Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
05/07/2020 às 17h16min - Atualizada em 05/07/2020 às 17h05min

365 Dias: um filme que colabora para a cultura do abuso

A obra de 2020 errou com seu machismo que enaltece relações tóxicas

Luhê Ramos - Editado por Letícia Agata
O filme ‘365 Dias’ (originalmente 365 DNI) entrou para a cartela de filmes disponíveis da Netflix no início de junho deste ano. O filme, original da plataforma de streaming, é baseado em uma trilogia polonesa homônima, da autora Blanka Lipinska. Logo após o lançamento, já era possível verificar muitos comentários sobre o filme em várias das redes sociais. O longa estava “na boca do povo”, e não necessariamente de forma favorável. 
 
A história começa quando Laura, uma polonesa, vai para a Sicília de viagem com namorado e amigos. Massimo, um mafioso italiano, é obcecado por Laura há cinco anos, mesmo que eles não se conheçam. Ele aproveita a estadia dela na ilha e a sequestra. Na primeira conversa deles, o mafioso diz que a manterá presa ao seu lado e dará oportunidade para que ela se apaixone por ele. E acrescenta que caso isso não aconteça dentro de 365 dias, a libertará. 
 
Dentre os comentários dos espectadores sobre o filme nas redes sociais, é possível identificar, em uma grande quantidade, as mensões de perspectivas negativas. O problema é que são encontrados (facilmente) vários defeitos no filme, que chegaram a instigar discussões sérias sobre intimidação e abusos psicológico, sexual e machismo na indústria cinematográfica. 
 
Uma das disfunções do longa está no enredo base do filme: um homem que nunca falou com uma mulher pelo qual está apaixonado, com fixação, se acha no direito de sequestrá-la. Uma outra problemática surge quando Laura é julgada negativamente, por causa da roupa com decote que escolheu vestir. E o mafioso concorda. Ele, homem hétero-cis e com dinheiro, que se acha superior, não vê o que há de errado no relacionamento que está construindo. O filme glorifica o tráfico sexual e romantiza a relação abusiva dos dois personagens. 
 
Em sua primeira conversa com Laura, Massimo chega a afirmar que nunca a machucaria e que não a tocaria sem permissão. Acontece que, em várias cenas, há um limite ultrapassado pelo personagem masculino. Cenas essas nas quais Laura é mostrada presa ou acorrentada (sem seu consentimento), impedida de se mexer e onde não há quem vá ajudá-la, mesmo que grite. Em outro trcho, ele a puxa com força para si. Há o abuso sexual. 
 
Quando sequestrada, Laura chega a sofrer abuso patrimonial: Massimo retira dela o direito de ter acesso aos seus bens materiais, como seu celular e computador portátil. O filme ainda glamouriza a Síndrome de Estocolmo, quando Laura se apaixona ou se mostra apaixonada pelo amante e quando a representação que o público vê é de um casal feliz. 
 
A plataforma ainda chegou a receber pedidos para que houvesse a retirada do filme do streaming. O longa, classificado como um drama-erótico, não carrega uma mensagem positiva, muito menos ajuda o espectador a entender o que há de errado na relação dos personagens. Para um filme de 2020, falta muito para ter uma quantidade maior de críticas positivas. Um filme repreendendo a forma como uma mulher é tratada seria visto com outros olhos. 
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »