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17/07/2020 às 17h10min - Atualizada em 18/07/2020 às 16h17min

São Paulo | Maior centro financeiro do país sofre com lucro pinga-pinga

Com a reabertura gradual do comércio na capital de São Paulo, esperava-se que o lucro voltasse a ser semelhante ao período anterior a pandemia, mas a situação se encontra bem a baixo do esperado

Ana Paula Cardoso - Editado por Caroline Gonçalves
Foto: Martine Doucet / Divulgação: Getty Images

Com a chegada do vírus SARS-CoV-2 ao Brasil no primeiro semestre do ano, todo o comércio brasileiro foi afetado. Em São Paulo foi decretado no final do mês de março pelo governador João Doria (PSDB), o fechamento de negócios não essenciais por um período inicial de 15 dias, entretanto, essa situação foi prorrogada várias vezes, como uma tentativa de impedir um colapso no sistema de saúde da capital, causando danos ainda maiores para os pequenos e médios empreendedores que ficaram cerca de 90 dias fechados ou trabalhando parcialmente.

Grande parte dos estabelecimentos não apresentavam uma base online, e por isso, precisaram se adaptar ao mundo digital o mais rápido possível, para que conseguissem trabalhar de maneira fracionária.
 

“A gente tem compromissos, como vamos deixá-los? Temos que pagar o fornecedor, o aluguel, entre outras coisas, então, não tem como abaixar as portas, 90 dias já foi um sufoco”, afirma Cleusa Leonel, casada com o Sr. Manolo, com quem administra a Casa Botana, uma loja de calçados masculinos na Barra Funda.


O estabelecimento tem 65 anos, o Sr. Manolo o criou quando veio da Espanha e continua no mesmo negócio até hoje.
 

“Nós nunca vendemos online, ficamos praticamente todo esse período sem vender um centavo, quando permitiram a reabertura, nós voltamos no mesmo dia”, declara Cleusa.



 

Ela e seu marido entendem muito pouco em relação à internet, por isso, uma hora ou outra pedem ajuda a alguém.
 

“De vez em quando eu esqueço de olhar algo e a minha neta Maria Luiza me chama atenção”, alega Leonel.

 

Dona Cleusa e o seu marido são do grupo de risco, ele tem 88 anos e ela 67, mas ela garante que estão tomando todos os cuidados.

“A gente não tem como ficar em casa, nós fazemos às compras, vendas, pagamentos, fazemos tudo, como vamos ficar em casa?”, questiona Leonel.


Seu negócio tem dias bons e ruins, segundo ela, isso está acontecendo porque muitas pessoas estão desempregadas ou estão recebendo um salário menor.
 

“As pessoas estão segurando um pouco as compras, comprando as coisas mais necessárias, de primeira necessidade”, confessa.


Apesar do movimento estar fraco, ela espera que o dia dos pais apresente um movimento melhor “é um dos nossos melhores dias do ano aqui na loja”, afirma Cleusa.


Por outro lado, há também aqueles que já eram adeptos ao e-commerce como a Caroline Naomi Yagui, fundadora do Camarim Florido em parceria com a sua mãe, sua sócia. Situada na Vila Mariana, a loja de roupas femininas começou através de vendas pela internet em 2016, sendo que, a inauguração da loja física ocorreu somente dois anos após sua criação.


“A loja não é nosso ponto forte, a maioria das pessoas que vêm até aqui, já são clientes, já nos conhecem pelo Instagram, não somos uma loja de passagem, como o shopping”, afirma Caroline.

“Estamos focando bastante no e-commerce, e como estamos com menos funcionários, não estamos conseguindo abastecer a loja física, dessa forma, estamos preferindo focar nas vendas online por enquanto, até a situação normalizar um pouco”, declara.

 


 

Com a pandemia, foi necessário que ela diminuísse um pouco o número de funcionários, porque alguns deles são do grupo de risco, dessa forma, alguns planos precisaram ser adiados.

“A gente queria ter trabalhado um pouco melhor no inverno, estávamos com planos de lançar peças mais trabalhadas e não deu certo pela quantidade de funcionários”. Além disso, tinham planejado aumentar a grade de tamanho, por trabalhar apenas do PP ao G “recebemos mensagens de várias meninas todos os dias, pedindo tamanho plus size ou um pouco maior do que nós temos”, conta Naomi.

 

“Provavelmente não vamos abrir a loja esse ano, porque nossas vendas pela internet aumentaram, de modo geral, a maioria dos e-commerce estão dizendo a mesma coisa” relata Caroline.


Segundo ela, irão permanecer vendo como serão os próximos meses, se vai sair uma vacina, para aí poder voltar ao normal e poder reabrir a loja física de vez.



 

Fundada por Célio Monção e David Eidelchtein em 2010, a Colorado Fashion Optical é uma rede brasileira especializada em óculos de sol, armações para grau e acessórios de marca própria, podendo ser encontrada em lojas de rua e em shoppings do país.

