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08/08/2020 às 16h40min - Atualizada em 08/08/2020 às 16h21min

Primeiro viaduto vegetado do Brasil é inaugurado no estado do Rio de Janeiro

A obra é um marco para a conservação da biodiversidade do país e visa tornar segura a travessia de animais entre os fragmentos de Mata Atlântica cortados pela rodovia BR-101

Larissa Campos - Editado por Camilla Soares
Foto: Divulgação/Arteris Fluminense via G1
Foi inaugurado no último dia 2, o primeiro viaduto vegetado do Brasil. Localizada no km 218 da BR-101, em Silva Jardim, no interior do Rio de Janeiro, a obra com orçamento de 9 milhões teve seu início em 2018 e foi concluída no dia 27 de julho deste ano pela Arteris Fluminense, concessionária que administra a rodovia.

A inauguração da obra coincidiu com o dia do Mico-Leão-Dourado, espécie endêmica do Rio de Janeiro e principal alvo para a construção da estrutura, em virtude do seu atual estado de perigo de extinção.

Sob o viaduto foram plantadas mudas de espécies nativas da Mata Atlântica, bioma do estado, a fim de dar continuidade ao já existente habitat localizado nos contornos da rodovia. A estrutura tem como finalidade central conectar a Reserva Biológica Poço das Antas, um dos principais habitats do Mico-Leão-Dourado, à Área de Proteção Ambiental Rio São João/Mico-Leão-Dourado, proporcionando uma travessia segura dos animais entre as regiões e o encontro de membros da espécie, anteriormente isolados pela presença da rodovia.

No entanto, de acordo com Fernanda Abra, Doutora em Ecologia aplicada e diretora da ViaFAUNA, a estrutura trará segurança a diversas espécies que vivem na região, não se restringindo somente aos micos-leões-dourados. “Quando as árvores crescerem e formarem um dossel florestal (conjunto de copas de árvores), com certeza espécies arborícolas também podem ter o benefício do uso dessa estrutura’’ afirma.

A importância da construção desse tipo de obra se deve ao exorbitante número de mortes de fauna silvestre causadas por atropelamentos em rodovias. Segundo estimativa do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), 15 animais morrem nas estradas brasileiras a cada segundo, 1,3 milhões diariamente e, ao final de um ano, 475 milhões de animais selvagens são atropelados no Brasil.

Fernanda ainda pontua outro efeito negativo sob os animais, causado pela presença de rodovias entre seus habitats: o efeito barreira.

“As rodovias impactam a fauna silvestre de diversas formas, principalmente com a questão da retirada direta de indivíduos por meio das colisões e a segunda questão é o efeito barreira. De uma forma bem simples de ser explicada é o não encorajamento dos animais em atravessar as rodovias, o que gera efeitos muitos negativos para as populações, como o isolamento de espécies. Para os primatas e animais arborícolas de maneira geral, os impactos de fragmentação e efeito barreira são mais acentuados, porque são animais que dificilmente vão descer do dossel arbóreo para cruzar a rodovia’’ explica.

A ecologista também lista as principais medidas de mitigação do atropelamento de animais silvestres, são elas: criação de passagens superiores e inferiores de fauna, viadutos vegetados em combinação com cercas direcionadoras, sistema de detecção animal – um dispositivo que alerta o usuário sobre a presença de um animal na rodovia, placas de sinalização e controle e manejo da velocidade dos veículos.


Mico-Leão-Dourado, o protagonista desta obra
 
 Imagem: Nadine Doerlé/Pixabay

O mico-leão-dourado é uma espécie endêmica do Brasil e da Mata Atlântica, ocorrendo restritamente no estado do Rio de Janeiro, onde é residente e nativo. Atualmente, de acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a espécie se encontra na categoria de perigo de extinção, possuindo uma população remanescente de aproximadamente 1.600 indivíduos.

Segundo a Associação Mico Leão Dourado (AMLD), o desmatamento, a expansão agropecuária e a urbanização reduziram o habitat do mico-leão-dourado, acarretando no confinamento de suas populações restantes em ilhas de florestas secundárias, que são, na sua predominância, menores do que mil hectares. Esse isolamento geográfico resulta no isolamento genético por cruzamento entre parentes, o que acarreta em doenças e outros problemas que vão dificultar a reprodução e, consequentemente, a sobrevivência da espécie.

Dessa forma, a presença de corredores florestais promove não só a redução de atropelamentos de fauna e efeito barreira, como também uma oportunidade de intercambio genético entre grupos anteriormente isolados, diminuindo assim os problemas de consanguinidade e trazendo consigo uma medida efetiva e duradoura na preservação de espécies.

Fabiano Rodrigues de Melo, biólogo e professor do departamento de Engenharia Florestal, ressalta a importância dos projetos conservacionistas destinados a preservação do mico-leão-dourado, que, ao longo dos anos, conseguiram tirar o animal da categoria de criticamente em perigo.

“A Mata Atlântica, no passado, foi praticamente dizimada e essa região do Rio de Janeiro foi extremamente deteriorada. Então o habitat da espécie sumiu e o bicho foi praticamente extinto. Se não fosse um projeto de recuperação das populações de mico-leões que ocorreu no final da década de 70, inicio dos anos 80, a gente não teria nem essa condição de sobrevivência da espécie hoje” explica.

O biólogo ainda afirma que a inauguração do primeiro viaduto vegetado é emblemática para o Brasil. “É um grande legado que a gente está tendo e com certeza foi fortemente influenciado pela presença do mico-leão-dourado” completa

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