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07/08/2020 às 19h00min - Atualizada em 07/08/2020 às 18h10min

Contribuições em declínio | ONGs e Santuários para animais sentem o efeito da pandemia

Possivelmente, enquanto os resgates aumentavam, as doações de recursos e adoção de animais diminuíram gradativamente junto com a situação econômica do país

Ana Paula Cardoso - Editado por Caroline Gonçalves
Foto: VisualCommunications / Divulgação: Getty Images
Infelizmente, o abandono de animais está cada dia mais presente nos noticiários e apesar de ser um crime previsto na Lei 9605/98 (Lei de Crimes Ambientais), muita gente ainda o comete, lembrando que, ele prevê não só o abandono, mas também os maus-tratos realizados contra esse animal como crime. Essa situação pode se agravar ainda mais diante de uma nova realidade mundial, já que muitos animais têm sido abandonados em diversos países devido a informações falsas ou mal colocadas ligadas a pandemia, podendo contribuir para o crescimento do abandono. Ao serem largados à própria sorte nas ruas, podem ser mortos, atropelados, envenenados, maltratados e passar fome e sede. Infelizmente, as ONGs voltadas para a causa animal, por falta de recursos, não têm condições para resgatar e cuidar de todos os animais abandonados no país.

Não existem dados oficiais sobre o abandono no Brasil durante a pandemia, mas o cenário é nítido, para qualquer um que caminhe pelas ruas da sua cidade.

“Não só durante a pandemia, mas em um plano geral, o índice de abandono vem aumentando gradativamente independentemente da existência de uma pandemia, porque o ser humano pensa apenas nele mesmo”, declara Lito Fernandez, biólogo, comportamentalista ambiental e presidente do Centro de Adoção Natureza em Forma, situada na capital de São Paulo, que atualmente abriga 300 animais, entre cães, gatos, galinhas, periquitos e pombas, todos destinados para adoção.

     

Segundo Lito Fernandez, a ONG Natureza em Forma não realiza resgates, “a gente ajuda quem ajuda os animais, a maioria vem de protetores, vem de outras ONGs, Centro de Controle de Zoonoses, os nossos resgates são poucos, não priorizamos isso, priorizamos realizar o encaminhamento dos animais, a adoção desses animais”, conta.

Para trazer recursos que ajudassem a manter o trabalho da ONG, foi criado em 2013 a empresa social Pet Centro Animal, para que todo o recurso arrecadado fosse revertido para a causa social, é promovido ações de castração, atendimento na clínica veterinária com sala cirúrgica, identificação pelo RGA (Registro Geral Animal) e banho e tosa vegano, tudo a preço popular. Posteriormente, essa entidade também deu origem ao Brechó Natureza em Forma, para arrecadar também recursos para todos os projetos da ONG. “São coisas que as pessoas doam e que a gente vende para reverter para a causa animal”, diz Lito.

A empresa citada acima, desfrutava o projeto de construir um hospital veterinário no local no qual o Brechó está localizado atualmente, mas o projeto precisou ser adiado. “Não conseguimos dinheiro para a reforma e automaticamente com essa pandemia, esse projeto deu uma desandada e não temos previsão de quando ele vai acontecer”, declara Fernandez.

Logo no início da pandemia, foi lançado um projeto através do PagSeguro para que a ONG não fechasse as portas, mas as arrecadações foram decaindo de acordo com a situação econômica brasileira. “Houve muitas adesões, mas depois do decorrer, muitos foram pedindo para ir cancelando”, admite o presidente da Natureza em Forma.

 
“No sentido de doação de objetos, até pelas pessoas estarem em casa e terem mais tempo, nós estamos recebendo muitas doações de roupas e objetos pessoais, já outras coisas diretamente para os animais, diminuíram um pouco”, garante.

