancy e Shirley. Na carta havia um poema com o título “OH! Death Nancy to Nancy” (Oh! Morte para Nancy).


Um diferencial de BTK, é que ele, ao contrário de outros assassinos em série como Ed Kemper, não praticava necrofilia com os corpos das vítimas e nem os estuprava. Segundo ele, sua satisfação sexual ocorria enquanto estrangulava as vítimas.

Décimo assassinato
Dennis, fez sua última vítima no ano de 1991, entrando assim, numa espécie de período sabático. Nesse período, BTK viveu uma vida comum juntamente com sua esposa e dois filhos. Um fato muito importante é que ele participava de encontros em uma Igreja Wesleyana e liderava encontros de jovens escoteiros. Somente em 2004, quando o FBI já tinha fechado o caso “BTK” ainda sem encontrara respostas, que o estrangulador tornou a se comunicar com a mídia. A imprensa bateu forte na tecla de que um serial killer não para de matar: ou ele morre, ou é preso por algum outro crime. E isso, deixou BTK furioso. Foi então, que o homem resolveu escrever para a polícia depois de 25 anos em silencio. Ele só não imaginava que cometeria um erro crucial.
 
Gato e Rato
O religioso passou a enviar para a polícia pistas de diversas formas. Todas assinadas com um símbolo exótico, que a polícia já sabia ser do verdadeiro BTK.  No entanto, este símbolo era desconhecido pela imprensa e pela população em geral, com o passar do tempo as pistas foram evoluindo. Em dezembro de 2004, um policial achou uma caixa suspeita contendo uma boneca Barbie amarrada, assim como um dos membros da família Otero, tal como a carteira de motorista e Nancy Fox que foi encontrada no local. Um mês depois, a delegacia recebeu um cartão postal levando-os a rastrearem uma caixa de cereal jogada no lixo. Na caixa, havia uma pergunta: “Posso me comunicar por um disquete e não ser rastreado até um computador? Sejam honestos”. A polícia confirmou ao criminoso que era impossível de rastrear os disquetes. E “Voilá”, BTK deslizou.

Erro fatal
Alguns dias depois dessa comunicação, um envelope chegou à estação de TV KSAS, em Wichita, contendo um disquete roxo de 1,44 megabytes. O FBI, então, descobriu que o item foi utilizado em um computador da Igreja Luterana de Cristo e, ainda mais, o criador das pastas de arquivo era um homem que atendia pelo nome “Dennis”. A polícia, logo, conseguiu uma amostra de tecido celular da filha de Rader, Kerri, e a submeteu a um teste de DNA. O resultado da amostra permitiu que o material genético da jovem fosse ligado ao do pai, coletado em uma das cenas de crime de BTK. Dessa forma, em 25 de fevereiro de 2005, Rader foi abordado e preso pelas autoridades durante o caminho da sua casa. O assassino não resistiu a prisão: “Vocês me pegaram”, disse. Então, ele passou mais de 30 horas conversando com os oficiais responsáveis pelo seu caso, explicando detalhadamente como havia cometido cada um de seus assassinatos.



O julgamento
Em março de 2005, Dennis Rader foi oficialmente acusado de 10 assassinatos e sua fiança, fixada em US$ 10 milhões. O assassino se declarou culpado por todas as acusações e, mais uma vez, contou detalhadamente o que havia feito com todas as vítimas.

Paul Rader, ex esposa de BTK, divorciou-se em uma separação de emergência. Os outros integrantes da família demoraram para se recuperar das acusações. O filho de Rader se mantém fora da mídia, mas sua irmã, Kerri, escreveu uma autobiografia e relatou, em algumas entrevistas recentes, trocar cartas com o pai. “Percebi que estava apodrecendo por dentro. Eu não perdoei meu pai por Deus. Eu tive que fazer isso por mim mesma”, disse a filha do assassino BTK. 

A Análise Do Assassino em Série
Muito se falou a cerca dos crimes de Rader, e da brutalidade com que ele matava. Entretanto, pouco se tem em relação a análise do perfil do assassino “BTK”. Pensando nisso, procuramos e conversamos com a psicanalista e perita uudicial, Maria Denisa dos Santos. Para ela, trata-se de um caso de Psicose paranoica grave. Quanto ao estado de vulnerabilidade das vítimas a forma de abordagem apresentada pelo agressor faz parte do comportamento do criminoso no local do crime onde o estilo de aproximação é o ataque relâmpago (blitz) ou surpresa. O ataque pode ser meticulosamente planejado. “De acordo com Nasio em 2001, toda psicose é uma doença de defesa. É uma luta constante, por este motivo ele mata, onde o indivíduo constrói variadas questões, delírios, alucinações, para não se deparar com uma dor insuportável onde não há possibilidade de troca, ficando o sujeito estagnado, rejeitando radicalmente fragmentos da realidade, que geralmente lhe expõe. Na teoria freudiana é uma defesa contra o desejo homossexual”, explica a psicanalista.

