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17/07/2020 às 20h00min - Atualizada em 17/07/2020 às 20h01min

Presença feminina nos esportes eletrônicos

Mulheres se sujeitam a comentários negativos em partidas online, porém ainda representam mais da metade dos jogadores

Giuliana Holiscki - Editado por Fernanda Simplicio
Fonte: Equipe CLG Red de CS:GO. Reprodução: Versus
O próprio censo comum já nos direciona a acreditar que o público masculino possui mais habilidades em esportes eletrônicos do que as mulheres. Mesmo que a Pesquisa Game Brasil de 2020, mostre que 61,9% dos jogadores que costumam jogar até três vezes por semana em sessões de até 3 horas (jogadores casuais) são mulheres, elas ainda encontram dificuldades de se relacionarem em uma partida online com os demais participantes devido o seu gênero.

Na década de 90, quando começaram a surgir alguns videogames como Super Nintendo e Mega Drive, a publicidade era direcionada somente ao público masculino mostrando apenas garotos nos comerciais.

A consequência era, nas datas comemorativas, os pais presentearem seus filhos com videogames enquanto garotas ganhavam bonecas, pois os jogos eletrônicos eram considerados “coisa de garoto”. Analisando esse cenário, notamos a falta de acesso de meninas aos aparelhos, muitas das mulheres que apreciam os games hoje, durante sua infância, tinham aproximações com os jogos por meio de seus irmãos e primos. “ -Só joguei porque o meu irmão tinha”, afirma a apresentadora de jogos eletrônicos Nyvi Estephan durante sua palestra na Campus Party Portugal, no último dia 9.

A realidade entre jogos de console, computador e entre os pro-players (jogadores profissionais de esportes digitais) não é a mesma que em relação aos jogadores casuais. Nas plataformas de jogos on-line, ao utilizar um nickname feminino, torna-se suscetível a situações e comentários misóginos, o que muitas vezes causa a desistência de jogadoras no ramo.

Gabriella Martins tem 19 anos, estudante de ciência da computação, também é streamer de jogos como Valorant e Counter-Strike por meio da Twitch (plataforma de stream). Conta que é submetida a certa pressão durante as partidas por conta de seu gênero. “Eu treino muito em uma situação de x1 (situação de combate um contra um) ou em clutch (um único jogador contra vários oponentes), fico realmente nervosa, mas não é porque eu não sou capacitada, e sim porque a cobrança é muito maior”, explica.

Se apresentar como uma jogadora no esporte eletrônico é saber que terá que se sujeitar a expor seu “currículo gamer”.  Como no caso de Gabriella, ou Gabscornio como é conhecida na internet, muitos que acompanham as personalidades dentro dos e-sports possuem o conhecimento de que ela foi namorada de um pro-player. Devido a isso, alguns atribuem seus méritos ao seu ex-namorado, deixando de lado suas próprias conquistas.

Ela relata que estava jogando normalmente on-line, quando alguns jogadores a reconheceram e fizeram comentários referentes ao seu antigo relacionamento. “Eu comecei a chorar no meio da partida durante a live!”. Perguntas referentes à vida sexual da streamer foram reproduzidas. Afirma já ter se acostumado com frases como “vai brincar de barbie”, ou “vai lavar uma louça”, mas essa situação foi surpreendente para ela.
 
Brasileiras que sofreram ataque
Para obterem reações positivas, muitas desenvolvedoras e times utilizam de imagens femininas para realizar uma publicidade mais bem vista.
A pro-player de League of Legends (LoL) Júlia "Mayumi" Nakamura entrou na justiça contra a INTZ (Organização Brasileira de Multi-Jogos) alegando irregularidades contratuais e acredita ter sido contratada pela equipe apenas para dar entrevistas e realizar ações publicitárias.

Ao decorrer do tempo, Julia foi afastada das reuniões, não era chamada para os treinos, tanto individuais quanto coletivos, e parou de ser beneficiada de uma mesa e computador no centro de treinamento. Chegava a ficar semanas sem qualquer tipo de atividade na equipe, mesmo tendo suas jogadas individuais em destaque resultando na viralização na rede social chinesa Weibo.

A primeira mulher a jogar em uma liga profissional foi a Julia “Cute” Akemi, em 2017. Durante uma transmissão de partidas, a CNB (Clube Profissional de Esportes Eletrônicos), equipe na qual Julia fazia parte, disputou um jogo da SuperLiga de League of Legends. Em poucos minutos o chat foi tomado por comentários misóginos devido uma jogadora feminina estar disputando uma partida oficial.
Campeonatos profissionais de League of Legends acontecem desde 2011 no Brasil, somente depois de seis anos uma mulher esteve presente durante as partidas.
 
Movimento de proteção às pro-players
A hashtag #MyGameMyName foi criada em 2018 como uma inciativa da ONG americana “Wonder Woman Tech”, conta com o apoio de homens e mulheres gamers para combater o preconceito e o desrespeito às jogadoras femininas. Para ilustrar o que as mulheres sofrem, alguns youtubers, streamers e jogadores foram convidados a adotar uma nickname feminino e jogar algumas partidas.




Como são mostradas no vídeo, algumas situações surpreendem os convidados devido ao peso dos comentários que receberam.

A importância dessas iniciativas é trazer mais visibilidade ao público feminino, resultando em enaltecer os campeonatos compostos por mulheres assim atraindo mais esse público para o meio, sejam nas desenvolvedoras ou nos times pro-players.
 
REFERÊNCIAS:
CAMPUS PARTY PORTUGAL. Reboot The World, 2020. Live Joy of Life - Nyvi Estephan com Presença feminina nos esports: O desenvolvimento de uma comunidade mais saudável (02:04:35 – 02:23:00). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZHTfEPNFpK0&t=7475s>. Acesso em: 9 de jul. de 2020.

REIS, Gabriel. E-Sport Tv, 2019. Projetos comandados por mulheres buscam aproximar público feminino dos eSports. Disponível em: < https://sportv.globo.com/site/e-sportv/noticia/projetos-comandados-por-mulheres-buscam-aproximar-publico-feminino-dos-esports.ghtml>. Acesso em: 14 de jul. de 2020.

OLIVEIRA, Gabriel. UOL Start, 2020. Jogadora de LOL Mayumi processa INTZ e alega assédio moral. Disponível em: <https://www.uol.com.br/start/ultimas-noticias/2020/06/11/jogadora-de-lol-mayumi-processa-intz-e-alega-assedio-moral.htm>. Acesso em: 14 de jul. de 2020.

COUTINHO, Beatriz. Verus, 2017. Precisamos falar sobre a jogadora Cute. Disponível em: <https://vs.com.br/artigo/precisamos-falar-sobre-cute>. Acesso em: 14 de jul. de 2020.

MY GAME MY NAME. YouTube, 2018. O fim do assédio online começa agora. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KYLd_O0aphw. Acesso em: 14 de jul. de 2020.


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