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17/07/2020 às 22h48min - Atualizada em 17/07/2020 às 22h05min

A resistência dos cinemas das ruas cariocas

Espaços se reinventam na pandemia

Isabela Carvalho - Editado por Alinne Morais
Ana Beatriz Barbosa, Gabriela Saes e Thaís Monteiro
Estação NET do bairro de Botafogo Imagem: Reprodução/Instagram

Devido a pandemia da COVID-19 e a necessidade de isolamento social a forma de consumir cultura mudou completamente. Desde o dia 13 de março de 2020, o governador do Rio de Janeiro, o Wilson Witzel (PSC) determinou que teatros, centros de artes, museus e cinemas fechassem suas portas. Em meio à crise econômica, existe resistência por trás dos clássicos cinemas de rua como Estação NET e o CineCarioca Méier, o antigo Imperator.

 

Estação NET 

Sendo uma referência no cinema brasileiro desde a sua inauguração em 1985, o Grupo Estação surgiu como um cineclube na rua Voluntários da Pátria, na zona sul carioca, Botafogo. Indo além do seu primeiro complexo, bairros como Ipanema (2000) e Gávea (2015) também ganharam cinemas do Grupo.

 

Além de filmes à mostra, o Estação se tornou um espaço aberto ao debate entre estudantes de audiovisual, diretores, roteiristas, cineastas e os amantes do cinema. Em 2019 o Estação NET Botafogo ofereceu os cursos como Cores e Amores de Almodóvar e Dossiê Tarantino 2, ambos coordenados pelo jornalista e crítico de cinema, Marcelo Janot. 

 

Para Ana Beatriz Barbosa, estudante do curso de Cinema na Pontifícia Universidade Católica (PUC), o Estação NET oferece um rico debate entre filmes que são além do mundo hollywoodiano.

“Os filmes estrangeiros que passam lá são incríveis e deveriam ter mais visibilidade e público. É um ambiente extremamente rico, é muito bom ter um lugar para poder debater, fora da sala de aula e do ciclo de amizades. São outras visões focadas no mesmo filme.”

 

Foi com o auxílio com a marca NET, que o Grupo Estação em 2014 manteve suas portas abertas em meio um cenário de crise econômica. Por meio deste patrocínio, o cinema se manteve, pagou funcionários e os gastos de funcionamento até maio de 2020. 

 

Após tentativas de procurar linhas de crédito do governo e um capital de giro Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) que não obtiveram sucesso, no mês de junho, o Grupo Estação deu um passo para a resistência de suas casas. Em parceria com a @benfeitores a campanha “Continua Meu Estação!teve seu início com o apoio de cineastas e artistas como Wagner Moura, Sabrina Fidalgo, Karine Teles, Maria Flor e a Dira Paes.
 


Canecas, boxes com DvDs de filmes clássicos, blusas, ímãs, ecobags, obras de artes, cartões postais, ingressos para pré-estreias foram algumas das opções de compras no site da campanha de financiamento coletivo. Após 45 dias de arrecadação, as três metas foram alcançadas com sucesso e o número de benfeitores passou dos 4,9mil. Em uma publicação no último dia da campanha (21) no @estaçãonet a equipe desmostrou agradecimento ao público que contribuiu para salvar os cinemas

"Todo recurso arrecadado além da meta possibilita que, além de resistir até a reabertura, a gente possa oferecer:
melhores filmes, programação mais variada e exclusiva, mais conforto nas salas, melhor atendimento. 

E como sempre nos comprometemos, vamos divulgar todos os gastos feitos, para o uso do dinheiro doado ser bem transparente.

Esta campanha e só mais um episódio de uma história que começou a 35 anos e que com a sua ajuda terá nova temporada!"



