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24/07/2020 às 10h44min - Atualizada em 24/07/2020 às 10h16min

Maria Firmina dos Reis e a literatura abolicionista no Maranhão

Grande nome feminino da literatura maranhense

Adélia Fernanda Lima Sá Machado - Editado por Bruna Araújo
mariafirmina.org.br ; itaucultural ; literafro
https://revistacult.uol.com.br/home/centenario-maria-firmina-dos-reis/
"É horrível lembrar que as criaturas humanas tratam seus semelhantes assim", essa frase faz parte de um livro que tem como sua temática principal as questões abolicionistas e foi escrito por Maria Firmina dos Reis, mulher, negra e maranhense.

Mas quem seria Maria Firmina dos Reis? Qual é sua trajetória? Quais foram seus passos e seu lugar na literatura maranhense? Vamos conhecer mais sobre essa grandiosa mulher e escritora que marcou a história do Maranhão e é reconhecida por todo o Brasil.

A maranhense Maria Firmina dos Reis, nasceu na capital do estado, São Luís, pouco depois do Brasil ter declarado independência de Portugal, em 1822. Na sua certidão consta apenas o nome de sua mãe, Leonor Felippa, que nas últimas pesquisa sobre seus dados biográficos, presente no site do memorial de Maria, é descrita da seguinte maneira: mulata forra, foi escrava do Comendador Caetano José Teixeira, comerciante e proprietário de terras da região. Aos cinco anos de idade ficou órfã, com isso foi criada na casa de uma tia materna na vila de São José de Guimarães (município de Viamão, situado no continente e separado da capital pela baía de São Marcos), onde teve seus primeiros contatos com a literatura.

A sua trajetória no mundo das letras teve início de fato em 1847, quando concorreu a uma vaga de instrução primária (ensino primário), na vila em que morou, onde foi aprovada e exerceu sua profissão como professora de letras.

Em 1859, Maria Firmina chegou a publicar seu primeiro livro, intitulado “Úrsula”, que é considerado o primeiro romance de uma autora do Brasil, além disso, é o primeiro escrito que possui como temática principal o abolicionismo. Dessa maneira, a maranhense ficou conhecida como a precursora desse gênero no país.

Vale lembrar que Maria teve contato com as questões raciais e sociais desde muito nova, pois morando com a tia materna conseguiu vivenciar esse contexto, já que a sua responsável possuía condições e relações diferentes do que era acostumada em seu seio familiar inicial. Dessa forma, a escritora ainda nova travou contato com essas questões, assim como referências culturais, já que um de seus parentes era Sotero dos Reis, já bem conhecido no estado pela parte da gramática na época.

Sobre a literatura abolicionista é muito propagado de que o primeiro escrito tenha sido de Castro Alves, com o poema “Navio Negreiro”, entretanto, esse escrito é datado de 1880, posterior ao escrito de Maria Firmina, com a obra “Úrsula” que foi publicada em 1859. O conhecimento sobre esses escritos e a falta de compreensão sobre o primeiro escritor de temáticas abolicionistas, reflete o período em que Maria viveu, no qual o cenário excluía totalmente a possibilidade de mulheres, ainda mais negras, possuírem o direito e o lugar da escrita.

Até por que a maranhense possuía em seus escritos uma postura antiescravista bem desenvolvida e articulada, já notada em seus primeiros passos no mundo das letras, em 1847, ano em que iniciou seu magistério. O que tornou sua trajetória ainda mais difícil foi o fato de que na época era quase impossível, frente a tradição e governantes, uma mulher e negra expor sua opinião sobre a escravidão.

Apesar do cenário do período, a maranhense consegue visibilidade para a publicação do seu primeiro livro devido ao respeito e prestigio adquirido por sua posição como professora. Com isso, em 1859, “Úrsula”, sua obra é lançada. Protagonizando assim, o romance e a literatura abolicionista no Brasil, sendo também o primeiro livro escrito por uma afrodescendente no país.

