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10/07/2020 às 12h08min - Atualizada em 10/07/2020 às 12h04min

Em quatro meses, número de ataques à imprensa superam os do ano passado; Ações de Bolsonaro incitam os crimes

Os discursos e agressões por parte do presidente estão dentre as possíveis explicações por trás do fenômeno.

Roberta Mourão - Editado por Alan Magno
Jair Bolsonaro ataca a Folha de S.Paulo com insultos e manda jornalistas presentes no local calarem a boca ( Foto: Reprodução/ BBC Brasil)

Nos quatro primeiros meses de 2020 ocorreram 179 ataques verbais, com 28 casos de agressões diretas a jornalistas, dois contra a Fenaj e 149 descredibilizações contra à imprensa. Registros somam 58 casos a mais do que os contabilizados durante todo o ano de 2019. Dados foram divulgados no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, 3 de maio, pela Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj)

Segundo o relatório da Fenaj de 2019, "Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil", Bolsonaro foi responsável por 121 casos (58,17% do total) de ataques a veículos de comunicação e a jornalistas no seu primeiro ano de governo. São 114 ofensas e sete casos de agressões diretas.
 
A presidente da Fenaj, Maria José Braga, pontua que com seus discursos, Bolsonaro institucionaliza a violência contra os profissionais de jornalismo. “O chefe de governo promove, por meio de suas declarações, sistemática descredibilização da imprensa e dos jornalistas. Com isso, institucionaliza a violência contra a imprensa e seus profissionais como prática de governo”, afirmou no relatório de 2019.
 
A maioria dos ataques ocorrem por divulgações oficiais, discursos e entrevistas do presidente, conversas com seus apoiadores, e no Twitter oficial de Bolsonaro. A postura do atual presidente, mostra que a liberdade de imprensa está ameaçada e o seu efetivo poder sobre aqueles que apoiam o seu governo e seus posicionamentos, denominado de bolsonaristas.
 
A tentativa de depreciar a imprensa é perceptível entre as conversas do presidente com os seus seguidores durante as suas saídas do Alvorada. No dia 3 de abril, ele não concedeu entrevista e atacou a imprensa dizendo que não iria perder o seu cargo para os urubus, referindo-se aos jornalistas. Além de outras tentativas por meio de discursos e redes sociais oficiais.
 
O Dirigente Regional do Sindicato dos Jornalistas em Campinas, Marcos Aparecido Rodrigues Alves, 54, acredita que a ascensão de Bolsonaro proporcionou um impulso para aqueles com o mesmo posicionamento. “Estas pessoas sempre estiveram aí, pensando da mesma forma. Apenas não tinham coragem suficiente para tirar as máscaras. Quando apareceu uma liderança política que verbaliza publicamente o que estas pessoas pensavam, elas se sentiram encorajadas a saírem a público fazendo caixa de ressonância para a ação política de Bolsonaro”, afirmou.
 
No dia 25 de maio, os veículos de comunicação como a Folha, Uol, Globo e o Grupo Bandeirantes, suspenderam a cobertura jornalística no Palácio da Alvorada, devido a hostilidade e ofensas propagadas pelos apoiadores do presidente e por ele próprio. Alguns casos são de falas grosseiras e declarações incitando a violência contra os jornalistas presentes local.
 
A vice - presidente da Fenaj no Sudeste, Márcia Regina Quintanilha, 57, disse que as entidades sindicais solicitaram a saída dos profissionais do local a partir do início do ano. “Desde janeiro, havia solicitado que as empresas de comunicação retirasse os profissionais do cercadinho no Palácio do Planalto, onde o presidente fala diretamente com a imprensa e recebe os seus seguidores. Nenhuma providência foi tomada, até que no final de Maio, às empresas retiraram os profissionais”, afirmou.

O repórter Leonardo Martins, da rádio Jovem Pan foi hostilizado durante a cobertura do ato em apoio ao Presidente Jair Bolsonaro que ocorreu na Avenida Paulista,em São Paulo, no dia 21 de junho. Durante a manifestação uma mulher passou xingando os manifestantes e um deles tomou a atitude de ir até o carro e o chutar. O jornalista filmou a ação e o agressor tentou derrubar o seu celular e inicar uma briga durante a filmagem.

Martins e o cinegrafista Guilherme Cassiano foram obrigados a sair do local antes do previsto por conta da agressividade do manifestante e foram direcionados pela equipe da Jovem Pan a voltar para a redação. “Voltaremos à redação. Impossível trabalhar”, afirmou em sua declaração sobre o ocorrido no Twitter.

No vídeo postado em sua rede social, o repórter relatou como aconteceu o ataque e reação do manifestante ao ver que estava sendo filmado. Ressalta que a imprensa constantemente é hostilizada nesses protestos. Também disse sobre as orientações que os jornalistas recebem para realizar a cobertura das matérias “Somos orientados a tirar a canopla do microfone. Escondemos o crachá. Fazemos tudo o que já é absurdo, mas pro bem da nossa integridade. Agora, nem isso adianta. Só de ver uma câmera, já somos enquadrados. "De onde vcs são? Globolixo?". "Bando de cuzão””, afirmou se refrindo as fensas que recebe constantemente. 
 
As denúncias de jornalistas que se sentem prejudicados ou atacados pelo presidente, por seus apoiadores ou quaisquer outrs pessoas ou entidades são relatadas ao Sindicato de Jornalistas do Distrito Federal. Dentro do site do Sindicato está a aba Ouvidoria, criada com o objetivo de ser um canal direto entre a diretoria e os jornalistas, na qual pode se relatar denúncias, sugestões e pedir informações. 
 
Os sindicatos de outras regiões não recebem denúncias diretas, mas fazem a comunicação com a sede. “Como a sede do governo fica em Brasília e lá tem um sindicato próprio, aqui em São Paulo nos colocamos sempre em apoio às ações por aquele sindicato e também pela Fenaj, cuja sede também fica em Brasília. Aqui não recebemos nenhuma denúncia direta”, afirmou Marcos Rodrigues.
 
A comunicação entre os sindicatos acontece por via redes sociais e contato direto. A própria Fenaj também se encarrega de repercutir as ações políticas e sindicais para engajar os outros sindicatos na realizações de atos de solidariedade, notas públicas e denúncia constante dos ataques sofridos pelos jornalistas. As duas denunciam durante o ano as agressões ocorridas e pressionam as autoridades competentes para que haja apuração e consequentemente a identificação e punição aos culpados.


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