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25/06/2020 às 22h26min - Atualizada em 25/06/2020 às 21h56min

Como as premiações do cinema refletem a desigualdade e o racismo

Em toda história do Oscar , apenas 45 negros ganharam o prêmio

Júlia Victória - Editado por Bárbara Miranda
Não é novo que a diversidade não é um forte da indústria cinematográfica. Ao longo dos anos surgem novas críticas pela falta de representatividade nesse ramo e é possível observar isso tanto pela quantidade de papéis que as minorias ocupam tanto pela ausência delas nos maiores do cinema.
 
Em 2019, as premiações até tentaram. Foi o ano com o maior número de negros vencedores no Oscar: sete. Pantera Negra se consagrou como o primeiro filme de super-herói a ser indicado no Oscar e os atores chegaram a ganhar o prêmio de Melhor Elenco, reconhecimento concedido pelo Sindicato dos Atores. Apesar de ser uma evolução, ainda é muito pouco e, considerando as edições anteriores e as seguintes dessas premiações, pode-se dizer que é um caso isolado.  
 
Analisando da primeira edição do Oscar, em 1929, até a de 2016, dos 1.663 atores que foram indicados, apenas 66 eram negros. Das mais de 3 mil estatuetas que entregues, em seus 92 anos, apenas 45 foram concedidas a negros.
 
Recentemente, iniciou-se um movimento para mostrar esse desequilíbrio: o #OscarTooWhite (#OscarMuitoBranco). Esse embranquecimento foi explicitado na cerimônia de 2016, quando nenhum negro concorreu nas categorias de atuação. O debate ficou mais intenso quando o diretor Spike Lee e o ator Will Smith boicotaram o evento como forma de protesto.
 
O anfitrião do Oscar daquele ano foi o comediante Chris Rock. Ele ocupou o posto pela segunda vez e iniciou seu monólogo crítico com uma ironia:
 
“Bem-vindos aos prêmios da Academia, também conhecidos como os prêmios decididos por pessoas brancas [...] Se escolhessem também os apresentadores, eu também não teria este emprego. Vocês estariam vendo o Neil Patrick Harris [...] este é o Oscar mais louco para se apresentar, com toda essa controvérsia, nenhuma indicação para negros, e as pessoas dizendo: 'Você deveria boicotar, você deveria desistir'. Por que será que são só as pessoas desempregadas que falam para você desistir de alguma coisa? Eu pensei em desistir. Eu pensei seriamente. Daí eu pensei: eles vão fazer o Oscar de qualquer jeito. Não vão cancelar só porque eu desisti”
 
Como já dito, 2019 teve o retrospecto mais positivo de sete vencedores negros com vitórias nas categorias de Melhor Animação, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator e Atriz Coadjuvante, Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte. Mas a evolução que se deu em 2019, não foi vista em 2020. Na última cerimônia, havia menos de sete negros concorrendo.
 

Essa desigualdade se espalha também pelos que escolhem os que irão participar da disputa. De acordo com os dados da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, são mais de 9 mil membros aptos a votar, sendo que 84% deles são brancos e 68% são homens.
 
Até hoje, apenas três diretores negros foram indicados, mas nenhum foi premiado e apenas um filme levou o reconhecimento máximo da noite: “12 anos de escravidão”. Quando o olhar é expandido para indígenas, hispânicos e asiáticos, a desigualdade aumenta. Dos 433 concorrentes a Melhor Diretor: sete são hispânicos e seis asiáticos. Apenas quatro mulheres concorreram a essa categoria, só uma ganhou: a diretora Kathryn Bigelow, de Guerra Ao Terror, em 2011.

 
Fonte : Mark Ralston / AFP via Getty Images

Na cerimônia do Oscar desse ano, a Academia surpreendeu a todos ao dar os principais prêmios da noite ao filme Parasita e ao diretor sul-coreano, Bong Joon-Ho. Surpreendente, afinal, porque demorou 92 anos para dar a estatueta de Melhor Filme a uma produção em língua estrangeira. Inesperado se pensar que ao lado de Bong, estava Tarantino, Scorsese e o ganhador do Globo de Ouro e o favorito da noite, Sam Mendes, diretor de 1917.
 
No Globo de Ouro, dos 1009 competidores das categorias mais importantes da TV e cinema, apenas 73 eram negros. No prêmio da Academia Britânica de Cinema, o BAFTA, a situação se repete. Em 2020, não haviam negros nas principais categorias e foi levantada um hashtag semelhante à levantada para o Oscar: #BaftasSoWhite (Bafta tão branco). Uma das polêmicas envolveu a atriz Margot Robbie, indicada duas vezes na mesma categoria por personagens diferentes.
 
Essa desigualdade reflete a falta de representatividade na produção dos filmes. Segundo o centro de pesquisa americano Annenberg da USC, 73,1% deles são produzidos por brancos.
 
Após as manifestações contra o racismo que aconteceram pelo mundo, espera-se que os membros que realizam as escolhas dos indicados nessas premiações e as produtoras que selecionam os elencos para os filmes tenham mais consciência. O Oscar anunciou que vai trabalhar com o Sindicato de Produtores da América para desenvolver ações igualitárias. Mas infelizmente, essa mudança só vai ser vista em 2022 porque a regra não vale para a cerimônia do ano que vem.
 
REFERÊNCIAS

 
G1. Oscar 2019 bate recorde com maior número de prêmios para profissionais negros e para mulheres. Disponível em:  <https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/oscar/2019/noticia/2019/02/25/oscar-2019-bate-recorde-com-maior-numero-de-premios-para-profissionais-negros-e-para-mulheres.ghtml>. Acesso em: 25 de junho de 2020.
 
Rafael Aloi. Oscar foi entregue para negros apenas 44 vezes na história. Disponível em :  <http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-151831/#:~:text=Mais%20de%203.100%20estatuetas%20foram%20distribu%C3%ADdas%20em%20todas%20as%20edi%C3%A7%C3%B5es%20do%20pr%C3%AAmio.&text=O%20Oscar%20chega%20%C3%A0%20sua,a%20primeira%20cerim%C3%B4nia%20em%201929>.Acesso em 25 de junho de 2020.
 
Estadão.POLÊMICA NO OSCAR.Disponível em : <https://infograficos.estadao.com.br/caderno2/oscar-polemica-racial/ >.Acesso em 25 de junho de 2020.
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