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03/07/2020 às 23h54min - Atualizada em 03/07/2020 às 23h42min

O aprendizado histórico de gerações

A Disney foi responsável pelo aprendizado histórico de muitas gerações e pode ser uma ótima opção para os pais, professores e responsáveis

Maria Luiza Machado - Editado por Letícia Agata
A História do Mundo Para Quem Tem Pressa
The Walt Disney Company/Wikipedia Commons
A Walt Disney Studios foi criada em 1923 pelos irmãos Walt e Roy Disney. O objetivo de ambos desde o princípio era divertir o público familiar, mas principalmente as crianças. Esse propósito ainda segue muito bem consolidado e diversas gerações seguem assistindo e se divertindo com a magia reproduzida nas grandes telas do cinema.

Porém, o que poucos percebem é que essas animações são capazes de contar, de maneira muito delicada, partes da história da humanidade, como por exemplo a Segunda Guerra Mundial, colonização da América do Norte, a perseguição de ciganos na idade média, a crença nos deuses gregos e até mesmo a peste negra.
 
Peter Pan 2: De volta à Terra do Nunca e a Segunda Guerra Mundial
 
Na sequência do clássico de 1953, nós iremos acompanhar Jane (Filha de Wendy) em uma aventura para descobrir que ser criança não é tão ruim assim. O filme se inicia em uma cena de guerra, na qual a protagonista sai durante uma noite de bombardeio para comprar meias para o irmão mais novo. O filme aborda, de forma delicada, os abrigos subterrâneos, os pais convocados como soldados e até mesmo os envios de crianças para casas de campo a fim de protegê-las.

O estudante de Licenciatura em História da UNIFESP, João Pedro Lupo, esclarece as formas de evacuações das cidades na época:
 
“O próprio governo tinha um sistema que regulamentava as evacuações. Em algumas cidades, apenas crianças eram evacuadas para casas no interior. Era necessária a comprovação da idade para o embarque de trem, mas algumas vezes adultos também eram retirados de municípios com muitos ataques”.
 
A animação tem como foco a infância, mas também mostrar qual era a visão das crianças que viram de perto uma guerra tão fria e genocida, e como os pais tinham que distraí-las enquanto o pior acontecia do lado de fora.
 
Pocahontas e a Colonização
 
A emocionante história de amor entre a nativa norte-americana, Pocahontas, e o inglês, John Smith, é a única história que foi baseada em fatos reais. O jovem colono gostava de contar às pessoas que os nativos o sequestraram e pretendiam matá-lo, mas a índia pulou na frente do pai e impediu o ato. A história faz parte do folclore norte-americano e muitas pessoas duvidam se ela é mesmo real, pois Smith gostava de inventar contos para impressionar as pessoas.

Porém, o que com certeza não é invenção, foi o processo de colonização contado durante a animação. Ao longo do filme, vemos a violência dos nativos e dos ingleses e a tentativa dos colonizadores de conseguir o máximo de riquezas possível daquela terra.
 
“Em termos de conquista, o processo de colonização do Brasil foi bem parecido! Uma pequena diferença que temos da colonização da América do Sul com a América do Norte, é que a segunda foi uma colônia de povoamento, então eles tinham o objetivo de povoar, mas no Brasil era uma colônia de exploração, onde o principal objetivo era fortalecer Portugal. A colônia de povoamento brasileira foi chegar algum tempo depois”, diz Lupo.
 
Apesar de ser focado na colonização dos Estados Unidos, o descobrimento de todas as américas foi parecido, já que fizeram parte do movimento das Era das Navegações e foram liderados por Europeus. Logo, podemos similar o processo mostrado no filme com o que aconteceu na América do Sul.
 
O Corcunda de Notre Dame e a Idade Média
 
Apesar da animação do Corcunda de Notre Dame ter sido lançada em 1996, sua história se passa no século XV e podemos ver influências da Idade Média e do início do Iluminismo, conforme a narrativa vai passando. A grande influência da igreja e a perseguição das minorias é o foco principal da película, e certos momentos beira o bizarro. Porém, o longa consegue dar uma aula de história supercompleta e detalhada de como a religião pode influenciar uma sociedade.

João Pedro também aborda a importância de explicar a diferença entre o bem e o mal para crianças:
 
“No caso do Corcunda de Notre Dame, a crítica abordada para crianças é saudável! Pode ser visto a maldade, o pecado, a hipocrisia do antagonista e ele utilizando a fachada religiosa na qual ele realmente acredita para justificar suas atitudes! [...] E quem o mesmo diz ser mal, na verdade é bom!”
 
Hércules e a Mitologia Grega
 
Essa é com toda a certeza a animação com costumes e momentos históricos mais escancarados. Hércules mostra, de forma explicita, a cultura da antiga Grécia. O filme consegue expor com muito humor o culto a outros deuses, arquitetura e costumes riquíssimos da antiguidade.

O futuro professor também aponta como as animações podem atiçar o interesse das crianças em História:
 
“A Disney romantiza a mitologia grega em Hercules, justamente para ficar acessível ao público infantil. [...] A forma que o filme é contado, em formato de roteiro e storytelling, é importante para também gerar o interesse nesses assuntos”.
 
Em alguns momentos o filme também expõe de forma educativa o antigo movimento artístico, como as peças teatrais, esculturas e pinturas, que seguiam um padrão muito diferente da idade pós-moderna.
 
A Bela e Fera e a Grande Peste
 
Em 2017, a Walt Disney Studios lançou nos cinemas o live action de um dos seus maiores clássicos da Era da Renascença: A Bela e Fera. O filme não foi apenas uma refilmagem com atores reais, ele também trouxe detalhes muito importantes para cobrir alguns pontos vazios da história. De uma forma muito sútil, o longa conta que a mãe de Bela morreu de peste negra em Paris, quando a protagonista ainda era bebê. Essa cena mostra a máscara usada pelos médicos na época e até mesmo algumas marcas de sangue.
 
“A Peste Pneumônica era transmitida pela respiração de pessoa para pessoa e matou mais de 100 milhões de pessoas pelo mundo! Algumas cidades ficavam vazias, porque eles não tinham conhecimento e realmente achavam que o vírus ficava nas coisas, então muitos se mudavam para o interior, onde existiam poucos casos da doença. Estimular que a criança se interesse por temas e acontecimentos históricos é essencial para que ela tenha seu primeiro contato com a história! Isso vai ajudá-la em seu processo escolar, por exemplo! As ciências humanas são sobre ideias. Dentro da história nós temos vertentes de pensamentos diferentes sobre o mesmo tema, então a criança já vai ter contato com essa característica da história: as ideias! Estimulando também a criatividade do pensamento subjetivo, das discussões de ideias, análises e argumentações”.
 
Dessa forma nós, adultos, podemos instruir as crianças sobre a história da humanidade, ajudá-las a entender que nem tudo na nossa jornada foi bonito. E de uma forma lúdica, estimular também o interesse pelas ciências humanas.

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