                                                                     
“Está bem parado o movimento de adoção, pra você ter noção, nossa última adoção ocorreu no dia 15 de julho, tivemos muitas adoções no começo da pandemia, muita procura, que há muito tempo não havia, muita gente empolgada, tanto é, que tivemos algumas adoções, e por mais que a gente fale e seja criterioso, houve várias devoluções, como há muito tempo não tínhamos”, diz Fernandez.

“Na alta de adoções tivemos 30 adoções em um mês, o que é bastante, antes da pandemia nós mantínhamos uma média de 20 adoções por mês, mas também tivemos muitas devoluções, e isso para nós é muito, desses 30 tivemos cerca de seis a sete devoluções, porque nosso índice de devolução por mês é muito baixo, quando tem, é apenas uma devolução em um plano geral”, esclarece.
            

Todos os animais selecionados para serem encaminhados para a adoção são castrados, vacinados, vermifugados e identificados. Para a pessoa adotar, ela passa por um critério de adoção, realiza entrevista, preenche documentação, e deve trazer um vídeo da sua casa para que eles analisem se é um ambiente compatível com o animal.
 
“A gente é bem criterioso com as adoções, não queremos nos livrar dos animais, a gente quer que eles definitivamente tenham um lar, não importa quanto tempo o animal fique com a gente para a adoção, ele vai ficar até ser adotado, enquanto isso não ocorrer, aqui será o lar dele”, garante.

 “Nas nossas mídias existem muitas reclamações de pessoas que tentaram adotar e não conseguiram, ou porque a pessoa foi lá e perdeu o animal, se isso aconteceu uma vez pode acontecer uma segunda vez, se a pessoa não mudou o hábito ou não mudou de local, a probabilidade disso acontecer novamente é imensa”, declara Lito Fernandez.
                                                               
“Sinto-me agradecida por ser parte desse trabalho, por ter podido me dedicar a ele integralmente, e por ter escolhido há anos atrás me tornar vegana”, declara Nina Rosa Jacob, presidente do Instituto Nina Rosa, responsável por produzir durante meia década projetos por amor à vida, com o intuito de trabalhar a educação e sensibilização de humanos, entre suas produções, estão documentários, livros, cursos, participações em palestras e entrevistas pelo Brasil e até internacionalmente.

Após trabalhar durante um período de 6 anos voluntariamente em ONGs para defesa animal onde fosse necessária, deu origem ao Instituto no ano de 2000 promovendo além da educação humanitária, adoção de animais, castração e atendimento em hospitais públicos veterinários “a criação do Instituto Nina Rosa foi uma consequência do trabalho que já estava realizando, para poder torna-lo mais organizado e abrangente”, conta.

As atividades como ONG foram encerradas em 2015, entretanto, o site continua ativo até o momento atual, com o propósito de fornecer e disponibilizar materiais educativos e informações relacionadas à história do Instituto.


 
“Continuamos informando e inspirando, pois os nossos materiais educativos estão disponíveis para baixar gratuitamente no site do Instituto”, afirma Nina.

Entre eles estão ‘A carne é Fraca’, ‘Fulaninho, o cão que ninguém queria’, ‘Vegana’, ‘Vida de cavalo, burros e jegues’, ‘Olhar e ver’, ‘Alternativas ao uso de animais vivos na educação – pela ciência responsável’, ‘O gato como ele é’, entre outros.

“Continuo acreditando na educação humanitária e estou convicta que o material educativo que produzimos fez diferença para muitas pessoas, de diversas faixas etárias”. Segundo Nina Rosa, ela recebeu ao longo dos anos incontáveis depoimentos por cartas, pelo telefone e pessoalmente, sempre agradecendo pelo conhecimento. “A frase que mais ouvi foi: “agora que sei, nunca mais quero fazer parte disso”, conta.

 
“Se as pessoas pesquisassem sobre o custo real do que consomem, incluindo nesse custo a crueldade animal, a destruição da natureza, o desperdício dos recursos hídricos e evitassem esses produtos, as pessoas poderiam ser menos danosas ao nosso planeta, e certamente mais tranquilas internamente”, declara Jacob.


