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30/07/2020 às 01h12min - Atualizada em 30/07/2020 às 01h12min

Opinião: Respeite a camisa que a gente suou

Bolsonaro com a camisa do Corinthians reabre debate sobre a Democracia Corinthiana

Gabrielly de Souza
Corinthians com a faixa da democracia corinthiana, em 1983. Foto: Claudine Petroli – 14.dez.1983 – Estadão Conteúdo/AE
Na tarde dessa quarta-feira (29), as vésperas de um jogo decisivo para o time do Corinthians, as redes sociais foram tomadas por um vídeo do ex-jogador Marcelinho Carioca com o presidente Jair Bolsonaro vestindo a nova camisa do Corinthians. O ex-jogador diz que faz parte da “democracia” o presidente vestir a camisa do Timão mesmo ele sendo torcedor do Palmeiras.

Em nota oficial, a diretoria do Corinthians e o patrocinador Banco BMG informaram não ter responsabilidade sobre o vídeo divulgado, e que a iniciativa de entregar a camisa para o presidente partiu do ex-jogador do clube.

A imagem criou revolta na torcida corinthiana. Para alguns, a conduta de Marcelinho Carioca em associar a imagem do Corinthians a de Bolsonaro, desrespeita as raízes do clube que tem em sua história as marcas da luta pela democracia.

Horas após a divulgação do vídeo, um dos protagonistas da Democracia Corinthiana, o também ex-jogador do clube, Walter Casagrande, gravou um vídeo reprovando o episódio.

 

“Em 1979, a torcida do Corinthians abriu uma faixa no Pacaembu dizendo: ‘Anistia para os presos e exilados políticos’. Em 82 e 83, até 85, essa camisa aqui era da Democracia Corintiana. Essa camisa representa a liberdade, representa a democracia e nenhum ex-jogador tem o direito de representar o clube politicamente. Eu também não tenho. Isso aqui é democracia, isso aqui sempre foi democracia”.

 
As palavras de Casagrande refletem exatamente o que ele, Sócrates e seus companheiros nos disseram lá atrás, mas que nos tempos de hoje, precisam e devem ser reforçadas.

Não existe lógica plausível pelas questões futebolísticas um palmeirense vestir a camisa do Corinthians. Nos termos políticos, não há como associar a imagem de alguém cujas atitudes são antidemocráticas a um clube que lutou veemente pela liberdade e pela democracia.

A história existe para ser relembrada, mesmo que por vezes os que estão à frente do Corinthians não representem a verdadeira essência do clube, a história já foi escrita. A glória e a desonra caminham lado a lado, e o tempo é senhor das duas.  Para quem entende o que é ser Corinthians, o episódio de hoje, evidencia os dois polos.

De um lado, o Marcelinho, “pé de anjo”. Em campo, herói de títulos e de mais títulos, autor de gols antológicos e de cobranças de faltas magníficas. Fora das quatro linhas, demonstra ter faltado as aulas do que é ser Corinthians. Isso fica ainda mais nítido, com a atitude de desonra em presentear alguém não digno com a camisa pesada que um dia teve o prazer de representar.

Do outro lado, Casagrande. Em campo, os títulos foram poucos. Mas fora dele, as vitórias e glórias são incontáveis. A atitude de Casagrande de se posicionar – não só hoje, mas sempre quando necessário -- representa o papel enorme que ele tem ao relembrar a nova geração da importância de não passar por cima da sua essência pra que novas glórias sejam conquistadas. A história precisa ser respeitada.

Para quem entende a problemática no ato de Marcelinho de entregar a camisa de um clube que foi o primeiro a carregar em seu manto dizeres políticos, clamando por democracia durante o período da ditadura militar a quem exalta torturadores e profere expressões antidemocráticas a todo tempo: nunca perca a certeza de estar do lado certo.

A quem não vê problema na imagem do clube do povo estar associada a quem representa a antítese do que é o Corinthians: respeite a camisa que a gente suou, respeite quem pôde chegar onde a gente chegou. 

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