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10/07/2020 às 09h19min - Atualizada em 10/07/2020 às 08h59min

O negro e a literatura

Projetos sociais que incentivam a população negra a seguir os rumos da literatura

Caroline Melo - Editado por Bruna Araújo
IBGE (2019), Retrato da Leitura(2016), Cultura das Capitais(2019), Professora Dra. Isadora Lins França
Freepik

O incentivo à população negra tanto a aprofundar-se na literatura negra, tão pouco reconhecida, como também a democratizar o acesso à literatura tem sido o objetivo de projetos sociais em todo o Brasil. A representatividade negra por meio dos livros é um agir político e social que deve ser cada vez mais incentivado.

A educação e a cultura são direitos de todo cidadão brasileiro, no entanto a sua garantia não é realizada de forma geral. Dados de pesquisa do Retratos da Leitura (2016) mostram que apenas 40% dos pertencentes da classe C/D no Brasil eram considerados leitores.

Já a pesquisa Cultura das Capitais (2017), realizada pela JLeiva e pelo Datafolha, concluíram que em São Paulo apenas 46% de pessoas que se autodeclararam pretas, frequentavam bibliotecas e que 70% tinha acesso a livros.
Contudo, vale ressaltar que um estudo publicado pelo IBGE em 2019 relacionava que o acesso à cultura em regiões como o Sul e o Sudeste são maiores, desta forma, se os números da capital paulistana parecem ser tão “positivos”, a realidade em outras cidades é esmagadora.

Com o objetivo de exercer a cidadania, provendo melhorias aos cidadãos, os projetos sociais são a junção de agentes modificadores em prol de uma sociedade melhor. A exemplo disso seguem dois projetos que visam incentivar a leitura, ambos voltados para o público preto:

Projeto Winnie Teca: Winnie Bueno é a criadora por trás desse projeto que age por meio do Twitter. Sua missão é conectar pessoas, fazer o intermédio, entre uma pessoa negra que precisa de um livro e uma pessoa que queira doar o livro.

Biblioteca Comunitária Assata Shakur: criado especialmente pela comunidade e localizada na Vila Formosa, seu acervo é focado apenas em livros pretos, escritores, cultura e história do povo. Dentre os destaques estão os livros da mulher negra e ativista que deu nome à biblioteca, Assata Shakur; vale ressaltar que eles também recebem doações.

Segundo a antropóloga e professora da Unicamp, Isadora Lins, a importância de projetos como esses é a “criação de redes de solidariedade entre pessoas negras e das periferias”, “fazer frente à necropolítica”, que consiste na desvalorização das vidas negras e pobres, tais projetos “proporcionam que as pessoas reflitam sobre a centralização dos negros nas histórias.

Por outro lado, elas não substituem o papel do Estado em incorporar essas literaturas, essas biografias aos currículos escolares, ao estimular a leitura e bibliotecas comunitárias” [...] “na ausência do poder público essas alternativas conseguem pouco a pouco ocupar o espaço e levar conhecimento feito pelos sujeitos negros e periféricos, aos sujeitos que devem ter acesso”[...] “esses projetos estão valorizando e permitindo que a pessoa que está na comunidade se veja nesse lugar, de ser o produtor, saber que há História. Vejam suas experiências no que estão lendo e aprendendo”.

A antropóloga ainda comenta que a História da África foi apagada dos currículos escolares e que após muita mobilização do Movimento Negro, ela pôde ser incluída nas escolas ainda como forma de combate ao racismo.

“O apagamento dessas literaturas é racista, é o apagamento dos saberes, rouba-se dos jovens a possibilidade de saber a si mesmo e de se ver refletido naquilo que estuda, consequente de se posicionar histórica e socialmente”, afirma Lins.

Para a doutora em Ciências Sociais, a tecnologia veio para ampliar a construção de redes e furar as tradicionais notícias e o bloqueio da mídia, ao dar maior visibilidade aos negros, como é o caso da Winnie Teca.

A professora ainda deu algumas dicas de leituras para quem quer se aprofundar um pouco mais no assunto:
O Movimento Negro Educador- Nilma Lino Gomes
Parábola do Semeador- Octavia Buckler
Ensinando A Transgredir, A Educação Como Prática Da Liberdade- Bell Hooks
Americana- Chimamanda Ngozi
 


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