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25/07/2020 às 01h08min - Atualizada em 25/07/2020 às 00h20min

Equador e as décadas de crise: entendendo as raízes do problema

Isadora Lassi - Editado por Camilla Soares
Fonte: O Globo
A américa latina é uma região de colonização extrativista em sua grande maioria como Venezuela, Colômbia e Brasil.
O Equador, assim como o Brasil, é exportador de commodities, que são matérias primas de uso global com valor definido em bolsa de valores, logo o mercado internacional que dita os preços, como petróleo e minérios. Sua economia é dependente basicamente, do mercado externo, logo é extremamente suscetível a crises.
Sofreu influências ocidentais (Estados Unidos) e teve predominância de governos liberais com tendências capitalistas, assim como percebemos na Colômbia, Argentina, Brasil e sua ditadura de direita.
 
Na década de 90, os presidentes eleitos democraticamente priorizaram pautas liberais, a relação do mercado, a privatização da saúde e educação, menos direitos trabalhistas e reformas da previdência social, assim o país estaria “livre para o crescimento”. Logo se tornou terreno fértil para desigualdades e diversos grupos sociais fortificados (sindicalistas, universitários e indígenas) se revoltaram contra essas medidas liberais, pois eram os mais afetados.
Como isso foi reflexo das altas taxas de desigualdade, acabou por dar início a muitas manifestações, culminando na saída de diversos líderes, os quais defendiam pautas políticas e econômicas de direita.

No ano de 2000, houve a dolarização da economia. O sucre (moeda local) sofria da grande oscilação de mercado e constantes altas, fazendo com que a população não pudesse comprar produtos básicos para a sobrevivência. Houve assim a mudança de moeda, porém a moeda americana é utilizada em todas as negociações de mercado, fazendo com que as mercadorias sejam compradas por um valor maior, logo serão vendidas por um preço superior. Isso gerou problemas de compra e uma das saídas dos governos foram a implantação de subsídios, onde o estado arcaria com uma parcela de investimentos, promovendo uma acessibilidade maior da população a todos os serviços essenciais.

Em 2007, foi eleito Rafael Correa (atualmente conta com vários processos por corrupção, subornos e foi condenado a 8 anos de prisão por envolvimento com a Odebrecht) com pautas de esquerda, lançou um discurso onde promovia uma “revolução cidadã”. Ou seja, o estado arcaria com mais compromissos na economia para melhorar a situação, assumindo parte da educação e saúde, logo a economia teve mais intervenção do governo e a população consegue acesso a serviços essenciais. Porém o custo estatal é muito elevado e leva a um déficit fiscal.

Entre 2007 e 2014 o preço do petróleo se mantém elevado, fazendo com que o Equador ganhe mais dinheiro e a economia volte a circular. Com isso, o governo acaba por gastar mais em subsídios, aumentando sua dívida pública mesmo que levando a uma ascensão social. Já em 2014, os problemas com o petróleo se intensificaram, gerando crises não só no Equador como também no Brasil. O dinheiro que entrou de forma “fácil” logo se esvaiu e em 2014/2015 o país sofreu uma grande crise em todos os âmbitos, a saúde perdeu dinheiro juntamente com a educação e houve um grande sucateamento das estruturas sociais.



Em 2017, o então presidente tem seu mandato finalizando, porém consegue eleger seu sucessor, Lenín Moreno, que tinha um discurso semelhante ao do anterior e pregava pautas voltada para economia social. Em seu mandato, tenta uma reaproximação com a oposição, embora desde a década de 90 houvesse uma grande polarização da política, é alvo de grandes críticas e acaba por romper com Rafael. Moreno começa a ter práticas liberais e decide fazer uma reforma fiscal devido a grande dependência do mercado internacional e as camadas sociais falidas pela crise.

Recorre ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e adquire um empréstimo, porém em uma das medidas de austeridade, o Fundo pede como garantia o fim do subsídio de combustíveis, levando ao estopim para a crise de 2019. A população se sentiu traída pela mudança de discurso, uma vez sendo social e agora tornando-se liberal e também pelo aumento no preço do combustível.

Com o um aumento em mais de 100% nos preços de combustíveis, levou a alteração de toda a cadeia produtiva do país, uma vez que tudo sofreu alteração no valor, encarecendo assim as condições de acesso a produtos básicos. Lénin revoga o aumento porém não resolve o problema, uma vez que todas as camadas estavam afetadas a vários anos devido as constantes crises e oscilações de medidas políticas/econômicas.


Por questões de segurança, o presidente muda a capital de Quito para Guaiaquil afim de evitar conflitos com os indígenas (grande maioria da população que sofre com ameaças e marginalização),se afasta da população afim de efetuar suas reformar e retirar direitos civis e também apontar que as manifestações que ocorrem são partidárias.

Atualmente, a crise que mais reflete todos esses problemas anteriores é a do combate da Covid-19, que expõe uma saúde totalmente sucateada, a falta de leitos e de custo elevado (um dia em internação custa em média $800 dólares). Não tratando essa situação só como um problema de saúde mas também de má gestão econômica e social, uma vez que não há auxílio para as populações mais carentes poderem cumprirem o isolamento social de forma correta, levando a índices de mortalidade a níveis exorbitantes, necrotérios superlotados e um controle quase zero da doença.

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