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09/07/2020 às 21h15min - Atualizada em 09/07/2020 às 20h56min

O legado do maestro Ennio Morricone

Do faroeste italiano aos filmes de Quentin Tarantino , Morricone compôs mais de 500 trilhas sonoras

Júlia Victória - Editado por Bárbara Miranda

O compositor Ennio Morricone faleceu na última segunda-feira, aos 91 anos. O maestro italiano estava hospitalizado em uma clínica em Roma, onde foi internado depois de uma queda doméstica que causou uma fratura no fêmur. Ennio compôs mais de 500 trilhas sonoras para a TV e o cinema e marcou o universo do audiovisual.

Formado em trompete pelo Conservatório Santa Cecília, localizado na capital italiana, Morricone começou a compor em 1946. Mas foi a partir das décadas de 1950 e 1960 que ele passou a ser mais reconhecido. Foi quando ingressou no cinema, com a trilha do filme "Il Federale" (“O Fascista”, em português), do diretor Luciano Salce, lançado em 1961.

Daí em diante, Ennio se consolidou como um dos compositores mais importantes do meio. Um dos trabalhos mais renomados e conhecidos é a trilha da trilogia dos dólares, do diretor Sergio Leone. Uma saga de longas western spaghetti, o faroeste italiano, protagonizada pelo ator americano Clint Eastwood. Formada por "Por um Punhado de Dólares" (1964), "Por uns Dólares a Mais" (1965) e "Três Homens em Conflito" (1966).  

 

Sendo trilha deste último a mais conhecida entre os três, a música mistura assobios e sons de animais típicos dos desertos, palcos dos filmes de faroeste. A faixa “The Ecstasy of Gold”, de “Três Homens em Conflito” ,é usada como abertura do show do Metallica desde 1983.

Morricone participou de outros filmes do gênero como "Era uma Vez no Oeste" (1968) e "Era Uma Vez na América" (1984), os dois de Sergio Leone.

No início, Ennio trabalhou majoritariamente com diretores italianos e mantinha certa distância do universo dos EUA. Mas mesmo assim, trabalhou com alguns .Entre eles , compôs a trilha de “Cinzas no Paraíso” (1978), de Terrence Malick. O longa rendeu a primeira indicação de Ennio no Oscar.

Em 1986, conseguiu a segunda indicação a Melhor Trilha Sonora Original pela composição de “A Missão", do britânico Roland Joffé.

No ano seguinte, Ennio trabalhou com o diretor norte-americano Brian De Palma, em “Os Intocáveis”, que era estrelado por Robert De Niro, Kevin Costner, Sean Connery e Andy Garcia. Foi sua terceira indicação no Oscar.

Logo depois, Morricone trabalhou com o diretor italiano Giuseppe Tornatore, em “Cinema Paradiso”. O longa fez grande sucesso e ganhou na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, em 1990. Contudo, a trilha não chegou a ser indicada.

Já em 1992, Ennio foi indicado pela 4° vez, agora pelo filme Bugsy, do norte-americano Barry Levinson. Em 2001, conquistava sua quinta nomeação por “Malenà", trabalhando novamente com Giuseppe Tornatore.

Apesar das cinco indicações pela Academia, Ennio ainda não havia conquistado a estatueta. Ao mesmo tempo, as composições influenciaram os novos diretores da época. O principal deles, Quentin Tarantino. Ele sempre se mostrou um fã do trabalho de Morricone e utilizou algumas das músicas em seus filmes.

Em 2007, o Oscar finalmente reconheceu a obra de Ennio Morricone e entregou um reconhecimento honorário ao compositor.

Os trabalhos mais recentes de Ennio foram justamente com Tarantino. Ele compôs para “Bastardos Inglórios” (2009), “Django Livre” (2013) e “Os Oito Odiados” (2015).

Mas se engana quem acha que essa parceria foi pacifica. Em 2013, durante uma palestra na universidade LUISS, em Roma, na Itália, Morricone chegou a dizer que não colaboraria mais com Tarantino e discordava da maneira com que o diretor utilizava suas músicas.
 

“Eu não gostaria de trabalhar com ele de novo, em nada [...] [Tarantino] disse no ano passado que gostaria de voltar a trabalhar comigo de novo, desde Bastardos Inglórios, mas eu disse que não. Ele não me deu tempo suficiente e usou uma música que eu havia escrito previamente”

Ele ainda disse que suas trilhas eram usadas de forma incoerente e que não tinha se importado muito com Django porque era muito sangrento. Pouco tempo depois, disse que foi mal interpretado e que admirava o trabalho de Quentin.

Fato é que, em 2015, eles se reconciliaram e trabalharam juntos em “Os Oito Odiados”. Por esse filme, foi finalmente foi premiado com um Oscar na categoria de Melhor Trilha Sonora Original.

 

Ennio se tornou uma das pessoas mais velhas a receber o prêmio, na época ele tinha 87 anos. Em seu discurso agradeceu à esposa Maria Travia pela paciência e compreensão.

Ennio Morricone deixa um casamento de quase 70 anos, três filhos e uma filha, além de um legado que não será e que nunca deve ser esquecido.


REFERÊNCIAS

G1. Morre na Itália Ennio Morricone, um dos maiores compositores da história do cinema. Disponível em:  <https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/07/06/morre-na-italia-ennio-morricone-um-dos-maiores-compositores-da-historia-do-cinema.ghtml>.Acesso em 09 de julho de 2020.
 

VERDÚ, Daniel. Compositor Ennio Morricone morre aos 91 anos. Disponível em:  <https://brasil.elpais.com/cultura/2020-07-06/compositor-ennio-morricone-morre-aos-91-anos.html>.Acesso em 09 de julho de 2020.

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