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17/07/2020 às 18h14min - Atualizada em 19/07/2020 às 16h25min

Estudantes da rede pública alegam insatisfações com ensino online e insegurança para prestar vestibulares

De acordo com os estudantes, a dificuldade de acessar à internet e o baixo nível do ensino são os fatores que mais os deixam preocupados

Lucas Mathias - Editado por Caroline Gonçalves
Foto: Divulgação/MCTIC
Com a paralisação das aulas presenciais em 2020 por tempo indeterminado devido à pandemia, os alunos da rede pública de todo o Brasil estão se sentindo prejudicados tanto no ano letivo, como na preparação para os vestibulares. Muitos alegam baixa qualidade no material recebido, bem como problemas de acessibilidade, seja por falta de conexão à internet ou por não possuírem dispositivos eletrônicos.

Devido a essa paralisação, o Ministério da Educação (MEC) permitiu que as aulas presenciais pudessem ser substituídas por atividades on-line. Entretanto, tal medida não levou em conta que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o acesso à internet no Brasil ainda não é para todos. De acordo com dados apurados pelo instituto no 4° trimestre de 2018, apenas 79,1% das residências possuíam acesso à internet.
 
Com a suspensão das aulas presenciais, o MEC determinou também o adiamento da aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que antes seria realizado nos dias 11 e 18 de outubro, na versão digital, e 1° e 8 de novembro na versão impressa. O exame será aplicado apenas em 2021. A versão impressa está marcada para os dias 17 e 24 de janeiro, já a versão digital será aplicada nos dias 31 de janeiro e sete de fevereiro. Porém, antes da decisão do ministério, o mesmo divulgou em nota que a determinação das novas datas seria por escolha dos estudantes inscritos na edição de 2020, através de uma enquete localizada no portal do inscrito. Entretanto, mesmo com a escolha dos estudantes para a realização do Enem apenas em Maio de 2021, o MEC optou pela realização no inicio do ano que vem.
 
Em entrevista ao LAB Dicas de Jornalismo, a professora Luísa Ferreira, que leciona a disciplina de interpretação textual no Pré Vestibular Cidadão (PVC) do Movimento Ética na Política de Volta Redonda (MEP-RJ), disse que por conta do decreto do Governo Estadual, que determina a paralisação das aulas presenciais, o curso também teve que optar por ofertar as aulas pela internet. Segundo ela, alguns alunos ainda não se adaptaram ao ensino online e que a falta de um espaço adequado para o estudo compromete o entendimento dos conteúdos.

 
“Muitos não podem assistir às aulas, nós do MEP tentamos sempre fazer uma aula interativa para que todo mundo se anime, tanto os alunos, quanto nós professores”, completou Luísa.

Questionada sobre a atitude do MEC ao ignorar a escolha dos estudantes para a realização do Enem  em maio de 2021, a professora disse que é injusto com os estudantes que não têm um acesso adequado aos estudos EAD.
 
“O Governo não está tendo empatia alguma pela educação do país. Os professores ficam sobrecarregados, cansados e ansiosos com tanta coisa pra lidar.”, finalizou a professora.
 
Estudantes de todo o Brasil também manifestaram insatisfação com as políticas adotadas pelo MEC. É o caso de Jadisson Rayan, aluno da rede estadual de São Paulo-SP que está cursando o 3° ano do ensino médio. O estudante conta que está tendo aula pelo Centro de Mídias da Educação de São Paulo (CMSP), porém o aplicativo suporta apenas atividades sem as devidas explicações, fazendo com que ele não se sinta preparado para prestar os vestibulares que deseja, como o Enem e Fuvest. Questionado se há alguma outra maneira em que ele estuda, Jadisson disse que sua professora de química criou um canal no Youtube para poder ajudar os alunos. Jadisson ainda finalizou dizendo que seu sonho é fazer engenharia de computação, porém “esse ano está fora de cogitação”, relata.

Não diferente de Jadisson, uma estudante de Volta Redonda-RJ que preferiu não se identificar, disse que as aulas on-line sobrecarregam os alunos, pois há um excesso de atividades, e pela ausência de um professor, ela sente que não está aprendendo. Contestada sobre qual seria sua sugestão para a educação brasileira nesse momento, a aluna revelou que acha justo cancelar o ano letivo, bem como os vestibulares, de modo a evitar que a desigualdade no Brasil aumente cada vez mais, uma vez que as escolas particulares pensam em retornarem às aulas antes da rede pública. A estudante ainda finalizou dizendo que pretendia fazer parte de um pré-vestibular gratuito para se preparar para os vestibulares, porém devido à pandemia não foi possível.

Vale ressaltar que o Governo Estadual de São Paulo prevê a retomada das aulas para Setembro. Segundo o secretário de Educação do Estado, Rossieli Soares, as cidades que estiverem a mais de 28 dias na fase amarela de flexibilização criada pelo Estado, poderão retornar às aulas de maneira gradual, através da combinação de aulas presenciais e à distância. Já no Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel disse que não há previsão para o retorno das aulas presenciais no estado. Em ambos os Estados as aulas presenciais estão suspensas desde o fim da primeira quinzena de março.

Referências:


FIGUEIREDO, Patrícia. Após anunciar reavaliação, governo de SP afirma que volta às aulas em setembro está mantida. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/07/17/apos-anunciar-reavaliacao-governo-de-sp-afirma-que-volta-as-aulas-em-setembro-esta-mantida.ghtml. Acesso em: 17 jul. 2020.

BERMÚDEZ, Ana Carla. MEC decide adiar Enem por 30 a 60 dias. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/noticias/2020/05/20/mec-decide-adiar-enem-por-30-a-60-dias.htm. Acesso em: 17 jul. 2020.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PNAD Contínua TIC 2018: Internet chega a 79,1% dos domicílios do país.  2020. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27515-pnad-continua-tic-2018-internet-chega-a-79-1-dos-domicilios-do-pais. Acesso em: 17 jul. 2020.


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