CineCarioca Méier - Centro Cultural João Nogueira
 

Na zona norte do Rio de Janeiro, no Méier, o CineCarioca está localizado no Centro Cultural João Nogueira, mais conhecido pelo seu nome de fundação de 1954, Imperator, local que já foi considerado o maior cinema da América Latina. Mesmo fechando suas portas em 1986 e mais tarde em 1996, o espaço cultural foi reaberto em 2012 revitalizado e reunindo diferentes tipos de atração. 

 

A casa cultural já recebeu diferentes tipos de eventos para todas as faixas etárias. Com preços acessíveis ao público, havia musicais, shows, filmes em exibição, cursos de instrumentos, danças, oficinas e exposições de artes. Festas gratuitas em datas comemorativas e momentos de trocas literárias também ocorriam.

 

Em seu teatro, o Centro Cultural João Nogueira obteve a presença de variados estilos musicais. Estiveram presente nomes artísticos como Adriana Calcanhoto, Vanessa da Mata, Stevie Wonder, Mart’nália, Tame Impala, Clarice Falcão, Arlindo Cruz, Gilberto Gil e Roberta Sá.

 

Em setembro de 2019, a Secretaria Estadual de Cultura assumiu a gestão do antigo Imperator. Com a pandemia de COVID-19, o centro cultural foi fechado e a equipe Produzir, que era responsável pela produção artística teve seu contrato cancelado. Sem nenhuma previsão de abertura, a casa cultural do Méier continua sem nenhum edital que indique uma nova direção desde o dia quatro de abril de 2020.

 

Foi a partir do descaso do governo estadual que no dia seguinte (5) nasceu o movimento #VoltaImperator. Por meio do Instagram, foi disponibilizado uma petição online  Unidos pelo Imperator - Diga NÃO ao fechamento do Centro Cultural!  relatando a atual situação do Centro Cultural João Nogueira.

 

“Estamos de acordo com as medidas tomadas em relação ao não funcionamento, estamos em um momento em que é impossível ter aglomerações. A questão é a seguinte: quando vai sair um edital para que seja decidido quem ficará à frente do Imperator? A administração será direta pelo Estado? Em que condições isso acontecerá?” indagou a participante do movimento #VoltaLogoImperator.

 

Sendo uma iniciativa dos moradores do Méier, a equipe possui como luta o retorno do espaço cultural e a qualidade de programações artísticas e educacionais por por meio de publicações no @voltalogoimperator. “Resolvemos manter essa chama acesa dentro dos corações dos frequentadores, relembrando os projetos, espetáculos, ouvindo histórias de frequentadores e todo mundo que ama o centro cultural. Ele é o queridinho do Méier!” comentou uma das participantes à frente do movimento.

 

Para a equipe, o centro cultural possui um papel fundamental no seu bairro.

“Estamos falando de uma região carente de espaços como o Imperator, o papel dele é importantíssimo na vida de muita gente. Com ele, era possível assistir um show da Alcione por R$ 40,00 e muita gente ainda tinha a possibilidade de voltar a pé pra casa! Existia um projeto de formação de plateia, que tinha como objetivo receber alunos da rede pública de ensino, ONGs, orfanatos, UPPs etc. O teatro ficava lindo!” afirmou a integrante do grupo.

 

Os membros do #VoltaLogoImperator acreditam na importância e pluralidade do centro cultural. “Em um dia, você via um espetáculo com bebês que nem tinham completado 1 ano. No outro, um espetáculo com senhoras que tinham mais de 90 anos, super felizes por terem um espaço bom, confortável e seguro para poderem frequentar. Muitas crianças e adolescentes puderam descobrir seus talentos através de projetos gratuitos no espaço, como ballet, violão, dança de salão, e muito mais" falou um dos integrantes.

“A cultura nunca é levada à sério, sempre deixam de lado e ainda tem gente que concorda com esse descaso, porque não a vê como um todo! O governo estadual poderia olhar com mais carinho, a cultura tira muita gente da vida ruim, transforma a vida de muita gente” finalizou a moradora da zona norte

 

 

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