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10/07/2020 às 20h04min - Atualizada em 10/07/2020 às 19h31min

O aumento do consumo da pornografia durante a quarentena e o lado dark da indústria

Porquê o crescente consumo do pornô contemporâneo é preocupante

Pamela Silva - Editado por Camilla Soares
Robson Vilalba/Gazeta do Povo
Devido ao surto do novo Coronavírus, sites como SexyHot, PornHub e Brasileirinhas obteviveram um aumento de tráfego de até 50% no mês de março deste ano, assim que a quarentena foi adotada como medida de contenção da doença. 

Recentemente, também, a ex-atriz Mia Khalifa, que trabalhou no ramo por apenas 3 meses quando tinha 21 anos, levantou hashtags e petições online reivindicando seu direito à própria imagem para que seu conteúdo fosse retirado da web e se posicionou ao levar informação a outras jovens sobre o quanto esse mercado foi tóxico para ela.

Mia relatou em suas redes sociais, que se tornou atriz pornô depois de se formar na faculdade, mas não conseguir emprego. Ela conta que ingressou na indústria e passou a ter sua privacidade roubada, foi perseguida, humilhada e até ameaçada de morte por terroristas islâmicos. Relata, também, que precisou de muitas sessões de terapia para de lidar com todo trauma causado em tão pouco tempo.

O caso de Mia Khalifa, não é o único. Outro caso notório foi o de Nikki Benz, que foi estuprada e agredida em cena, desmoralizada na justiça por trabalhar com sexo e tachada de mentirosa depois de toda sua luta judicial.

São inúmeras as Mias e Nikkis que ainda mantém-se no pornô.  A atriz Brasileira Giovana Bombom, relata que muitas colegas da indústria Brasileira passam ou passaram por humilhações em produtoras abusivas: "Aqui no Brasil tem uma produtora que eu não gravo porquê trata a mulher como carne, além de pagar muito pouco, se aproveitam e fazem as mulheres acreditarem que passando por lá ficarão famosas. Já presenciei violência contra minhas amigas, mas elas têm medo e não falam por ser uma produtora grande. A Aline rios não grava mais pois foi brutalmente agredida no Carnaval das brasileirinhas. Eles usam o nome, a fama pra se aproveitar das mulheres. Sempre tento explicar isso, mas não escutam por almejarem a fama." 

Bombom relata que consegue se desvencilhar de tais abusos pois sempre se impõe: "No sexy hot, eu tenho um título e meu espaço. Já houveram, sim, constrangimentos mas eu sei meus limites e mando sim parar a cena. Sem atriz não tem filme. Não precisamos passar por dores e humilhações. Eu converso com o ator, falo como eu quero e, se passar dos limites, paro a cena e ninguém ganha cachê." 
BomBom conta que já sofreu racismo, quando fez teste para a produtora famosa em questão, e lhe disseram que o filme não ficaria bom por conta de seu cabelo. Hoje, Bombom é a primeira atriz AfroHair premiada pelo SexyHot e consegue se desvencilhar de abusos.

Os efeitos nocivos da pornografia não se restringem somente a quem a protagoniza, mas também a quem a consome. 

Segundo a sexóloga sergipana Camila Felizola, do instagram de sexualidade @sexual.mentes, a busca por esse conteúdo na internet se dá basicamente por três maiores motivos: À carência afetiva, à deficiência de educação sexual desde a infância (crianças têm um primeiro contato e aprendem sobre sexo consumindo pornografia) e, por último, a grande variedade de conteúdo, do leve ao pesado, como os fetiches que existem no lado dark dessa indústria. 

Segundo Felizola, o consumo da pornô poderia acarretar problemáticas como a ejaculação precoce nos homens, já que eles se baseiam na performance de atores que não condizem com a realidade. Além desses fatores, há ainda a insegurança devido à comparação com o corpo e performance sexual dos atores.

O efeito mais nocivo de todos é o vício em pornografia. Este ocasiona o afastamento, do viciado, de relações reais e aproximação de relações idealizadas, de acordo com o que assiste. Vale ressaltar que o assunto é tão sério que existe um movimento chamado "Reboot" cujo objetivo é ajudar essas pessoas a voltar a viver uma vida normal com relações saudáveis.

Ainda segundo estudos da universidade de Arkansas, NY, os vídeos pornôs mais vendidos do mercado abrangem cenas com agressões físicas e verbais proferidas por homens à mulheres. Tal fato mostra o quanto consumidores (especialmente crianças e aqueles que não tiveram educação sexual) podem ter uma noção completamente distorcida sobre sexo e permite ainda relacionar o quanto crimes de violência sexual podem ser banalizados e até fetichizados por conta da normalização de cenas violentas na pornografia hardcore, alimentando uma sociedade machista, violenta e incapaz de ter empatia ou amar.

Por conta de todas essas problemáticas que rodeiam a indústria pornô contemporânea, é crescente o número de agências criadas por mulheres com conteúdo auto entitulado feminista, nos quais o bem estar dos atores envolvidos e a retratação fiel de conteúdo pornô mais condizente com o sexo da vida real são prioridade.

Fontes: 
CASTRO, Rita; LINS, Samuel. Valores, atitudes e consumo de pornografia: analisando um modelo de mediação. In: 13º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde: livro de atas. 2020.

BALDIM, Fernanda Alves. 
O vício em pornografia: relações com a adicção na atualidade. 2017. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Maringá.

BRIDGES, Ana J. et al. Aggression and sexual behavior in best-selling pornography videos: A content analysis update. Violence against women, v. 16, n. 10, p. 1065-1085, 2010.

BAUER, Laura LS. Hot girls wanted. 2017.

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