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24/07/2020 às 22h29min - Atualizada em 24/07/2020 às 21h43min

Mulheres artesãs: o empreendedorismo feminino por uma visão cultural

Entenda a função social e impacto econômico do artesanato na vida de milhares de brasileiras em meio à crise atual

Eunice Peixoto - Editado por Letícia Agata
Foto: (Reprodução/Internet)
Não é novidade que o artesanato tem se configurado como uma ferramenta essencial para a expressão cultural e a geração de renda. Pelo contrário, esse modelo de trabalho funciona como um paradoxo, ao passo que advém de um tradicionalismo histórico e uma constante reinvenção na diversidade social das regiões brasileiras.
 
Desse modo, os resultados colhidos tornam-se uma forma de garantia da subsistência de muitas famílias, fato que em sua maior parte é conduzida pelo público feminino. Historicamente, as mulheres artesãs uniram seus pensamentos e transformaram  sua criatividade em arte a partir de tecidos, retalhos, peças decorativas, utensílios domésticos, costura e diversas outras formas em que eram espelhadas suas emoções.
 
O ato de valorizar essa pluralidade, expressão cultural, formatos, ambiguidades e esse conjunto de legados, é uma forma de dar voz às mulheres artesãs, artistas e criativas que contribuíram para o desenvolvimento social e para a sua independência pessoal, oferecendo um lugar a essas conquistas, ainda mais próximo de outras mulheres. 
 
O apoio entre artesãs
 

Foto: (Reprodução/Governo do Maranhão).
 
Com uma trajetória baseada no artesanato desde 2009, a paulista Fernanda de Nadai tem, aos 38 anos, se tornado inspiração para centenas de mulheres artesãs por todo o Brasil. Isso se deve ao seu trabalho na Academia do Artesanato, onde fundou o método Mulher Artesã Empreendedora (MAE), que é configurado através de mentorias online, a fim de auxiliar artesãs criativas a gerenciar, desenvolver e expandir seus negócios, além de estimular esse público a reconhecer o seu potencial e validá-lo no mercado.
 
O objetivo da mentora é auxiliar artesãs e empreendedoras nessa busca por conhecimento e autoconhecimento:

“Nessa crise, por exemplo, eu incentivo as minhas alunas a procurar aquilo que não sabem fazer e buscar ajuda, se capacitar para que haja um avanço. Eu percebo que elas não se deixaram abater pela crise e continuaram em ação, fazendo a sua parte e vendendo até melhor do que antes, porque mesmo em meio à crise existem oportunidades. Só precisamos ter um olhar atento, buscar inovar, compreender os sinais do mercado, do nosso público e nos adaptar. E principalmente olhar: "o que me faltou nessa crise? Ah, eu não vendia com cartão, não sabia usar redes sociais e isso me fez falta". Depois, preciso correr atrás de aprender para que eu supere esse obstáculo e não sofra lá na frente novamente.”

 
Além disso, Fernanda disponibiliza cursos e conteúdos virtuais, o que tem ajudado a fazer com que outras mulheres gerem renda, inclusive durante a crise atual. Exemplo diss, é o caso de Paula Régis, artesã de biscuit no interior da Paraíba, que participou do MAE e hoje afirma: “Eu sempre tive necessidade de organização das finanças e do tempo, principalmente por ter que trabalhar com outras coisas além do artesanato. Eu também fazia festas e eventos, e tudo isso consumia muito meu tempo. Além disso, havia a desorganização de misturar as contas da loja com as contas de casa. E nesse momento, eu encontrei no MAE uma forma de melhorar e aprender aos poucos como eu poderia ajustar, conciliar e adequar esses fatores.”

Segundo Paula, em momentos de crise, como o que estamos vivenciando, a melhor alternativa para mulheres artesãs é inovar e aproveitar as oportunidades. A empreendedora, que trabalhava com eventos e biscuit voltado para festas infantis, perdeu algumas encomendas no período de pandemia, mas encontrou, na organização de mesa-posta para refeições, uma forma de se adaptar: “Comecei a produzir porta-guardanapos e hoje estou com uma demanda muito boa de encomendas, em que inclusive, a maioria não é da minha cidade, e a divulgação na internet tornou-se o principal meio para esse alcance”, disse Paula.

 Foto: (Reprodução/Instagram @paularegismodelagem)

A expressão social na criação de peças
 
Atualmente, o empreendedorismo absorve grande simbologia na construção de peças exclusivas, feitas à mão e a partir da intuição feminina, que de certa forma, é utilizada como instrumento de valor e agregado às soluções inovadoras e fortalecidas na economia criativa. Essa noção amplia o conceito social nos próprios artigos, que demonstram ideias e a expressão cultural na produção.
 
Esse conceito é bem presente na Loja Afroempreendedora Negra Luz, empreendimento de Tatiane Costa, de Aracaju (SE), que possui o seu negócio como mais do que uma forma de gerar renda, mas como um modo de desenvolvimento humano e cultural. Em entrevista, a artesã afirma: 


“O afroempreendedorismo faz da minha marca não só um empreendimento, mas a torna política. Dessa forma, levanto a bandeira do movimento negro, e modifico não só a mim, mas aqueles que estão ao meu redor. Trabalhar com estética negra me proporciona a quebra dos padrões impostos sobre nossos corpos, a mudança do nosso olhar no espelho.”

 
Essa visão amplia o espaço da mulher no mercado de trabalho e possibilita que outras lutas sociais sejam inseridas na construção dessas peças, que provém a transformação da população. Dessa forma, o estímulo aos projetos de empreendedorismo feminino tornam-se ainda mais necessários: é uma carga que ultrapassa a visão de lucro, e compreende o empoderamento e a participação da mulher de forma ativa no mercado de trabalho.
 
Rosa Maria, sócia e artesã da loja Flor de Algodão, em João Pessoa (PB), também confirma esse fato. Artesã desde os 10 anos, ela conclui: “Nós mulheres somos ainda mais emotivas. Então há história e cultura por trás da criação de peças, e o que encanta os clientes é essa dedicação, o carinho na produção. A mensagem que eu deixo para as mulheres que desejam empreender, é que não visem o lucro. Se dediquem com amor em cada peça, e o reconhecimento é consequência.”

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