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29/06/2020 às 10h08min - Atualizada em 03/07/2020 às 07h30min

Bem-vindos ao Brasil

A saga enfrentada por pessoas que buscam um recomeço em terras brasileiras

Juliana Aguiar - Editado por Alinne Morais
Cruz Vermelha MS
Refugiados cruzam fronteiras mundo à fora. Foto: Reuters/Ricardo Moraes
Eles são muitos, milhares. Guerras, economia oscilante e instabilidade climática são apenas alguns fatores que podem transformar um cidadão em refugiado. Termo que, de acordo com o historiador e sociólogo Paulo Cabral, identifica pessoas que não encontram espaço em seus locais de origem e que tem crescido de forma acentuada no mundo foi inserido. Palavra que acabou tornando-se comum aos brasileiros e que traz uma bagagem carregada de conflitos, incertezas, lutas, superação e o sonho de um futuro próspero.

Todos esses cenários fizeram com que o Brasil entrasse na rota de países procurados por quem busca refúgio. Não, nem todo estrangeiro que se muda para o Brasil fez planos, juntou dinheiro, estudou sobre as potencialidades de cada região, e muito menos, chegou com emprego garantido. Tampouco imaginaram uma mudança em meio à uma pandemia. Te convido a conhecer um pouco mais da situação dessas pessoas, que acabam em muitos casos, sendo marginalizadas e discriminadas pelo simples fato de serem estrangeiras, mas que vieram para o Brasil apenas por uma questão de sobrevivência.

Você sabia que existe o Dia Mundial do Refugiado? Sim, esse dia existe e é celebrado no dia 20 de junho, desde o ano de 2001, quando na Resolução 55/76 Assembleia Geral das Nações Unidas, notou que aquele ano marcava o 50º aniversário da Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados. A data vem como forma de lembrar a todos da existência desses milhões de pessoas ao redor do mundo que foram obrigadas a abandonar seus países. Segundo dados da ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), estima-se que até o fim de 2019, 26 milhões de pessoas em todo o mundo tornaram-se refugiados. 

Mato Grosso do Sul, estado com pouco mais de 2.700 mil habitantes, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), faz fronteira com o Paraguai e a Bolívia. Fronteiras que se cruzam a pé, na maioria das vezes, sem fiscalização alguma, portanto, conviver com pessoas vindas de outros países, não é algo novo. O que muda é a situação em que os refugiados, em sua maioria venezuelanos e haitianos, chegaram ao estado: em grande quantidade e como modo de sobrevivência, pedem ajuda nas esquinas, semáforos, praças e parques.

Por conta dessa realidade, alguns órgãos governamentais e não governamentais se mobilizaram com o objetivo de receber esses grupos que chegam ao país, e que além da situação de refugiados, precisam lidar com a pandemia causada pelo Covid-19. Um desses órgãos é a Cruz Vermelha Mato Grosso do Sul que oferece ajuda com prestação de serviço social, como o programa Operação de Apoio ao Migrante.



De acordo com José Ramires, Coordenador de Programas Humanitários da Cruz Vermelha Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, essas pessoas entram no Brasil e são acolhidos assim que atravessam a fronteira pelo estado de Roraima sendo encaminhados para um abrigo, onde é feita uma triagem e já recebem as primeiras assistências médica e apoio psicossocial. No Brasil, somente a filial de São Paulo realizava esse trabalho de acolhimento e RLS (Restabelecimento de Laços Familiares), um trabalho conjunto com outras entidades parceiras, como o Exército Brasileiro e Cruz Vermelha de outros países, onde o contato com familiares é feito de modo seguro respeitando protocolos de manipulação dados do refugiado e sua família, sempre respeitando a legislação de cada país.

O estado de Mato Grosso do Sul só entrou na rota de acolhimento ao refugiado em 2019, quando um empresário comprou, na região sul do estado, uma empresa e começou a empregar imigrantes venezuelanos. “A gente tem recebido mais pessoas da Venezuela e do Haiti, é a população com quem mais estamos trabalhando, principalmente em condição de rua, mas também temos sírios, senegaleses, colombianos, espanhóis e mexicanos”, explica, José Ramires.

Pessoas que chegam fragilizadas fisicamente e emocionalmente, relata Ramires: “Nós já recebemos uma família que ao chegarem ao Brasil descobriram que tinha familiar com câncer. Estavam muitos fragilizados emocionalmente com histórias de vida bem complicada".

Depois de um período de adaptação, os refugiados aprendem a língua portuguesa e uma qualificação profissional. É nesse momento que a Cruz Vermelha começa a procurar uma pessoa que seja um tutor desse imigrante, pelo período de um ano. Quando saem do abrigo, eles já têm status de refugiado, que não tem prazo de validade, emprego, escola, programas sociais existentes no Brasil. Todo o processo é acompanhado por agências que cuidam dos refugiados no Brasil, como ACNUR Itamaraty.

José Ramires ressalta que os projetos futuros incluem o acompanhamento da vida do refugiado após o encaminhamento dado pela Cruz Vermelha, entretanto, a pandemia acabou dificultando esse processo, porque precisaram remanejar recursos de uma finalidade para aplicar em outra, como é o caso da compra de cestas básicas, por conta da situação da pandemia, pois os refugiados são os primeiros a perderem empregos,  a não terem acesso aos serviços de saúde.




Para o sociólogo Paulo Cabral, ser refugiado não é uma coisa nem boa, nem ruim. “O modo a sociedade vai lidar com essas pessoas vai lidar com essas pessoas, vai determinar como será a experiência”. E acrescenta que tendo como base a realidade social de Mato Grosso do Sul, o estrangeiro recebe mais desprezo do que ódio: “Em MS a questão dos refugiados não é muito exposta como em outros lugares. Mesmo porque, sendo em pequeno número, eles conseguiram, de alguma maneira se inserir, salvo aqueles que vemos pelas ruas com cartazes, pedindo ajuda, o que não sei se seria também razão de algum tipo de oportunismo, porque sabemos que há a pastoral do migrante e a Cruz Vermelha que fazem esse acolhimento. O refugiado vai se converter em um estigma, a depender da relação que você tenha com essa categoria de pessoas. Se você tem um grupo xenófobo, se você tem um grupo fascista, que não aceita a vinda dessas pessoas, ser refugiado vai significar uma carga negativa porque receberá dessas pessoas hostilidade e intolerância. Agora, se se tratar de um grupo compassivo, que entenda a importância da solidariedade internacional, compreenda que e preciso acolher essas pessoas que se encontram em uma situação de extrema adversidade, por não permanecerem em seus lugares de origem, aí o ser refugiado, seixa de ser um problema e pode até favorecer um acolhimento e uma integração”, finaliza. 

Vale ressaltar que a Cruz Vermelha Mato Grosso do Sul continuará realizando ações de apoio ao migrante durante a pandemia, com orientações de higienização correta das mãos, reforço de decretos municipais, como uso obrigatório de máscaras, além de seguir com serviços de orientação jurídica, apoio social, apoio médico, psicológico. Há ainda a inclusão do serviço de intérprete, onde um haitiano que fala vários idiomas auxilia aos que chegam ou apenas passam por Campo Grande.

   

Saiba mais em https://www.cruzvermelhams.org.br/

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