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17/07/2020 às 16h41min - Atualizada em 17/07/2020 às 15h58min

Ingmar Bergman: o diretor sueco que marcou o século XX

Nesta semana Igmar faria 102 anos. Conheça mais sobre a vida pessoal e obras do cineasta.

Gustavo Domingos - Revisado por Renata Rodrigues
Foto: AP / AP
O diretor, roteirista, escritor e produtor, Ingmar Bergman foi um dos maiores contribuintes para o teatro e o cinema no século XX. O artista mostrou ao mundo uma nova forma de construir filmes, especialmente nas décadas de 50 e 60, na qual, o modo de Bergman ficou conhecido mundialmente. Seus longas para o cinema e a televisão, além das peças, refletem questões existenciais como a fé, a existência de Deus, a morte e a solidão do homem.
 
Infância e adolescência
 
Ingmar Bergman nasceu em 14 de julho de 1918, em Uppsala, na Suécia. Durante sua infância e adolescência, as situações em casa não foram boas. Essa fase de sua vida foi marcada por angustias, solidão e sentimentos reprimidos. Diante disso, o diretor buscou abrigo em suas fantasias e imaginação. Logo, seu isolamento com os demais membros da família tornou-se agradável, o que foi a melhor forma para fugir desses problemas.
 
Em seu livro “Lanterna Mágica”, o diretor fala bastante sobre sua infância. Vale ressaltar, que a obra não é cronologicamente escrita, são pensamentos e lembranças. Bergman diz “ainda hoje deambulo pela paisagem da minha infância e reencontro luzes, odores, pessoas, espaços, momentos, gestos, tons e objetos”.
 
Bergman precisava seguir os bons costumes. Uma vez que seu pai, Erik Bergman, era um pastor luterano rígido e violento, seu comportamento autoritário sobre a esposa e filhos, fez com que fosse odiado pelos demais. Por outro lado, sua mãe, Karim Bergman, não o tratava com carinho, gerando grande sensibilidade ao escritor. Além disso, as relações com seu irmão mais velho eram difíceis. Um não gostava do outro e isso levou a vários conflitos dentro de casa.
 
O artista comenta no livro “Lanterna Mágica” sobre a infância e proibições: "A prerrogativa da infância: transitar livremente entre a magia e o mingau de aveia, entre o terror sem medidas e a alegria explosiva. Não havia nenhum limite, a não ser as proibições e as regras, que eram como sombras, e quase sempre incompreensíveis”.

                                                                                    
 
De antemão, sem esperanças alguma na sua vida familiar, Bergman sai de casa aos 19 anos. Nesse mesmo ano, o artista entra para a Universidade de Estocolmo, estuda arte e literatura. Assim como na infância, as fantasias e imaginações estão ligadas com o diretor. Posteriormente, começa a dirigir peças teatrais durante seus estudos.
 
Carreira  
 
A princípio, Ingmar Bergman fez muitos filmes conhecidos apenas nacionalmente. No entanto, boa parte das obras, entre 1945 e 1954, eram vistas como bons filmes e consideravam que a exposição sexual era exagerada. Entretanto, o diretor não se importava com esses comentários. O seu objetivo era levar a existência das pessoas à tela. Em outras palavras, buscava mostrar problemas com suas personagens, dúvidas, indagações, realismo e sempre adentrar na alma de suas representações.
 
Dessa maneira, continuo com filmes que refletiam esses aspectos e chegou a fama internacional. Em 1955 foi lançado “Sommarnattens leende” (Sorrisos de uma Noite de Amor), uma comédia escrita e dirigida por Bergman. Um ano depois, foi ao cinema o que para muitos é sua obra-prima “Det Sjunde Inseglet” (O Sétimo Selo), o drama teve o roteiro e a direção de Ingmar. No longa é abordado a existência do homem, qual seu propósito na vida, o medo da morte, o papel da religião e a existência de Deus e o diabo. O filme mostra que a racionalidade nessas questões não existe, logo, a única coisa que é certa para o homem é a morte.

