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03/07/2020 às 00h52min - Atualizada em 03/07/2020 às 00h50min

A balela do neoliberalismo

Junio Silva - Editado por Bruna Araújo
Jorge William
O povo não é besta.

Mas tem gente que não entende. Aqueles que só sentem quando o calo aperta no próprio pé.

Pra galera com diplomazinho embaixo do braço, é fácil. Agora vai perguntar se trabalhador, que saí de casa pra pegar o busão antes do nascer do sol e volta só ao anoitecer, o que não teve tanta oportunidade na vida, se ele tem tempo pra discutir teorias políticas, qual modelo econômico seria melhor para o país, esse papo todo.

Semanas atrás, o projeto de lei 4.162/2019 foi aprovado pelo Senado Federal. Mais uma mostra de que tem gente querendo vender o Brasil. Na prática, sem o jurisdiquês da coisa, essa nova lei facilita a privatização do setor de saneamento no país. Tão querendo transformar a água – e tudo que ela envolve – em mercadoria.

Neoliberais fazendo o que mais gostam: buscar o lucro acima de tudo.

Um jeito de tocar a economia que pode enganar. Acreditam que, pra coisa toda andar, o Estado não tem que meter o dedo em nada. O próprio mercado, segundo quem pensou essa teoria, é que deve se auto-regular, criar suas próprias regras. E quando não tem ninguém pra dar um freio, já viu.

Pode ser sucesso, mas só pra alguns.

Um assina os papéis e vê o lucro entrar, o outro rala pesado.

Privatizando quase tudo, inclusive estatais e serviços públicos, é isso que acontece.

O atual ministro da Economia do país, inclusive, é mais uma cria da Universidade de Chicago, responsável por ser o berço dos Chicago Boys, um grupo de jovens economistas chilenos que passaram por lá.  Os mesmos responsáveis por implantar o modelo sócio neoliberal no país vizinho, ainda na ditadura de Pinochet.

Quase a mesma coisa que jogar no bicho. Quem aposta tem esperança de ganhar algum trocado, da coisa melhorar. Mas no fundo, quem fatura mesmo é o bicheiro.

Os dois – neoliberais e bicheiros – não tão muito preocupados com o povo. Pelo contrário, se apegam na fragilidade humana chamada esperança para que seus negócios cresçam e o bolso fique mais cheio.

Político tem lábia boa, quem estudou sabe o jeito certo de falar as coisas. O discurso bonito sobre a lei que facilita o governo largar mão de fornecer o básico, como água e tratamento de esgoto, jogando isso na mão de grandes empresas que fazem do jeito que querem, até engana. Mas o buraco por trás desse papo de democratizar o acesso a água no país é bem mais embaixo.

Agora vai colocar toda essa parada na cabeça do trabalhador braçal, no analfabeto, que viu no jornal das nove uma notícia de que os homens de terno e gravata aprovaram uma lei que ia facilitar o sistema de esgoto finalmente chegar no bairro.  

Vai tentar enfiar toda essa teoria goela abaixo em quem viveu a vida inteira com o esgoto passando na frente de casa e nunca viu ninguém fazendo nada.

Quem move o Brasil são os Josés, Marias, os Silva. O povo que precisa, antes de viver, sobreviver.

Uma galera gritou, esperneou, criou coreografias, fez textão na internet, quando o projeto de lei entrou em pauta no legislativo. Mas esses aí, os que acham que alguma coisa vai mudar em discussãozinha universitária em mesa de bar, quase não botam medo nos homens do poder.

O grande problema de intelectual é achar que pobre não entende nada de política. Podem até não serem ligados em teorias, sociólogos, filósofos, nos números da economia. Uns não nasceram com a bunda virada pra lua. Não sobra muito tempo pra teorizar quando na prática a geladeira tá vazia. Mas na vivência do dia a dia, não param de fazer política.

A desigualdade, falta de direitos, concentração de renda, o efeito das privatizações. Tudo que vem junto com a política neoliberal, é vivido pelo povo não em papinho militante, mas na pele.

Quando começa a ficar caro botar comida na mesa, pagar todas as contas do mês.

Falta entender que toda a balela de políticos e economistas podem até colar. Mas o povo não é besta, e eles duvidam disso.

Ano passado o Chile pegou fogo. Os protestos contra o modo neoliberal de governar começou com estudantes que reclamavam do aumento em passagens de transporte público. Mas não demorou para que outros setores da sociedade aderissem as manifestações, inconformados com o preço que se paga pra viver por lá.

Água, transporte público, saúde, educação, rodovias, previdência social. Por lá a privatização rolou solta. O chileno tem que desembolsar um trocado pra quase tudo .

Uma hora cansa, pesa. Se pra muita gente já é difícil pagar as contas e sobreviver, imagina se ainda criarem mais coisas que vão fazer a pilha de boletos aumentar?

Se não pagar não tem, mesmo que seja algo de necessidade básica. Quase um direito da humanidade.

Parece que o bicho pegando no país vizinho por conta de todos os problemas que esse modelo de economia e política causou não serviu de exemplo pra quem comanda a economia nacional.

Se um dia a massa for pra rua contra esse jeito de tocar as coisas, o negócio pode ficar feio. Discursos retóricos são bonitos na internet, acham fácil a solução pra tudo, mas não parecem ser tão efetivos quanto trabalhadores indignados. A história prova

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