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09/08/2020 às 13h12min - Atualizada em 09/08/2020 às 12h29min

Dietland: uma série que veio para quebrar padrões estéticos

Produção aborda questões sociais enfrentadas pelas mulheres

Beatriz Costa Rodriguez - Editado por Alinne Morais
Amazon prime video

Dietland é uma série do Amazon Prime Video que aborda questões sociais enfrentadas pela mulheres. Dentre os tópicos discutidos estão a gordofobia, pressões  estéticas, cultura do patriarcado, misoginia, estupro e como   o feminismo faz diferença na vida das mulheres diante de tudo isso.


A série apresenta para o público a história de uma mulher de 130 quilos que responde cartas em nome da diretora Kitty Montgomery de uma revista feminina. A princípio o seu objetivo de vida é juntar dinheiro para fazer uma cirurgia de redução de estômago.

Todos a chamam de Plum (ameixa em português), fazendo referência a fruta suculenta e gordinha, mas seu verdadeiro nome  é Alicia Kettle que, segundo ela, só poderia usá-lo quando fizesse a cirurgia e fosse magra.

Entretanto, tudo muda na vida dela após aparição de uma guru antidietas e um grupo de feministas radicais que misteriosamente matam homens que cometeram crimes contra mulheres.

 

Pressão estética X Gordofobia

A pressão estética é uma pressão social que todo mundo sofre  para tentar se enquadrar em um determinado padrão. Enquanto a gordofobia vai além disso, é uma forma de discriminação estruturada e dissemina nos mais variados contextos sociais e culturais consistindo na desvalorização e privação de pessoas gordas.

A gordofobia vai além de não se sentir bonito, de não se encaixar no padrão. É uma pressão que afeta a forma de como a sociedade funciona.

 

Diante disso, em Dietland, Plum vive em um ambiente tóxico que reforça constantemente que ela não é adequada para a sociedade se não for magra.

Em uma das cenas ela diz: ‘’percebi que eu não me odeio. O mundo que me odeia por eu ser assim. Todo dia eu caminho por aí com essa  aparência e as pessoas me olham como se eu tivesse a peste. Agem como se eu estivesse suja. Elas olham, riem e gritam. Para piorar, dizem que eu tenho um rosto bonito. E depois me dão conselhos sobre como eu posso consertar meu corpo, porque é errado ser do jeito que eu sou, mas perder peso não resolveria tudo. Eu não iria consertar esse vazio dentro de mim, pois eu continuaria a ser eu’’.

 

A influencer e repórter da revista Capricho, Izabel Gimenez conta sobre suas experiências com a gordofobia, feminismo e auto aceitação: ‘’eu sofro gordofobia desde de pequena, mas antes eu não entendia isso. Então, quando eu comecei a me encontrar no feminismo e ser mais ativa nas redes sociais aos poucos eu fui entendendo que aquelas coisas que me deixavam mal e me faziam querer emagrecer era consequência da gordofobia e a culpa não era minha e conforme eu fui tirando o peso das minhas costas as coisas foram ficam mais simples e fui gostando mais do meu corpo’’. 
 

A influencer conta também que "passei por um processo onde eu queria ser magra e idealizava isso, mas depois entendi que tava tudo bem não ser magra. Porém eu não conseguia me aceitar assim. Depois de um tempo eu cheguei numa fase que eu via meninas gordas usando roupas legais e achava elas estilosas. Logo eu comecei a me questionar porque as coisas funcionam nelas e não em mim. Tratei mais isso na psicóloga, depois de um tempo eu comecei a me aceitar mais e hoje eu me amo, mas são momentos,acredito que tá tudo bem entender isso como uma trajetória. Ás veze não se sentimos bem com nós mesmos e tá tudo bem se sentir assim ’’.
 

O papel do feminismo com a gordofobia

Segundo Izabel Gimenez, ''ao entrar em contato com o feminismo a gente começa a entender a importância de ter nossos direitos e que temos a possibilidade de fazer mudanças na sociedade, logo isso traz uma sensação de força. Eu também comecei a entender que outras mulheres se sentiam insatisfeitas com várias das coisas que eu também sentia e é essa sensação de pertencimento e de ouvir outras mulheres passando pelo mesmo que você vai se libertando dos padrões  e consequentemente se aceitando''.
 

