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26/06/2020 às 11h00min - Atualizada em 26/06/2020 às 10h43min

A contribuição da literatura na luta antirracista

A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil

Adélia Fernanda Lima Sá Machado - Editado por Bruna Araújo
Foto: Reprodução/Google
A mudança cultural que salva exige a transformação de mentalidades moldadas pelo racismo, fundamentadas no distanciamento da noção de igualdade humana, alimentadas pela força destruidora da separação motivada pela cor da pele, religião, nacionalidade, classe social e gênero. É esse o parágrafo que inicia o livro: “Ensaios sobre racismos”, que demonstra de forma direta a desigualdade racial e social existente no Brasil. Contudo, a falta de conhecimento sobre o assunto leva a opacidade da população frente aos acontecimentos injustos e desiguais.
 
Em uma casa de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, João Pedro, adolescente negro de 14 anos, se encontrava reunido com mais cinco jovens quando foi baleado com mais de 70 tiros por uma ação policial na cidade. O caso foi denunciado para a Organização das Nações Unidas (ONU) e ganhou destaque nacional com poucas informações dos desdobramentos das investigações e punições.
 
Na porta de uma loja em Minneapolis, George Floyd, 46 anos, homem negro, afro-americano, ficou por oito minutos e seis segundos sem respirar durante uma abordagem policial, na qual o policial imobilizou a vítima. A morte de George causou uma onda de protestos contra o racismo e a ação policial violenta, que teve início em Minneapolis, nos Estados Unidos, mas terminou por se espalhar por vários países do mundo.

Os protestos chegaram e se desenvolveram no Brasil por meio de debates, lives, apresentação de livros e uso de hashtags como #blacklifesmatter. Muitas foram as editoras, sites e perfis que produziram listas de livros e séries para serem consumidos com o intuito de agregar conhecimentos sobre a temática da raça, lugar de fala e representatividade na sociedade brasileira, dessa forma, demonstrando que a luta antirracista vai além dos protestos sobre o asfalto da rua.

Os conceitos trazidos pelos livros e séries indicados podem soar como novos para uma boa parte da população brasileira, mas para Paulo Henrique, 22 anos, estudante de Design, jovem negro, do interior do Maranhão, não. Ainda adolescente, ele chegou a questionar sua própria cor. Ao assistir às novelas com sua avó, percebeu a falta de representatividade nelas, assim como o engessamento de locais sociais do povo negro. Questionado sobre o sentimento de representatividade atual, o universitário afirma que, apesar de passos lentos, sente-se representado por nomes de mulheres negras na música e na literatura, como Iza e Djamila Ribeiro.

A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. João Pedro faz parte desse assustador número. O índice de jovens discriminados diariamente no país ainda é bem maior e acontece em um menor intervalo de tempo. Maria Eduarda, jovem de 20 anos, acadêmica de Pedagogia, relata que ainda no 6° ano do Ensino Fundamental foi excluída de jogos e brincadeiras pelas próprias colegas de turma, por intervirem e a considerarem “uma menina preta”.

Todo mundo tem lugar de fala, pois todo mundo é localizado socialmente, assim Djamila Ribeiro, pesquisadora e filósofa, afirmou em uma entrevista concedida ao canal do YouTube “Curta! Livros”, desmistificando, de fato, quem pode ou não tratar sobre as questões raciais e, por conseguinte, lutar pela igualdade racial.
 

De fato, a literatura contribui para essa e demais lutas, nas quais consegue demonstrar realidades que muitos não vivem como protagonista e não conseguem enxergar a existência. A luta antirracista não deve ser momentânea, dessa maneira, os conhecimentos que a leitura pode trazer devem se estender para as ações, colaborando com a consciência da sociedade frente aos atos de discriminação e violência contra a comunidade negra.
 

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