Segundo Nina, são necessárias políticas públicas que contemplem nossos irmãos não humanos “em se tratando de pets, a castração pode diminuir muito o número de cães e gatos abandonados, juntamente com a educação dos tutores dos animais domiciliados”, diz.

 
"Em relação aos cavalos, burros e jegues ela alega que eles sofrem escravidão, trabalham forçados e além de tudo, no fim de sua vida muitos são abandonados ou levados para matadouros “é inominável o que se faz com esses irmãos tão sensíveis e pacíficos”, afirma Nina Rosa.

 
“Para que o mundo passe a tratar os animais com dignidade e o respeito que eles merecem, nós, humanos, temos que nos tornar melhores humanos”, reconhece.

Com o objetivo de fornecer a oportunidade de uma vida na natureza para todos os elefantes que viveram durante parte de sua vida presos em cativeiro e isolados, surgiu o Santuário de Elefantes Brasil (SEB), situado na Chapada Dos Guimarães no Mato Grosso, sendo este, o primeiro santuário de elefantes na América Latina.
 
“Os elefantes resgatados pelo Santuário de Elefantes Brasil são elefantes em situação de risco, que viveram durante décadas em cativeiro, em circos ou zoológicos, do Brasil e diversos países da América do Sul.  A organização já resgatou elefantes de diferentes estados no Brasil (Sergipe, Minas Gerais e Paraíba), assim como de outros países como o Chile e Argentina”, conta Simone Rocha Hiromoto, uma dos diretores do SEB.

“A equipe já teve experiências muito positivas de trabalho e parceria com zoológicos para a realização de transferências de elefantes, como foi o caso do EcoParque de Buenos Aires e com o Hotel Fazenda Boa Luz em Aracajú, Sergipe.  Já houve outras situações em que trabalhamos com o Ministério Público e outros órgãos governamentais no processo burocrático para realizar a transferência do elefante”, diz.

 
De acordo com Simone, depois de décadas de vida em cativeiro, com restrição de espaço, cuidados inadequados e a falta da convivência com indivíduos da mesma espécie, os elefantes resgatados pela organização, quando chegam ao Santuário, apresentam diversos problemas físicos e emocionais “esses problemas variam desde problemas crônicos renais e hepáticos, problemas nutricionais, infecções crônicas nas patas (a principal causa de morte de elefantes em cativeiro), assim como comportamentos estereotipados, medos e traumas”, declara.
 

“No momento em que o elefante chega ao Santuário, sua transformação é visível, a mudança do comportamento é imediata, conforme a avaliação da equipe do SEB, é feita a apresentação e adaptação do novo elefante aos outros elefantes, e os cuidados veterinários são iniciados imediatamente’, afirma.


Dentre as atividades da organização não governamental estão a busca pela preservação das espécies, resgate e reabilitação de elefantes, defesa, preservação e conservação do meio ambiente, promoção do desenvolvimento sustentável, educação ambiental, voluntariado, entre outros.

                                                         

No atual momento, o SEB abriga 4 elefantes fêmeas asiáticas, a Maia, Rana, Lady e Mara.  Para garantir a recuperação física e emocional dos elefantes resgatados, eles não permitem a realização de visitas.

 
 “Prezamos por interferir na rotina dos animais o mínimo possível, para que vivam realmente de forma natural”, alega Simone.

Ao abordar sobre como está sendo enfrentar a pandemia em relação aos gastos e doações, a diretora afirma que eles sempre trabalham com o objetivo para que a organização esteja preparada financeiramente para enfrentar situações como essa “a equipe trabalha em diferentes frentes, como campanhas e eventos, para que a arrecadação de doações seja constante, garante. 

