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06/08/2020 às 16h36min - Atualizada em 06/08/2020 às 16h10min

Perda de renda entre estudantes traz aumento do abandono de cursos em universidades particulares

Abandonos, trancamentos e inadimplência marcam um período conturbado para o setor privado de ensino

Larissa Campos - Editado por Camilla Soares
Imagem: PublicDomainPictures/Pixabay
Com o fechamento de vagas de emprego, demissões em massa e orçamento doméstico mais apertado, universitários de redes particulares se veem em dificuldades para manter o curso em meio a pandemia.

Um levantamento feito pelo Semesp, sindicato que representa o setor do ensino privado no Brasil, indicou que as universidades particulares perderam 265 mil estudantes por abandono ou trancamento de matrícula nos meses de abril e maio. A evasão de estudantes foi 32% maior que o mesmo período do ano passado, onde foram contabilizadas 201 mil desistências.

Outra pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) indicou que, em junho, para 82% dos estudantes, a perda de renda foi o principal motivo para a descontinuidade dos estudos. Ainda segundo o estudo, a inadimplência também teve um aumento, chegando ao percentual de 75% entre abril e maio.

Bruna Tissi é estudante de jornalismo e uma das pessoas que foi atingida pela perda de renda em virtude da pandemia. Desempregada e sem previsão de volta ao mercado de trabalho, Bruna comenta que as contas tem se acumulado, enquanto se mostram com um valor cada vez mais alto.

A universitária destaca a dificuldade em manter os custos da faculdade e duvida que conseguirá pagar as próximas mensalidades. ‘’Só com um milagre mesmo’’, comentou.

Para Bruna, a posição das universidades particulares em não conceder um desconto nas mensalidades é desrespeitosa, visto que atualmente as aulas estão sendo ministradas remotamente, o que reduz os gastos com a manutenção do prédio.

‘’Na hora de fazer a matrícula eu optei pelo curso presencial, só que com a pandemia tudo teve que parar. O problema é que querem que eu continue pagando por algo que eu não vou ter, isso eu acho um abuso e um desrespeito enorme com o estudante. Pior é a instituição querer parcelar a mensalidade e só fazer isso no cartão de credito. Ou seja, aumentam-se os juros, aumenta-se a quantidade de coisas pra pagar e prolonga ainda mais o problema de falta de dinheiro. E outra, quem não tem cartão de crédito, faz o que? Quando eu fui até a secretaria, disseram que eu teria que pagar à vista porque não tenho cartão de crédito. Péssima posição da faculdade’’ afirmou.

A estudante também declarou que tentou uma negociação com a sua universidade, que se negou a conceder qualquer tipo de desconto.

Assim como Bruna, Thaís Ribeiro da Silva enfrenta problemas com os custos da universidade. A estudante de nutrição está desempregada, sendo assim, o seu pai arca com os pagamentos das mensalidades, porém, com a chegada da pandemia, este acabou sofrendo uma redução no salário, resultando em um orçamento mais restritivo.

Apesar disso, Thaís ainda está conseguindo manter a faculdade, mas confessa já ter cogitado interromper os estudos. Para ela, a conduta das instituições de ensino privado não é correta. ‘’Essa é uma situação delicada onde muitos se encontram desempregados ou com alguma dificuldade, e sem a redução [da mensalidade] muitos se veem obrigados a trancar’’ completou.

Larissa Emanuela está em uma situação semelhante, porém, diferente das outras, optou pelo trancamento da matrícula. A ex-estudante de jornalismo teve o seu salário reduzido por três meses, juntamente com seu pai, que a auxiliava com os custos das mensalidades. Percebendo que o pai estava tendo dificuldades em arcar com as despesas e priorizando as contas essenciais, optou pelo trancamento. Emanuela também discorda do posicionamento das universidades em relação às mensalidades e comenta que se sentiu chateada com o intervalo dos estudos, mas que pretende retornar em um futuro próximo.

O que a lei diz sobre isso?

O advogado, defensor público e vereador Rubens Champam explica que a posição das universidades de ensino particular não é inconstitucional, visto que estas continuam mantendo as aulas, mesmo que de forma remota. Ele diz ainda que as instituições tiveram um gasto adicional para criar e manter o ensino online.

Rubens afirma que caberia ao governo federal legislar sobre uma redução de mensalidade, porém, a orientação do Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) é que haja uma negociação entre alunos e universidade, a fim de averiguar cada caso.

“É uma situação complicada, pois temos que entender os dois lados. Poderia haver uma flexibilização entre as partes, pois as universidades ainda mantêm seus gastos, e havendo uma redução das mensalidades quem sofreria seriam os funcionários. Em contrapartida os alunos também sofrem ante a crise. Por tal razão, o governo federal poderia dar uma alternativa que beneficiasse tanto as universidades quanto o consumidor, dando um financiamento público para ajudar pais de alunos em dificuldades, pois a constituição é clara: Compete ao Estado garantir a fruição do direito constitucional à educação, visando a não interrupção do pleno desenvolvimento educacional da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” Completou.

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