E Dietland retrata justamente essa a jornada do ódio ao corpo à autoaceitação da personagem Plum. Com o passar dos eposidios da série  e ao entrar em contato com o feminismo, Plum percebe que mesmo as mulheres "perfeitas", as que se encaixam em todos os padrões de beleza  são maltratadas e julgadas por um pressão estética. O raciocínio dela é de que a vida inteira, ela trabalhou para tentar ser mais atraente para sociedade e não para ela mesma.


 

Mylla Murta engenheira e influencer do instagram @myllamurta que fala sobre autoconhecimento e relacionamento pessoal, diz que: "o Feminismo prega a liberdade feminina, de escolha, de ser quem quiser ser sem estereótipos e por isso mostra para a mulher que ela é livre para ser o SEU PRÓPRIO PADRÃO. A mulher que precisa ser aceita ela luta para ter um corpo que é considerado padrão de beleza, para se sentir atraída pelos homens e pessoas de modo geral. Nessa busca ela acaba se submetendo a tratamentos e comportamentos que acabam limitando a mulher apenas pelo corpo que ela construiu’’.
 

Indústria da beleza 

Conforme diz Mylla Murta, "na indústria da beleza a moda é ditada, é o que é definido como tendência e isso leva várias mulheres a buscarem se encaixar em padrões estéticos. Só que muitas vezes aquele formato só atende um determinado tipo de corpo. E para atingir isso as mulheres começam a lutar contra a sua realidade, a sua genética para se enquadrarem nesse padrão ditado pela moda. A falta de representatividade faz a mulher achar que ela é um patinho feio, ou que há algo de errado com o corpo dela.’’
 

Um estudo realizado pelo Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio, Universidade Veiga de Almeida e a marca Dove mostrou que, no Brasil, 71% das mulheres se sentem pressionadas para serem perfeitas. Além disso, oito em cada dez das 4 mil mulheres entrevistadas, entre 18 e 64 anos, já evitaram um compromisso social por não se sentirem bem com o próprio corpo. A pesquisa mostrou ainda que 82% revelaram que gostariam de ver outros perfis de mulheres em campanhas, abrangendo etnias e faixas etárias, porque isso influencia. 
 

Segundo Izabel Gimenez, "sem dúvidas a indústria da beleza influencia que as mulheres tentem cada vez mais seguir padrões estéticos,mas a verdade é que ela tem tentado ser mais diversificada. Porém acredito que precisa sair do papel então tem que parar de só chamar influenciadora ou modelo gorda para fazer uma campanha, mas sim representar elas em todas. Além de começar realmente a entender as necessidades delas e querer produzir produtos para gordas também.'' Principalmente na moda como criar roupas estilosas para linhas plus size. Para isso tem que conversar diretamente com elas para que sejam realmente vistas como clientes."
 

Logo dietland faz uma crítica de como a sociedade influencia pessoas fora dos ‘’padrões’’ a emagrecer, por meio da história de Plum, nos mostra o quanto somos levadas a nos esquivar de nossos sentimentos e encarar os problemas do mundo como problemas nossos, internalizando o auto-ódio que a sociedade propaga. Por isso toda a jornada de ódio ao corpo até a autoaceitação da personagem,não significa que vida dela tenha se resolvido, muito pelo contrário a revolução não acontece apenas internamente. Não são sentimentos e auto-estima que mudam o mundo. A mensagem que a série quer passar é que  não é só por meio de conquistas individuais que as mulheres vão conseguir libertar a sociedade dos padrões estéticos e é por meio de união das mulheres numa revolução para conseguir mudar isso. E é importante existir trabalhos como Dietland colocando em discussão essa padronização de corpo e beleza, deixando em evidência o lugar social do corpo gordo feminino, todo estigma nele existente e a resistência dessas mulheres para serem aceitas e respeitadas com dignidade em nossa sociedade.


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