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23/07/2020 às 10h11min - Atualizada em 23/07/2020 às 10h09min

Depilação: por que o tema ainda é tabu na sociedade?

Mulheres que optam por não se depilar sofrem preconceito

Yasmin Aguirre - Editado por Alinne Morais
Foto: reprodução / internet / Raisa Faria
 

A depilação é uma questão de escolha pessoal, porém esse assunto é um grande tabu entre as mulheres. Padrões de beleza são impostos pelas pessoas e pelo mundo da moda diariamente e discutido constantemente pela sociedade, porque há tanta exigência com os pêlos femininos e por que esse hábito virou obrigação na nossa vida? 

 

HISTÓRIA DA DEPILAÇÃO 

 

De acordo com relatos históricos, as mulheres se depilam desde a antiguidade. E se você acha que os povos mais antigos tinham muitos pêlos, está enganado! As índias por exemplo, não tinham pêlos pubianos. De início, imaginava-se que elas teriam nascido sem esses pelos, mas, tempos mais tarde, descobriu-se que na verdade elas os raspavam com artefatos feitos com espinha de peixe. 

 

No Egito Antigo as mulheres utilizavam argila, sândalo e mel para remover os pelos da axila, dando origem às primeiras técnicas de depilação com cera. Elas utilizavam tiras de tecido ou até mesmo de pele animal para banhar nessa solução, havendo também o boato de que Cleópatra utilizava cera quente de abelha.

 

Na Grécia Antiga, por exemplo, os pelos eram arrancados com as mãos, sendo super comum que as mulheres bebessem vinho antes para aguentar a dor.  Já a antiga civilização romana, foi desenvolvido um tipo de instrumento depilatório chamado estrígil, uma vara de 30 cm com ponta curva. Essa técnica funcionava juntamente de uma pasta depiladora antes do uso desse instrumento.  

A divisão de gênero com relação à depilação começou na Grécia Antiga, quando apenas mulheres aderiram ao costume, o que você pode notar em obras de arte da época. Após esse período, a depilação se propagou principalmente na Europa, sendo associada à beleza e à higiene. 

A idade média até hoje é tida como uma época de insignificante avanço, tanto tecnológico, como científico e artístico. Por consequência desses e de muitos outros fatores, essa era foi apelidada de Idade das Trevas e sobrou até para algo simples, como a depilação, por exemplo.

Era muito bem conhecida como Idade das Trevas e com isso veio a existência de uma preocupação enorme com o pudor. Nesse período, a vaidade e os hábitos básicos de higiene, como tomar banho, eram considerados atos pecaminosos. Portanto, nessa época da história, a depilação tornou-se uma prática abominada e condenada.

No século XX, as técnicas de depilação começaram a se diversificar, modernizar e expandir. À medida que as roupas ficaram mais justas e curtas, as axilas e pernas peludas passaram a ser vistas com péssimos olhos — com exceção do movimento hippie, que valorizava a naturalidade dos pelos, liberdade estética e desprendimento da vaidade. 

No início as axilas eram o foco principal na depilação, nos anos 40 houve uma mudança nisso e as pernas femininas começaram a ter uma atenção maior. Os anos 60, na mesma época do movimento hippie era popularizado, começou a ter força a depilação geral. Então surgiram dois paralelos, pessoas que optaram por seu bem-estar com pelos e outras sem eles. 

A historiadora Beatriz Reis relata porque a sociedade feminina é tão pressionada com relação aos pelos. 

“A sociedade montou um padrão feminino onde a mulher precisa ser 'lisinha', pelo é coisa de homem. Pelo só se for cabelos longos, porque  se for curtinho já é algo masculino. Além disso o excesso de pelos femininos já foram associados com bruxaria.”

 

QUEBRANDO O TABU

 

O uso da tecnologia ajudou no aprimoramento das técnicas de depilação, as mais comuns são depilação com pinça, depilação com lâmina, depilação com creme depilatório, depilação com linha, depilação a laser e depilação com luz pulsada.

 

Segundo uma pesquisa feita pela folha de São Paulo no ano de 2016, mais de 3.300 mulheres entrevistadas, em uma amostra representativa do país, 2.778 (84%) já apararam os pelos na vida. Destas, 1.710 (62%) já aderiram à depilação total. A prática, porém, é mais comum entre mulheres mais jovens, brancas e com mais anos de escolaridade.