Ao comentar sobre como está sendo a reabertura gradual David conta que “é uma emoção a cada dia que passa, primeiro sentimos ansiedade por estarmos fechados por tanto tempo, depois, atenção e preocupação, por estarmos preocupados com nossos colaboradores pegarem transporte público”.

Semelhante a outros negócios, a rede Colorado precisou engavetar algumas ideias que seriam colocadas em prática durante esse ano, como o lançamento de uma nova loja no Shopping Center 3, operar com várias marcas de lentes conceituadas e lançar uma linha de relógios da marca.



 

Entretanto, também durante esse momento eles conseguiram produzir conteúdo para o seu blog e deram origem ao projeto “Colorado em casa”, sendo esse, uma consultoria de óculos de sol e de grau realizada com clientes que não podiam ou não queriam sair de casa “eles escolhiam peças previamente, a gente enviava para eles experimentarem com kits de higienização antes e depois do uso”, diz David.

Ao falar sobre a situação dos shoppings com essa abertura em horários escalonados ele afirma que “as lojas de shopping apresentaram uma queda ainda maior do que as lojas de rua, desde o Sul do país até Santo André no interior de São Paulo, a diferença de faturamento é bem gritante, a gente está tendo uma queda de 70% a 80%”, reconhece.


Antônio Carlos possui o restaurante Estrela do Paissandú há oito anos, e nunca se encontrou em uma situação como essa que está vivendo com a chegada da pandemia ao país.

Com o fechamento do seu negócio em março, ele esperava ficar fechado por um período de mais ou menos um mês, acreditando que esse tempo daria para amenizar o vírus e assim, tudo voltaria ao normal “aproveitamos para fazer algumas reformas, arrumar copa, banheiro e salão, renovar pintura e a parte elétrica, terminamos em 25 dias, esperamos a abertura, mas nosso plano foi todo reformulado”, relata Carlos.

Seu estabelecimento não participava de aplicativos de entrega de comida, mas, com a determinação feita pelo prefeito Bruno Covas durante a quarentena para que os restaurantes trabalhassem apenas com retirada e delivery, ele começou a trabalhar com o IFood na tentativa de aumentar o seu lucro, entretanto, até agora ele se encontra insatisfeito “não está da forma que estávamos esperando, porque é um aplicativo com uma taxa muito alta, de 27%, para o cliente fazer um pedido, ele paga um absurdo”, afirma Antônio.


 

“Serviço de dois a três funcionários, eu e o meu sócio estamos fazendo, temos que fazer esse meio campo porque temos que esperar as coisas andarem, para que a gente volte com os contratos de todos os funcionários”, diz Carlos.

“Se você não tiver um fundo de caixa ou uma linha de crédito em banco, esquece, você não vai ter condições de trabalhar, de pagar as contas, vai decretar falência”, afirma Antônio ao comentar sobre a situação que muitos negócios vem enfrentando ao não conseguir uma linha de crédito.

 

Para diminuir os gastos, ele começou a comprar apenas o equivalente para cada dia da semana, e quando o adquirido é totalmente consumido, ele compra mais “diminuímos nossas compras em 60%, estamos comprando de forma maneirada para não ultrapassarmos os limites do que estamos faturando no momento”, admite.




 Para saber mais sobre os entrevistados, acesse: 
- Casa Botana: https://www.instagram.com/casa_botana/?hl=pt-br
- Bar e Restaurante Estrela do Paissandu: https://www.facebook.com/estreladopaissandu/?rf=297297073951555
- Camarim Florido: https://www.instagram.com/camarimflorido/?hl=pt-br
- Colorado Fashion Optical: https://www.instagram.com/coloradofashionoptical/?hl=pt-br

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REFERÊNCIAS:
OLIVEIRA, João Souza. Comércio reabre, mas cliente está sem dinheiro, e lojas temem mais falência. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/06/18/reabertura-fraca-do-comercio-em-sao-paulo-preocupa-lojista.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 12 de julho de 2020.
CARDOSO, William. Vendedores se sentem em perigo com reabertura do comércio em SP. Disponível em: https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2020/06/vendedores-se-sentem-em-perigo-com-reabertura-do-comercio-em-sp.shtml. Acesso em: 12 de julho de 2020.
BALTHAZAR, Ricardo. Auxílio emergencial é insuficiente para manter trabalhador em casa, diz pesquisa. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/07/auxilio-emergencial-e-insuficiente-para-manter-trabalhador-em-casa-diz-pesquisa.shtml?utm_source=mail&utm_medium=social&utm_campaign=compmail%3Floggedpaywall&origin=folha. Acesso em: 12 de julho de 2020.
MOURA, Júlia. Regra de horário limita reabertura de bares em São Paulo. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/07/regra-de-horario-limita-reabertura-de-bares-em-sao-paulo.shtml?utm_source=mail&utm_medium=social&utm_campaign=compmail. Acesso em: 12 de julho de 2020.
JAKITAS, Renato. Com shoppings vazios, comerciantes abrem lojas para faturar R$ 50 por dia. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,com-shoppings-vazios-comerciantes-abrem-lojas-para-faturar-r-50-por-dia,70003361287. Acesso em: 12 de julho de 2020.

 


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