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08/07/2020 às 21h36min - Atualizada em 08/07/2020 às 21h34min

Os crescentes casos de abuso sexual com mulheres, vindo de motoristas de aplicativos

Não há dados precisos sobre o quantitativo de denuncias de estupros vindo de motoristas de aplicativos, segundo um levantamento feito pela The Intercept entre o ano de 2016 a julho de 2018, 46 casos de abuso sexual foram denunciados

Yvine Lorena Macedo Rodrigues - Edição: Giovane Mangueira
Portal Morada
Nos últimos anos o surgimento de aplicativos de motoristas fez com que a procura fosse cada vez maior, devido à praticidade e o custo benefício, contudo, o número de casos de abusos sexuais com passageiras é crescente e a falta de divulgação desses dados por parte das Secretarias de Segurança Pública resulta no aumento de subnotificação a respeito desse tipo de violência.

Segundo dados divulgados pela Pesquisa Nacional de Vitimização, estima-se que 92,5% dos estupros não são notificados no Brasil e, que, há poucas denuncias acerca do assédio sofrido pelas vítimas. No ano de 2018 a The Intercept fez um levantamento a partir de números obtidos das secretarias de segurança dos estados por meio da Lei de Acesso à Informação e constatou que, entre janeiro de 2016 a julho de 2018 houve 46 estupros, sendo dez desses casos estupro de vulneráveis. Essa análise foi feita com dados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.

A Pesquisa ainda mostrou que as mulheres apontam a punição de agressores de aplicativos com mais chances em relação a um transporte público, enquanto por aplicativos tem uma estimativa de 45%, os de transportes coletivos seguem com apenas 22%. Apesar dos dados mostrarem que existe uma chance maior de punição, as empresas de aplicativos de motoristas tem um sistema rigoroso dos dados pessoais tanto do passageiro, quanto do motorista, onde há muitos relatos de vítimas que foram a central local dessas empresas e as informações pessoais para a denúncia não foi fornecida.

Em muitos casos a vítima acaba sendo culpada, o agressor usa discursos como: “Ela que estava me assediando e eu não aguentei”, “A roupa que ela estava usando era muito curta”, “Ela estava alcoolizada, estava pedindo para ser estuprada” como justificativas para agressão cometida. Nessas situações a vitima deve procurar a delegacia da mulher para fazer um boletim de ocorrência contra o homem e buscar ajuda hospitalar, para a realização de exames e que ela possa tomar uma dose de coquetel de medicamentos.

Karoline Peres, conta que já foi vítima de assédio várias vezes em corridas por aplicativos, mas uma viagem específica a causou medo de vir a sofrer um abuso sexual. Em 2019 ela e um amigo tinham chamado um motorista após saírem de uma festa, mas o amigo desceu antes e ela seguiu, durante o restante da corrida o motorista fazia perguntas invasivas e com elogios constantes, até que perguntou se ela estava com medo e após responder que sim ele travou as portas do carro e ao chegar próximo ao seu destino ela não deixou a corrida ser finalizada, pois deveria ser feito um retorno e por a rua estar deserta ficou com medo dele seguir direto, ainda mais por estar com uma roupa que por muitas vezes é julgada como alvo de provocação.

Para o Código Penal estupro se encaixa no ato de constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, ter conjunção carnal, praticar ou permitir que se pratique outro ato libidinoso. O crime está previsto na Lei nº 13.718/2018, a pena varia de seis a dez anos, variando mediante a situação e se o crime foi cometido com vulnerável. A pena pode ser de oito a 12 anos se a conduta resultar lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 ou maior de 14 anos, e 12 a 30 anos se tiver como consequência a morte.

Entre as medidas de segurança oferecidas por essas empresas está o compartilhamento da corrida, as informações do motorista e um botão de segurança que ativa a polícia. Com esse número crescente de abusos sexuais e assédios partindo desses homens, as empresas têm adotado campanhas de conscientização, além de estarem surgindo no mercado uma plataforma de mulheres para mulheres.

A respeito da segurança Karoline Peres, conta ainda que não se sente segura com as medidas de proteção dos aplicativos. “Não me sinto segura com o botão de segurança, porque não sei se realmente funciona, muitas pessoas já foram estupradas e não sabemos se vai dar tempo de acionar, toda vez que entro no carro fico monitorando a corrida e sempre em alerta para apertar o botão caso aconteça algo comigo e não vejo depoimentos de outras pessoas que já usaram”, além de explicar que nunca buscar denunciar por se sentir culpada pela situação e medo de vir a ser julgada.


Editora-chefe: Lavínia Carvalho
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