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23/04/2019 às 19h33min - Atualizada em 23/04/2019 às 19h33min

Resenha: A maçã no escuro

Adrieli Fátima Bonini
Imagem: Editora Rocco
Na obra “A Maça no Escuro”, Lispector retrata a história de Martim, um homem que foge numa noite e acaba se refugiando num hotel, logo após numa fazenda, pois o mesmo tinha pensado que havia matado a sua esposa. De maneira essencialmente corporal, o leitor sente toda a agonia física de Martim no decorrer dessa fuga.

O ambiente construído por Clarice na história é das sensações extremas e do pensamento, o leitor constrói o seu entendimento aos poucos. Um longo tempo depois, Martim se encontra no coração do Brasil, fugindo na escuridão, de olhos fechados há duas semanas, desde que sua casa foi incendiada.

No primeiro capítulo, Martin aboliu a palavra “culpa”, a substituindo por “ato”. Não se arrependera de ter cometido um crime, que ele trocara pela expressão o “grande pulo”, o qual considerou uma vitória. Nesse momento, os únicos inimigos que possuía era os demais, e não a si próprio.

"Sim. naquele instante de espantada vitória o homem de repente descobrira a potência de um gesto. O bom do ato é que ele nos ultrapassa. Em um minuto Martim fora transfigurado pelo seu próprio ato. Porque depois de duas semanas de silêncio, eis que ele muito naturalmente passara a chamar seu crime de ‘ato’". (p. 36)

Mas, em seguida, arrependeu-se de tal pensamento, o que dava ao leitor a impressão de Martim ser uma espécie de psicopata, tenta justificar e perdoar o seu ato, para dessa maneira, continuar vivendo. Ele é desprovido de qualquer moralidade, não possui empatia pelo próximo. Clarice consegue entrar no pensamento de alguém que se achava assassino:
Desta hora em diante teria a oportunidade de viver sem fazer o mal porque já o fizera: ele era agora um inocente. (p. 42)

Martim, morto de sede e fome, encontra um sítio e a dona Vitória acaba por contratá-lo em troca de abrigo e alimento. Lá ele também conhece Ermelinda, prima de Dona Vitoria. No segundo capítulo, Martim se sente feliz, e com enorme anseio de comunicar-se. As lembranças de sua vida anterior vem à tona, lembra do seu filho. Ermelinda passa a querer conquistar Martin, mas este a ignora sem pestanejar.

Clarice faz longas descrições do mundo interior de Martim, o qual busca a sua “reconstrução” como ser humano depois de assassinar alguém. Mais para frente, quando ele já havia deixado o sítio ao suspeitar de que Dona Vitoria estava no hotel, após ela falar em alemão e ele reconhecer; Martim é chamado pelo prefeito de Vila Baixa e dois investigadores. Martin, então revela que não é engenheiro, mas sim “estatístico”, e é apenas na página 310 que o leitor tem conhecimento do motivo do crime (sem spoilers!).

A Maça no Escuro é o quarto romance de Lispector, lançado originalmente no ano de 1961, sendo escrito quando ela morava no exterior, entre Torquay (Inglaterra) e Washington (EUA). Um livro essencialmente denso, a marca de Clarice, sua literatura psicológica.

 
Editado por Leonardo Benedito.

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