 

A cultura da depilação existe e esse debate não é tão atual. Mesmo com a propagação de novos métodos no mundo da estética para removerem os pêlos, existem mulheres que vão na contramão da estética, da sociedade e optam por não se depilar.
 

Muitas dessas garotas já passaram por diversos preconceitos por fazer parte do movimento da não depilação. 

 

A depilação a depender do tipo sai caro, além também da dor que muitas mulheres sofrem ao praticar a ação, esses fatores junto com o feminismo acaba contribuindo para muitas muitas meninas excluir de vez a depilação da sua vida.

 

Kanéa Emilie explica como foi o seu processo de autoaceitação: "eu percebi que eu me depilava pros outros, quando eu estava em casa não ligava de estar com meus pelos e aí era só ter um evento pra sair que eu me depilava. Então percebi que era algo que tomava tempo e dinheiro da minha vida sem que fizesse realmente sentido pra mim, mas pros outros.” 

 

A jovem Raisa Faria, de 16 anos, foi atacada recentemente na internet por simplesmente postar foto onde suas axilas com pelos apareciam. Recebeu diversos comentários ofensivos. E adivinha? 99% eram feitos por homens.O sexólogo Mahmoud Baydoun fez um vídeo contando a história da jovem. 
 

Em uma parte do vídeo a garota desabafa: "Desde que meninos começam a ter contato com alguns tipos de pornografia, eles idealizam uma mulher depilada e lisinha, como se isso fosse a única forma de ser bonita e higiênica. Mulheres com pelos são taxadas diariamente como nojentas. Por que homens podem ter pelos sem que isso represente algo tão repulsivo?".

 

NÃO SE DEPILAR FAZ MAL À SAÚDE?

 

As pessoas especulam ou pensam que ter uma quantidade maior de pelos está associado a hábitos higiênicos, mulheres que possuem maior quantidade de pelos precisam ficar alertas. É o que explica Mara Rúbia Moreira Rios, ginecologista e obstetra (CRM - BA 13036 / RQE 3756).

“O excesso de pelos em determinadas regiões pode trazer predisposição a infecções. No caso da ginecologia, não se depilar a região pubiana e peri anal favorece a proliferação bacteriana que já encontra um meio desfavorável, considerando urina, secreção vaginal e fezes. Além disso, essas regiões também têm um produção constante de suor e secreção sebácea, que aumentam ainda mais na dependência do tipo de roupa utilizada.”

 

Você deve está se perguntando se o odor não faz mal faz mal a saúde. O odor tem como nome a bromidrose tem como principal sintoma o odor intenso, característico do “cecê”, inclusive, é resultado da ação de bactérias que se proliferam nas regiões mais quentes do corpo. Na maioria dos casos pode ser prevenido com hábitos de higiene, mas não fazem mal à saúde. 

 

Além disso, diabetes, alcoolismo, alimentos como cebola, alho e pimentas, alguns antibióticos e certos hormônios também podem ser os responsáveis pela alteração no cheiro do suor. 

 

A ginecologista Karla Kalil ressalta que pelos não tem relação alguma com problemas de saúde: “Não existe nenhum problema em relação a pelos, os pelos são estruturas de defesa e podem ser deixados no corpo desde que sejam higienizados como qualquer parte do corpo".

 

Os pelos tem função termorreguladora e protetora em nosso corpo; com evolução da espécie humana e uso de roupas mais justas à pele e mais protetoras, esses pêlos foram reduzindo em quantidade e comprimento. Mudanças na alimentação e comportamento, trouxeram alterações no perfil hormonal, que também contribuiu para mudança desse padrão de pilificação. 

 

Dra Rúbia reforça: “a depilação é realmente opcional e depende de como a mulher se sente melhor. Além de não existe problema de saúde em manter o pêlo na axila, questão de opção, com tanto que haja higiene.” 
 

Ter pelos é sinal de liberdade e também igualdade, por que homens podem ter e mulheres não? Pelos é sinônimo de resistência e reflexão diante da nossa sociedade, tabus como esse ainda precisam ser muito discutidos na sociedade para que o preconceito possa acabar, mulheres são livres e suas opiniões também.  Se você não gosta desse movimento, respeitar é a melhor precedência.

 

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