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10/07/2020 às 11h43min - Atualizada em 10/07/2020 às 11h26min

Vivendo um gênero literário: distopia

Caroline Melo - Editado por Bruna Araújo
Imagem retirada do site JMais
Guerras, pandemias, fome, autoritarismo e ditaduras. Esse é o cenário mundial da atualidade. Qualquer semelhança com distopias, subgênero de ficção científica, não é mera coincidência. Afinal, vivemos em uma distopia?

"Os costumes das facções ditam até como devemos nos comportar nos momentos de inatividade e estão acima das preferências individuais" - Divergente

De certo que todo leitor já sonhou em viver uma história digna de um livro, quão honroso seria ter alguém viajando entre as páginas de nossa vida, não é? Talvez esse sonho tenha sido alcançado, mas não da forma esperada. O cenário mundial, especialmente o Brasil, têm passado por diversas dificuldades, completamente distante da tão única utopia que um dia os Grandes Filósofos sonharam.

Uma pesquisa feita pela Penguin Randon House (2017) concluiu que as vendas de livros distópicos ganhou força na última década, cerca de 9.500%. Não obstante, fenômenos “young adult" desse gênero são cada vez mais comuns.
Jogos Vorazes nos apresenta Panem, um país dividido em distritos com imensa desigualdade social, governada por um presidente corrupto e adepto à política romana de Pão e Circo, visto que 24 jovens representando cada distrito são mandados a uma arena e lutarem até a morte, apenas um pode ser o vencedor. Outros fenômenos como Divergente, Admirável Mundo Novo e o Conto da Aia, também devem ter destaque no meio literário.

As características de uma distopia podem ser definidas da seguinte maneira: controle opressivo de toda uma sociedade, anarquia, condições econômicas desfavoráveis para a maioria da população, meio ambiente degradado, a tecnologia apresenta-se nesse contexto como ferramenta de controle e opressão.

Agora chega-se à questão: vivemos uma distopia? A resposta, não absoluta, é de que em partes sim, pois salve as sociedades ditatoriais que aparentam ser totalmente distópica, as outras sociedades ditas democráticas, como o Brasil, sofrem com certas características dessa realidade antiutopia.

No Brasil a desigualdade social é constante, o país está em 10° mais desigual segundo o Coeficiente de Gini (2018). A cada 23 minutos morre um jovem negro, segundo o Mapa da Violência (2016). Até o dia de hoje, o Brasil ultrapassou 69 mil mortes pelo coronavírus (Civis-19), segundo o consórcio de imprensa, entretanto ainda há as subnotificações. Em 2019 o Brasil teve registrado 5.804 mortes por violência policial, de acordo com o Monitor da Violência. O relatório Agenda de Expressão (2018) afirma que o Brasil é o segundo país em que as garantias de liberdade de expressão decaíram, atrás apenas da República Dominicana.

Certamente que o fenômeno da Internet é uma ferramenta para lutar contra todo esse sistema disfuncional que o Brasil possui, porém ainda é muito pouco, visto que também dá vazão à repressão virtual. O fato é que o Brasil tem um potencial distópico preocupante, pode não estar claro para alguns, no entanto é muito fácil não perceber e não reconhecer tal sistema quando se está em posição de privilégio.

Os que mais vivem a realidade da distopia segue um padrão de cor, classe e renda. As pessoas negras, as de periferia é que sobrevivem muitas vezes com menos de um salário mínimo são as mesmas que lidam com uma sociedade semelhante à dos livros, vivem a guerra, a fome, a repressão e a falta de oportunidade todo dia. O restante do país não percebe, não olha, não luta por eles. A mídia notícia segundo os gostos de seu público, que não se interessa pelo sofrimento alheio, com exceção dos casos em que a Internet não se cala.

Os dados apresentados representam apenas uma parte da realidade do Brasil, visto que o desmatamento de biomas como Floresta Aamzônica, Mata Atlântica, Cerrado e muitos outros é exacerbado e desprezado em prol da economia, a instuição cada vez maior de pensamentos anticientíficos, e ainda as proporções de todas as formas de preconceito existentes que crescem a cada ano. A perseguição, às vezes sutil, aos negros, aos LGBTQI+, aos refugiados, às mulheres e aos pobres remetem à tempos sombrios do passado e que podem continuar cada vez mais sombrios no futuro.

Afinal para a sociedade de outrora já não vivemos numa distopia? Imagine a desigualdade, a tecnologia tomando conta das vidas de cada indivíduo, a repressão e perseguição, o Estado controlando e matando. Bem vindo ao Brasil, a distopia do século XXI.
 
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