O que diferencia os escritos de Maria Firmina para as demais escritoras da época, é que não era algo superficial, muito pelo contrário, foi o primeiro escrito a tratar de questões contra a escravidão a partir do ponto de vista dos escravos. Posteriormente veio “Navio Negreiro (1869), de Castro Alves e “Escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães, que tratam da mesma temática e profundidade.

“Ela possui uma importância enorme, pois além de ter lançado o nosso primeiro romance abolicionista, fez isso em uma época que era difícil uma mulher publicar e ser reconhecida, principalmente sendo negra. Foi também pioneira na educação de Guimarães, Maranhão, implantando a primeira escola mista no território maranhense”, afirmou a professora mestra em Letras Renata Ribeiro, do Instituto Federal do Maranhão de Alcântara, ao ser indagada sobre a importância de Maria Firmina dos Reis na literatura e história do Brasil.

Dessa maneira é impossível contrariar a importância e poder dessa escritora maranhense, tanto para o seu estado, quanto para o Brasil como um todo. Ela veio a falecer em 1917, com deficiência visual e sem tanto poder aquisitivo, no município de Guimarães (MA), local citado anteriormente por seu protagonismo.

Reconhecimento

O processo de conhecimento pelo trabalho de Maria Firmina dos Reis foi através do magistério, como antes mencionado. Entretanto, após sua morte, ela passou décadas esquecida. A obra foi reconhecida apenas em 1962, pelo historiador paraibano Horácio de Almeida e dessa maneira, mais pessoas começaram a ter conhecimento da vida e obra da escritora.

Em 2017, por ocasião do centenário da morte de Firmina, seus livros foram relançados: Úrsula, já na sétima edição, trazendo em apêndice o conto "A Escrava", de 1887; Gupeva, em sexta edição; além de Cantos à beira-mar, volume de poemas novamente disponível em publicação da Academia Ludovicence de Letras, de São Luís, organizada pela pesquisadora Dilercy Aragão Adler.

Vale lembrar que nesse processo de reconhecimento, muitas informações equivocadas foram difundidas para o público. Que se trata do seu retrato associado a outra escritora, Maria Bormann, gaúcha e contemporânea de Firmina. Como e onde surgiu, não se tem notícias, mas pode ser relacionado a questão da imagem que as pessoas querem repassar da escritora, excluindo os traços negros presentes em sua identidade.

 
Até o momento, não se tem nenhum registro fotográfico de Firmina, o que foi produzido desde o registro de sua morte, são retratos falados, como por exemplo o busto que tem exposto na Praça de Pantheon, em São Luís (MA). A falta de fotografias dificulta a sua representação, o que chegou a facilitar os desenhos e produções foi uma breve descrição, presente no livro “Maria Firmina: fragmentos de uma vida”, sobre o curioso Nascimento de Morais Filho: “Rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca; olhos castanho-escuros; nariz curto e grosso; lábios finos; … morena.” De fato, é necessário estar atento a propagação de informações que não conferem à escritora, pois atrapalha no processo do reconhecimento necessário e merecido da maranhense.

Obras

Dentre suas obras, destacam-se:
  • Gupeva (1861) - novela
  • Cantos à beira-mar (1871) - poesias
  • A escrava (1887) - conto
  • Hino da libertação dos escravos (1888) - letra e música
  • Hino à mocidade - letra e música
  • Auto de bumba meu boi - letra e música
  • Valsa - música
  • Rosinha - letra e música
  • Pastor estrela do Oriente - letra e música
  • Canto de recordação - letra e música
 
Vale lembrar que apesar de Maria Firmina dos Reis ser bem conhecida por sua primeira obra, “Úrsula”, ela tem destaque em contos e músicas, cada um com sua riqueza e importância.
 
Leia Maria Firmina dos Reis e conheça a escrita dessa mulher grandiosa e o seu protagonismo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Link com obras da Maria Firmina dos Reis: file:///C:/Users/adeli/Downloads/ursula_obras_reis.pdf
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