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03/07/2020 às 10h39min - Atualizada em 03/07/2020 às 10h35min

Como a pandemia conseguiu revelar a desigualdade social no Brasil

Uma análise do livro: "Capitães de areia", de Jorge Amado

Adélia Fernanda Lima Sá Machado - Editado por Bruna Araújo
Livro: Capitães de Areia, IBGE.
Companhia de Letras- capa da Obra
 Em um trapiche, na Bahia, vive um grupo de meninos abandonados pelos familiares, governo e sociedade. Desassistidos pelo poder público, visualizam o crime como forma de sobrevivência. Apesar da vida marginalizada e bestializada desses meninos, não deixam de lado a aspiração de dias melhores e pensamentos de ingenuidade, inerentes a qualquer criança ou adolescente em formação.
 
O grupo de meninos citado anteriormente, foi apresentado em forma de livro, em 1937, por Jorge Amado em “Capitães de Areia”. Apesar do tempo decorrido da obra, exatos 83 anos, a atual realidade não se diferencia muito. São milhares de crianças, jovens e adultos em situação de rua e de marginalização, por total descuido dos poderes públicos.
 
Em 2018, o Brasil chegou ao recorde de pessoas vivendo em situação de miséria, o IBGE, contabilizou 13,5 milhões de pessoas. Apesar do assustador número, boa parte da população não consegue visualizar esse cenário. Isso parte dos próprios representantes políticos, há quase 1 ano atrás, por exemplo, o então presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, afirmou que: “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira.”, o que contraria todos os índices de pesquisa realizadas.
 
Embora pesquisas sejam feitas ano após ano, onde objetivam mostrar a discrepância que existe no Brasil em relação as questões sociais, foi com o decorrente ano, 2020, que o assunto ganhou destaque em várias pautas e mais pessoas conseguiram visualizar que a realidade não se limita apenas a literatura. O novo coronavírus veio para lançar luz sob a temática. Com mais de três meses de isolamento social, escolas e pequenos negócios vieram a ser fechados, como forma de prevenção.
 
No início do mês de abril, foi lançado pelo Governo Federal um benefício financeiro destinado a trabalhadores informais, microempreendedores individuais, desempregados e cadastrados do bolsa família. Contudo, a realidade é que até o corrente mês, julho, milhares de pessoas que estão aptas a receber esse benefício, não foram aprovadas.
 
“Conheço várias realidades de casas que tem cinco, sete filhos. E a gente sabe que o auxílio emergencial não vai conseguir sanar as necessidades de uma família como essa", afirma Marcos André, de 20 anos, fiscal sanitário na cidade de Sucupira do Riachão, uma comunidade do interior do Maranhão. Isso revela a situação de várias famílias que vivem de forma marginalizada e que terminam por se tornar invisíveis da sociedade.
 
O livro de Jorge Amado, citado no início da matéria, evidencia a veracidade do cotidiano de pessoas que convivem diretamente com o descaso e invisibilidade. O autor consegue desmistificar a visão de que esses indivíduos que vivem na marginalidade são más. A partir desse contexto, ele apresenta a realidade e o porquê do roubo de crianças que foram abandonadas e passam fome. Dessa forma, consegue explicar números como o das cidades de Farroupilha e Vacaria, ambas municípios do Rio Grande do Sul, que apresentaram números crescentes de roubos, em 2020, mesmo em período de isolamento social e de restrições nas cidades. O que evidencia a necessidade de uma parte da população em cometer ações como essa, por ausência de assistência política.
 
“Já cheguei a aplicar uma prova para testar o rendimento de aprendizagem da turma e percebi que um aluno não conseguia resolver nenhuma questão, estando com o pensamento longe. Perguntando o que se passava, o aluno disse: tia, estou com fome, não tomei café hoje”, disse Rosária Lima, de 44 anos, professora de Educação Infantil, de escolas de comunidade, afirmou após ser indagada sobre a realidade que chega a visualizar em seu dia a dia na cidade de São João dos Patos-Maranhão.
 
Nesse momento, mais do que nunca é necessário se pôr no lugar do outro, são várias realidades pelo Brasil, e que não se limitam a enredos de livros. Existe o termo de que a vida imita a arte, mas o que mais acontece é que a arte faz da realidade a sua base e a torna como reflexo, tendo como objetivo alcançar mais pessoas sobre a temática de questões sociais.
 

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