Quanto a definição de Rader, muito se questionou sobre o que ele realmente é, um assassino, um serial killer ou um estuprador

A perita explica também que, a maior parte dos homicidas em série não são psicóticos e que geralmente tendem a ser mais dominados por traços da personalidade psicótica, no entanto, o homicida visionário é impelido para o ato porque tem visões ou ouve vozes. Lembrando que o termo “em série” diz respeito a uma característica comportamental do agressor que reflete um processo psicológico que o impulsiona a reincidir de forma análoga. Uma característica de “BTK” que chamava muita a atenção, era que ele enviava cartas para a polícia, o que fazia parecer com que ele quisesse ser pego, ou não tivesse medo das autoridades. Mas, Maria explica que se trata de um tipo de crime cuja tipologia refere-se à agressores tipo organizados. “Apresentam um QI médio ou alto por este motivo desafiam   as autoridades por se julgarem extremamente inteligentes e apresentam o hábito de acompanhar cobertura jornalística de seus crimes”, conta Maria Denisa.


Por que Mulheres?
A Perita revela que, o fato das vítimas de Dennis em sua maioria serem mulheres, diz muito sobre a fato dele poder ter algum tipo de ódio pelo sexo oposto. Isso se confirma quando mesmo após assassinar suas vítimas, ele ainda asfixia as mesmas.
Partindo da hipótese do quadro de psicose paranóica, com delírio alucinatório e visual grave, a luta contra o desejo da homossexualidade acontece quando ele está em momentos de delírios. Ele pode estar sendo perseguido por um delírio onde para ficar livre disso, ele alucina a imagem de um homem. Um homem que traz uma característica de atração, e isso atrai ele para a situação de desejo, como se fosse um imã.
Nesse instante ele se veste de mulher, porque a partir deste momento, assim como mostra as imagens, ele se fotografa. A partir desse momento para se ver livre desse outro alguém que é violento (a figura do homem), a raiva dele é ter que se vestir de mulher. Para dar conta disso, o delírio, o ímã vêm. ‘Eu tenho que me disfarçar’, e aí entra a camuflagem da realidade que o desejo trás. A raiva dele, para se ver livre disso, tudo indica, é ele ter que se vestir de mulher”, exclama a psicanalista.



Ela ressalta que, dizer que o BTK tem raiva de mulher, é coerente pelo tipo de morte que ele provoca. Mesmo estrangulada, ele ainda tem a alucinação que elas estão vivas, para ter a certeza de que elas estão mortas.

O Membro da Igreja Luterana
O que pode ter chamado muito a atenção da população na época em questão, é que Rader era um membro frequente de sua Igreja em Witcha-KA. “Quando ele vai para uma igreja, o ritual religioso no momento, da a ele a sensação de um amarramento, de amarrar essas estruturas, essas emoções. E o afrouxamento vinha em um delírio, nesse momento, a situação vem do imaginário para o real”, informa Maria.

Rader buscava a religião, porque a partir do momento que ele tinha que se firmar diante de uma posição, isso traz a ele a sensação de um amarramento, onde traz a sensação de que ele não vai mais ter o delírio. Que isto não existe. Ele amarra a cada instante, cada vez que ele atravessa seu ritual religioso, retomando principalmente a questão do preconceito e recusa que ele sentia por ele mesmo. Para a perita, Rader era um criminoso de perfil organizado. É como se tudo que estivesse ocorrendo naquele momento fosse uma coisa normal. O momento em que ele está fora da realidade. “Para nós é dessa forma. Para ele, tudo aquilo era necessário acontecer para que ele pudesse existir enquanto homem. Homem da sociedade, enquanto homem que não vai ser discriminado, enquanto homem julgado pela sua orientação sexual, e pela opção do seu desejo sexual”, conta Maria Denisa.

Para BTK, tudo o que aconteceu é uma realidade, e a morte é a defesa dele contra isso tudo. Para não ser tomado e nem levado. 
É como se fosse uma tempestade, um vendaval. Quem vem, tirar tudo do lugar, e passa. Qual é o comportamento das pessoas depois que passa um vendaval? É de estar organizando e colocando tudo no lugar, se a gente pensar que nesse vendaval e nesse desejo homossexual de uma forma deturpadada a gente pode pensar que dentro deste cenário, a mulher é o alvo”, concluiu a Perita e Psicanalista, Maria Denisa.
 
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