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21/07/2020 às 22h50min - Atualizada em 22/07/2020 às 10h36min

Termo 'plus size' rotula e categoriza corpos como produtos

Em entrevista ao Dicas de jornalismo, a modelo Karem Coluciuc fala sobre a expressão

Thaynara Junqueira - Editado por Larissa Barros
Arquivo pessoal / Karem Coluciuc


Criado por Lane Bryant, o termo “plus size” existe desde 1920. A expressão significa tamanho extra grande e é utilizada para pessoas que usam roupas acima do tamanho 36. Para a modelo paranaense, Karem Coluciuc, 24 anos, a expressão plus size é uma forma de marcar a diferença entre o corpo considerado padrão e os outros corpos.

Há dois anos Karem trabalha no mercado da moda, e o seu corpo é categorizado como curvy, que significa “cheias de curvas” . Em entrevista à nossa reportagem, a modelo lamentou que para pessoas com formatos de corpos diferentes serem aceitos pela indústria da moda eles precisem de um espaço cotado.

 

“Eu já fiz alguns trabalhos onde ao invés de estar escrito plus size ou G, na arara estava escrito, por exemplo, ‘peças para inclusão’. Como se ser plus size, ou simplesmente não ser modelo de corpo padrão da sociedade, que já é um corpo estereotipado, que já é um corpo que não é real. Porque não é realidade da mulher brasileira utilizar [tamanho] 36, não ter peito, não ter bunda, não ter coxa, essa não é a realidade do corpo brasileiro”, disse a modelo.


Muitas discussões sobre o termo surgiram desde 2015, quando a hashtag #DropThePlus (#AbandoneOPlus) bombou nas redes. A tag começou a ser usada depois que a apresentadora de TV na Austrália, Ajay Rochester, criticou uma campanha com uma modelo plus size que não tinha um “corpo grande”.

 “Existe essa separação entre o que é uma modelo real e uma modelo plus size. E depois existe o resto do mundo", afirmou a apresentadora em uma entrevista para a BBC Trending. 

De acordo com a modelo,  por estarmos vivendo em uma sociedade capitalista é difícil as coisas não serem categorizadas ou receberem rótulos dentro de um mercado. Sendo assim, a partir dos rótulos as pessoas são transformadas em mercadoria. 

Atualmente, existem vários movimentos que incentivam a autoaceitação e vão contra a categorização do corpo feminino, como o “body positivity” e “body neutrality” (neutralidade corporal, em tradução literal). 

Ao longo dos anos, temos visto mais campanhas que colocam mulheres de diferentes cores e corpos em evidência. No entanto, para Coluciuc além da representatividade da sociedade na moda, essa mudança se trata de uma visão mercadológica.

 

“Existem algumas marcas que você percebe que você só está ali porque a marca precisa vender para o seu tipo de corpo. A marca precisa da sua imagem para ela dizer, comunicar para sociedade, para as outras mulheres que são parecidas com você que ela também tem roupa para você e que ela não vai estar perdendo a sua venda”, avalia Karem Coluciuc.


Ela explica também que como modelo curvy, ela nunca trabalharia nessa área, se fosse há uns 10 ou 15 anos atrás. Pois, as modelos eram “extremamente estereotipadas”. A paranaense admite não acreditar que o mundo da moda esteja evoluindo para a aceitação dos diferentes corpos, mas sim que a representatividade aumentou juntamente com o lucro.  

De fato, comparado ao passado, atualmente o  mercado está mudando para melhor. No entanto não é possível afirmar se a evolução é baseada nas pessoas ou em razões econômicas.  Mas, mesmo assim essa questão é um debate que ainda vai dar o que falar.

 


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