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07/08/2020 às 14h17min - Atualizada em 07/08/2020 às 14h06min

A apropriação cultural na indústria musical

Laiz Vaz - Revisado por Jéssica Natacha
(Foto: Divulgação/ FX)
Grande parte da população periférica são negros que tem heranças culturais enraizadas dos seus afrodescentes, como por exemplo, costumes, penteados, roupas e os genêros musicais (black, rap, hip hop, jazz e soul). Há conflitos quando as pessoas brancas utilizam desses artefatos, então é ou não apropriação cultural?

A utilização de símbolos como dreads, turbantes, expressões religiosas e composição racial nos gêneros musicais, ganham pesos e medidas diferentes, em relação a cor da pele de quem os usa. Porém não por apropriação, mas pela forma como vivemos dentro de uma sociedade racista. O fato é que a cultura negra é popular, mas as pessoas negras não.

Sam Phillips foi presidente da gravadora Sum Records nos anos 50 e autor da frase "Se eu pudesse encontrar um homem branco que tivesse o som negro e o feeling negro, eu poderia fazer um bilhão de dólares”, a ambição dele era apresentar para a América branca a música negra, porém sem os negros e seus objetivos se concretizaram. Infelizmente, é algo que a indústria utiliza até os dias de hoje.

No Brasil, o debate sobre a indústria vender a música negra em artistas brancos voltou em 2017 com o lançamento do videoclipe “Vai Malandra” da Anitta. O clipe foi gravado no morro do Vidigal, na Zona Sul do Rio de Janeiro e nele Anitta aparece com roupas periféricas, tranças box braids e também super bronzeada. A partir deste episódio começou as comparações de que na maioria de suas produções, a cantora usava a “personagem” de negra periférica, enquanto nas premiações se mostrava diferente, desde a vestimenta até o cabelo liso, visivelmente branca.

Segundo a Associação Americana da Indústria de Gravação (RIAA - em inglês), rap e o hip hop movimenta cerca de 1,5 bilhões de dólares por ano. O aumento de artistas brancos dentro dessas categorias é visível, rappers brancos ganham maior destaque no estilo musical e consequentemente recebem mais prêmios, comparado aos rappers negros que sempre estiveram em ascensão. Um exemplo disso é o Grammy Awards (2014), quando os rappers Macklemore e Ryan Lewis levaram as premiações de melhor música, melhor álbum e performance de rap do ano, contra artistas como Drake, Kanye West, A$AP Rocky e Kendrick Lamar que concorriam na mesma época.

Não que os brancos não possa fazer rap e ter seu devido reconhecimento, nada contra, obviamente músicas de qualidades merecem incontáveis prêmios. Mas a criação do rap veio à público para dar voz as minorias, uma maneira da periferia mostrar ao mundo problemas reais, como a falta de oportunidade, o racismo e a negligência do estado. Expor os problemas, as dificuldades e superações que cercam a população negra e periférica.

Portanto, antes de exaltarmos somente os artistas brancos, deveríamos exaltar também os diversos e incríveis artistas negros quem os inspiraram; conceder o devido reconhecimento, pois eles também merecem e, por mais que tenham espaço para expressarem sua arte, ainda não é o suficiente.

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