Atualmente, o SEB está promovendo o ‘Primeiro Leilão de Obras de Arte do Santuário de Elefantes Brasil’ no dia 12 de agosto, data em que se comemora o dia mundial do elefante, com o objetivo de conscientizar o público sobre os impactos negativos que a vida em cativeiro exerce sobre os elefantes e demonstrar como os elefantes se transformam no Santuário. Todo valor arrecadado no leilão e através das doações será utilizado nos cuidados e manejo diário dos elefantes (como alimentação, suplementos e medicamentos), assim como na construção da estrutura dos habitas para novos elefantes.


Para saber mais sobre o leilão e passear pela exposição virtual, há uma página do evento:
https://lojaelefantesbrasil.com/1o-leilao-expo/


Além disso, também está participando da Campanha “Mãos Dadas” do Santuários do Brasil, sendo esta, uma união entre o Rancho dos Gnomos, Shamballa, Animal Sente, Projeto Mucky, Terra dos Bichos, Sítio da Estrela e Santuário das Fadas, para que sejam promovidos recursos por meio de financiamento coletivo através do Kickante, para que seja arrecadado R$ 2.000.000,00, o valor será distribuído igualmente para que arquem com despesas e a manutenção dos santuários. Após essa campanha, o grupo espera receber ainda mais parceiros (santuários) para que agreguem, compartilhem e evoluam juntos.

 

DADOS DA CONTA BANCÁRIA SEB:
Banco Itaú (341)
AG. 0393
C/C 25781-1
CNPJ: 21.222.762/0001-02
- Campanha Santuários do Brasil: https://www.kickante.com.br/campanhas/santuarios-do-brasil
- Leilão Beneficente: https://lojaelefantesbrasil.com/1o-leilao-de-obras-de-arte/
- Página de Recompensas SEB: https://lojaelefantesbrasil.com/

DADOS DA CONTA BANCÁRIA NATUREZA EM FORMA:
Banco do Bradesco
AG. 3349-9
C/C 5800-9
CNPJ: 12.139.936/0001-87
- Campanha Arrecadação: http://centrodeadocao.org.br/campanha-arrecadacao/


Site / Redes Sociais :
ONG Natureza Em Forma => @naturezaemforma e @brechonaturezaemforma
 Santuários de Elefantes Brasil => @elefantesbrasil
Instituto Nina Rosa => http://www.institutoninarosa.org.br/

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REFERÊNCIAS:
VEIGA, Edison. A ‘epidemia de abandono’ dos animais de estimação na crise do coronavírus. BBC NEWS. 30/7/2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53594179. Acesso em: 2/8/2020.
CARDOSO, William. Famílias adotam pets em busca de companhia na quarentena. Agora São Paulo. 18/7/2020. Disponível em: https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2020/07/familias-adotam-pets-em-busca-de-companhia-na-quarentena.shtml?utm_source=mail&utm_medium=social&utm_campaign=compmail. Acesso em: 2/8/2020.
GARCIA, Diego. Abandono de animais se multiplica na pandemia e atinge cavalos e coelhos. Folha de São Paulo. 29/6/2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/06/abandono-de-animais-se-multiplica-na-pandemia-e-atinge-ate-cavalos-e-coelhos.shtml?utm_source=mail&utm_medium=social&utm_campaign=compmail. Acesso em: 2/8/2020.
HAIDAR, Sílvia. Adoção de gatos aumenta na quarentena, mas protetores reforçam responsabilidade. Folha de São Paulo. 15/6/2020. Disponível em: https://gatices.blogfolha.uol.com.br/2020/06/15/adocao-de-gatos-aumenta-na-quarentena-mas-protetores-reforcam-responsabilidade/?utm_source=mail&utm_medium=social&utm_campaign=undefinedmail. Acesso em: 2/8/2020.
CERVENKA DE ASSIS, Luiza. Os efeitos da adoção durante a quarentena. Folha de São Paulo. 6/5/2020. Disponível em: https://emais.estadao.com.br/blogs/comportamento-animal/os-efeitos-colaterais-da-adocao-durante-a-quarentena/. Acesso em: 2/8/2020.


 

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