As transmissões ao vivo, as chamadas "streams", são uma febre mundial. Temos transmissões de todos os tipos, desde jogos como League of Legends e Fortnite até bate-papos e shows. Não demorou para um dos maiores hobbys do mundo, o RPG, entrar na onda das streams. O canal oficial de Dungeons & Dragons possui mais de 47 mil seguidores na Twitch e transmite mesas, bate-papo e anúncios da marca semanalmente. É claro que o Brasil não ficou de fora. Rafael “Xis” Martins de 33 anos é “streamer” na Twitch, além de ter seu canal no Youtube onde suas lives são postadas e podem ser assistidas a qualquer momento.
Em um jogo de RPG, um grupo de amigos se reúne para contar uma história. Os integrantes são divididos em duas funções: o mestre ou narrador, responsável por narrar os eventos que acontecem ao redor dos personagens, e os jogadores, que são os protagonistas da história e irão interpretar e interagir com o mundo e viver grandes aventuras.
João Martinez: - Quando começou a jogar RPG?
Xis: Aos 8 anos de idade comecei a jogar RPG, através, primeiro, de um board game chamado Hero Quest e logo em seguida com o AD&D - First Quest incompleto. Foi juntando os dois, misturando e inventando, que fui narrando RPG pra meus amigos na rua de 14 a 16 anos.
João Martinez: Quando passou de jogador para mestre de RPG?
João Martinez: Como começou a streamar?
Xis: Comecei a stremar RPG depois de ter jogado com um grupo de Curitiba chamado "Dragões do Sol Negro", com um cara sensacional que se chamava Fernando "Mnar", eu joguei com o grupo pagando por uma mesa online, depois me disponibilizei pra mestrar pra eles, começamos uma campanha. Mais tarde fui chamado pra ajudar o Mnar numa outra mesa dele, enquanto ele lutava contra o câncer. Fica minha homenagem ao Fernando, um cara incrível e a Rayssa que deu continuidade por um bom tempo ao grupo. Então criei meu próprio canal e comecei minhas aventuras.
João Martinez: Existe muita diferença entre mestrar em stream e fora dela?
Xis: Muitas diferenças, o presencial e o online são únicos, tem seus pontos positivos e negativos. No presencial tem a "bagunça", juntar os amigos e amigas, conversar à vontade, pedir algo pra comer juntos e geralmente cansa menos, mas acho a preparação mais intensa se você se dispõe a algo mais "grandioso" com props, miniaturas, maquetes, tem o deslocamento das pessoas, as agendas ficam ainda mais apertadas. No online é tudo muito mais rápido, ainda há trabalho pra preparar, mas geralmente a preparação é mais simples, mesmo com coisas mais aprofundadas, as ferramentas ajudam bastante, algumas já vem com livros e aventuras prontas, as agendas são mais flexíveis, já que ligar o PC é bem mais simples do que pegar um transporte, mas tudo tem que ser mais organizado, geralmente cansa mais por isso, não dá pra todos falarem juntos e as pessoas tem que ser compromissadas e entender que estão ali pra jogar, pois é muito mais fácil dispersar e perder o ritmo de um jogo dando aquela olhadinha em redes sociais logo na outra aba. Aprende a gostar de ambas as formas de jogar RPG.
João Martinez: Uma das principais características das streams é a interação com o público através do chat. Como é a participação dele nos RPGs? Ele pode influenciar de alguma maneira?
Xis: O público faz tudo se tornar único, é como uma plateia num teatro, você "vê" as reações imediatamente, tem torcida pra dar certo, tem torcida pra falhar, tem gente que acaba adotando os personagens e incentivando romances, quase como numa série, e no caso do RPG online, dá pra incentivar direto pro jogador, falando direto com as pessoas que estão na mesa naquele momento. Óbvio que canais menores tem mais interatividade e mais possibilidades. Com 3000 ou 5000 pessoas fica quase impossível essa interação mais direta. Além da participação através de chats, alguns canais como o meu tem lojas virtuais com moedas fictícias que são ganhas conforme você vai assistindo seu(sua) streamer favorito(a), e aí os itens dependem da criatividade do streamer: bônus nas rolagens de dados, criar o nome do próximo personagem que aparece ou desafiar a mestre de jogo a fazer algo único no jogo são alguns exemplos.
João Martinez: Aqui no Brasil, o público consome bastante conteúdo de RPG em transmissões ao vivo?
Xis: No Brasil o uso de sites de streams tem crescido muito e o RPG tem uma fatia bem interessante, tomando cada vez mais espaço, mas sim, temos muitas possibilidades de crescer ainda mais.
João Martinez: Você consegue saber qual é o perfil do seu público?
Xis: Meu público tem uma faixa etária de 18 a 45 anos e a maioria de homens, no entanto buscamos sempre trazer um local seguro para todas as minorias, o que vem transformando o número e deixando mais diverso e isso me deixa muito feliz, segurança, respeito e consciência de todos.
João Pedro: O público de RPG tem se renovado?
Xis: Sim, o público de RPG tem se renovado e muitos estão conhecendo RPG primeiro pelas streams e depois pros livros mais clássicos, então a circulação da informação tem sido mais rápida e tem se apresentado mais aberta. O RPG ainda é um jogo muito elitista, mas muito tem sido feito para que seja mais aberto e mais conhecido para o público geral, e as streams são uma grande ferramenta pra isso.
João Martinez: Você transmite outros jogos em seu canal ou é 100% focado em RPG?
Xis: No meu canal, mais da metade das streams semanais são de RPG, e são as que atualmente trazem mais público, com certeza a interação e história que vão se construindo atraem muito a atenção.
João Martinez: Caso uma pessoa queira começar a jogar RPG, ver streams é uma boa forma de aprender?
REFERÊNCIAS
MONTOVANI, Igor. “O que é streaming: tecnologia por trás da Netflix, Youtube e Twitch”; MKT Esports. Disponível em: <https://mktesports.com.br/blog/stream/o-que-e-streaming/>. Acesso em 10 de agosto de 2020.
PUIATI, Julio. “O que é streaming? Veja significado e streamers famosos de jogos”; TechTudo, 2019. Disponível em: <https://www.techtudo.com.br/noticias/2019/10/o-que-e-streaming-veja-significado-e-streamers-famosos-de-jogos-esports.ghtml>.Acesso em 10 de agosto de 2020.