06/08/2020 às 10h07min - Atualizada em 06/08/2020 às 09h33min
Saúde Indígena e o Covid-19 em Pernambuco
Como a pandemia afetou a realidade das aldeias
Gabriella Loiola - Editado por Caroline Gonçalves
Acervo APOINME O estado de Pernambuco contabiliza 98.833 casos de pessoas contaminadas pelo Coronavírus e 6.717 óbitos de acordo com dados divulgados pela Secretária de Saúde do Estado na atualização feita no dia 4 de agosto de 2020.
Desde os primeiros casos confirmados no Recife em 12 de março desse ano, o Covid-19 se espalha pelo estado atingindo mais cidades, entre elas as comunidades indígenas no interior. O primeiro óbito foi de um Fulni-ô no dia 23 de março de acordo com a Secretaria de Saúde da cidade de Águas Belas.
De acordo com a Rede de Monitoramento de Direitos Indígenas em Pernambuco (REMDIPE), são 286 casos confirmados entre povos indígenas em Pernambuco e doze óbitos na ultima atualização feita no dia 28 de julho. A Remdipe promove, junto com a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do NE, MG e ES (APOINME), Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco (COPIPE) e a Comissão dos Jovens Indígenas de Pernambuco (COJIPE), questionários para compreender os impactos da pandemia para os povos indígenas, bem como pensar em estratégias de enfrentamento às situações de risco e da vulnerabilidade das comunidades.
João Victor do povo Pankararu que atua junto a Remdipe falou sobre o combate à prevenção à disseminação de Covid-19 realizado no território Pankararu, as dificuldades enfrentadas na economia e o acesso a atendimento de saúde de qualidade.
No Território Indígena Pankararu foram instauradas Barreiras Sanitárias nas três entradas principais do território, fechando com barricadas, entulhos e arames de forma definitiva os demais acessos que existiam.
Nos demais territórios, a inciativa tem sido a mesma, os próprios povos tem se organizado para isso, fazendo uso da autonomia que são resguardados. Por uma iniciativa única e exclusivamente de suas organizações, relata.
O Distrito Sanitário Especial (DSEI-PE) enviou aos Polos-Base de cada território, o total de 20 testes no final de Maio para começo de Junho que inicialmente que foram utilizados logo após recebimento. Atualmente, existem parcerias com os municípios circunvizinhos para testagem dos indígenas, como também a APOINME tem dado suporte na doação inclusive de EPIs para as comunidades.
Atualmente temos oito indígenas contaminados no território Pankararu e Pernambuco conta com 241 indígenas infectados com 19 óbitos, sendo o estado com maior número de óbitos da região Nordeste segundo o boletim informativo e epidemiológico da APOINME, conta João Victor.
Não existem hospitais de campanha ou outro tipo de plano estratégico para atendimento dos indígenas.
As equipes de saúde tem se desdobrado para atender a população, dá suporte aos infectados, às famílias, realizar os testes e acompanhar os monitorados. Não existe uma equipe específica para essa atenção, já que temos que lidar também com a pouca contratação de trabalhadores e as patologias que já existiam nas comunidades, explica ele.
O isolamento abriu uma lacuna na economia das pessoas, muitos indígenas dependem das feiras livres, venda de artesanato, venda de frutas, que foram impedidos por conta do risco de contágio e como medida de isolamento social definida pelo governo do estado.
Algumas pessoas tiveram acesso ao Auxílio Emergencial e isso foi o que garantiu que não passassem necessidades, mas também expôs muitos indígenas as cidades, aumentando ainda mais o risco de contraírem o vírus, sendo transportadores para as aldeias, relata João Victor.