                                                           
 
Posteriormente, no ano de 1957, o diretor lança dois grandes filmes da carreira: “Smultronstället” (Morangos Silvestres) e “Nära Livet” (No Limiar da Vida). O primeiro venceu como melhor filme o Festival de Berlim e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Por outro lado, o segundo rendeu o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes. Ambos os longas são dramas que destacam o existencialismo e a fé. A marca de Ingmar Bergman estava carimbada no mundo.
 
Em seguida, é produzido “Ansiktet” (O Rosto) e Jungfrukällan (A Fonte da Donzela). O último obteve seu primeiro Oscar de melhor filme estrangeiro, além do segundo Globo de Ouro de mesma premiação. Entre 1961 e 1963, Bergman lançou três filmes com bastante ênfase na religião, eles são respectivamente: Såsom i en spegel (Através de um Espelho), Nattvardsgästerna (Luz de Inverno) e Tystnaden (O Silêncio). O primeiro rendeu ao diretor o seu segundo Oscar de melhor filme estrangeiro e o seu terceiro Globo de Ouro de mesma premiação.
 
De antemão, Bergman faz outros grandes filmes ainda na década de 1960. Bem como, o drama aclamado e enigmático “Persona” (Quando Duas Mulheres Pecam) e até mesmo o excelente terror surrealista “Vargtimmen” (A Hora do Lobo). O diretor, Martin Scorsese comenta sobre a obra Persona em entrevista a Stig Björkman: “E então, de repente, vimos Persona, e de repente ele tinha ido mais longe do que qualquer outro. Ver esse filme pela primeira vez foi tão emocionante, e foi aterrorizante – exigiu: "Olha isso! Agora, o que você pode dizer sobre filmes e o que eles podem fazer?”.

                                                        

Além disso, já na década de 1970, o diretor emplacou mais três vitórias no Globo de Ouro como melhor filmes estrangeiro, sendo eles: Scener ur ett äktenskap (Cenas de um Casamento), Ansikte mot ansitke (Face a Face) e Höstsonaten (Sonata de Outono). Na entrevista já citada de Scorsese, o diretor comentou também o longa Cenas de um Casamento:
 
“Um aspecto do trabalho de Bergman que é bastante marcante é sua simplicidade magistral. Cenas de um casamento, por exemplo - ele está fazendo o que você deve fazer quando você está fazendo um filme sobre um casal, ele está se concentrando no básico: a sala de estar, o quarto, a cozinha, o escritório, a sala de estar. Vocês são confrontados com a vida deles juntos, e os ritmos, a maneira como eles falam uns com os outros, a maneira como eles se movem um ao redor do outro, seu tédio, suas irritações, suas esperanças, as emoções que eles varrem para debaixo do tapete. E é tudo escrito grande. Assim, a simplicidade da concentração dá a tudo uma espécie de grandeza – é íntima e épica ao mesmo tempo.”

                                                         

Contudo, após esses anos de sucesso atrás de sucesso, Ingmar Bergman anunciou que deixaria de dirigir, sendo “Fanny och Alexander” (Fanny e Alexander) o seu último filme. O longa foi premiado como melhor filme estrangeiro tanto no Globo de Ouro, como no Oscar. Diante disso, o diretor passaou a trabalhar na televisão com curta ou minisséries. Além disso, no ano de 1982 lança o livro “Lanterna Mágica” e em 1987 publica o livro “Imagens”. Todavia, vale menciona o telefilme “Saraband” (Sarabanda), que foi ao ar em 2003. No curta-metragem, a história é a continuação do filme “Scener ur ett äktenskap”.
 
Morte e Legado
 
Ingmar Bergman morreu em 30 de julho de 2007, aos 89 anos, na Ilha de Fårö, na Suécia. O diretor, roteirista e escritor deixou uma grande marca na sétima arte. Seus filmes sobre a existência do ser humano, suas dúvidas, questões de fé e a simplicidade dos diálogos e ambientes, foram de suma importância para o cinema.
 
Em entrevista para Stig Björkman, o cineasta Martin Scorsese cita a seguinte frase: "Se você estivesse vivo nos anos 50 e 60 e de uma certa idade, um adolescente a caminho de se tornar um adulto, e você queria fazer filmes, eu não vejo como você não poderia ser influenciado por Bergman." Fica claro, portanto, que Bergman deixou um grande legado para as gerações futuras e sem dúvida sempre será inspiração e exemplo para diretores e roteiristas.

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