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09/07/2020 às 22h13min - Atualizada em 09/07/2020 às 21h46min

A guerra entre homem e natureza na animação Princesa Mononoke

A animação expõe com maestria as diferentes nuances do embate ecológico

Marta Araújo - Editado por Bárbara Miranda
Princesa Mononoke é uma animação japonesa, que foi lançada no ano de 1997, dirigida pelo famoso cineasta Hayao Miyazaki e desenvolvida pelo Studio Ghibli. A trama envolve uma guerra ecológica entre humanos e animais, onde ambos são levados ao limite pela necessidade de sobrevivência. A história busca explorar o extremismo ligado aos dois lados desse embate, que se mostra desequilibrado, até a chegada de um personagem que tem uma percepção diferente e não se desconecta de seus princípios.



“Em tempos antigos houve uma terra coberta por florestas e onde, em épocas muito passadas, viviam os espíritos dos deuses” é a frase que abre o longa-metragem e representa a mitologia japonesa em um momento em que a floresta e os deuses-animais ainda eram predominantes e os grandes protetores do ambiente. Depois disso, somos levados à aldeia do Príncipe Ashitaka, que está sendo atacada por um demônio-deus da floresta, dentro do corpo de um javali. Durante a luta com a besta possuída, Ashitaka tem o braço contaminado por uma mancha demoníaca. Ao conversar com a sábia anciã da aldeia, ela o informa que a marca logo se espalhará pelo corpo, causando muita dor e o matando. A anciã mostra que dentro do corpo do animal, havia uma bola de ferro, e que isso havia queimado por dentro e o machucado o suficiente para transformá-lo em demônio. Para entender o seu destino e em busca de uma cura para a maldição, o príncipe precisa ir para o Oeste e durante essa jornada, deve julgar as coisas de forma clara, sem ser influenciado pelo ódio. Senão, será corroído pela raiva, assim como a criatura que o amaldiçoou.



Em sua viagem, Ashitaka presencia conflitos entre algumas tribos e ao ser atacado, perde o controle do próprio braço e decepa a cabeça de um dos samurais. A marca está aumentando e se tornando mais destrutiva. Depois disso, o príncipe encontra dois homens machucados e decide levá-los para seus lares. Para isso, eles atravessam a floresta e encontram alguns kodamas, que são pequenos espíritos que protegem o local. Durante a travessia, temos o primeiro vislumbre do Grande Espírito da Floresta, que é uma representação da vitalidade da natureza. Dessa forma, Ashitaka chega em Tataraba, a Ilha de Ferro, que é uma vila que sobrevive da extração do minério de ferro. O lugar é comandado pela Lady Eboshi, que governa o lugar com o uso da pólvora.  O povoado representa o início e avanço da industrialização, que subjuga e massacra a natureza e aqueles que vivem nela, para atender aos caprichos humanos. Por isso, os habitantes do povoado vivem em constante conflito com as criaturas e deuses da floresta. Dentro desse embate, Lady Eboshi tem uma disputa pessoal com a Princesa Mononoke, que tem frustrado todos os seus planos de avançar em direção a floresta. A jovem criada por deuses lobos é um dos seus principais obstáculos nessa guerra. Apesar de ser humana, Princesa Mononoke, conhecida como San, renega sua origem e odeia os humanos por toda a destruição que eles têm provocado na natureza.



Parece um dilema simples, onde vemos dois lados, um que representa o bem, e o outro o mal. No entanto, essa animação nos mostra que há uma linha tênue entre uma coisa e outra, e que o embate tem mais nuances do que se imagina. A ambiciosa Lady Eboshi, que domina a Ilha de Ferro com punho firme, é levada ao limite para sobreviver e ajudar a população que vive no local. Ela utiliza o dinheiro que ganha com a venda do ferro para comprar mulheres que seriam vendidas para bordeis e amparar leprosos, que não teriam como se defender dos samurais e nem dos Deuses-Animais. Do outro lado, temos San e os Deuses da Floresta. Os mesmos não são inteiramente nobres, depois de anos em batalha contra os seres humanos, eles nutrem um ódio entre si mesmos e acabam se dividindo.

Ashitaka representa o equilíbrio entre os dois mundos, ele mostra à San que os humanos podem ser bons. Ao mesmo tempo, ele tenta salvar os humanos da sua própria destruição, causada pela destruição da natureza, em um momento em que o meio ambiente se rebela contra eles.  De qualquer forma, todos os personagens são guiados por motivações realistas, que nem sempre são admiráveis, porém são compreensíveis para o público. A fábula funciona como um alerta para a humanidade e mesmo após 20 anos de seu lançamento, Princesa Mononoke permanece mais relevante do que nunca.




REFERÊNCIAS 
 
ARAÚJO, A. Princesa Mononoke — O atrito entre o ser humano e a natureza. Café com Geeks. Disponível em <https://cafecomgeeks.com/pt/2019/10/21/princesa-mononoke-o-atrito-entre-o-ser-humano-e-a-natureza/>. Acesso em 06/07/2020.
 
DIEGO LEITE, J. Princesa Mononoke – crítica –. Folha Norte SC. Disponível em <http://www.folhanortesc.com.br/2020/04/princesa-mononoke-critica/>. Acesso em 06/07/2020.
 
FELIX, S. Crítica | Princesa Mononoke é o maior épico das animações. CanalTech. Disponível em <https://canaltech.com.br/cinema/critica-princesa-mononoke-162053/>. Acesso em 06/07/2020.
 
SANTANA NUNES, E. Realidade e ficção em 20 anos de Princesa Mononoke. Persona, Crítica Cultural. Disponível em: <http://personaunesp.com.br/20-anos-mononoke-critica/>. Acesso em 06/07/2020.
 
SERPA, M. Princesa Mononoke (1997). Medium. Disponível em < https://medium.com/@migdomserpa/princesa-mononoke-1997-95c356d5eab>. Acesso em 06/07/2020.
 
VENTURA, C. O protagonismo feminino em Princesa Mononoke. Medium.   Disponível em <https://medium.com/fale-com-elas-e-sobre-elas/o-protagonismo-feminino-em-princesa-mononoke-c777e1a63531>. Acesso em 06/07/2020.
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